22 de maio de 2018

Guia de El Calafate, principal destino da Patagônia Argentina

Visitar El Calafate, no lado argentino da Patagônia foi uma das experiências mais surreais da minha vida. Parece exagero, mas, bi, pude vivenciar situações que eu só via em documentário do NatGeo ou Discovery Channel, sabe?

Mostrando meu orgulho gay com a bandeira LGBT em El Calafate

Mostrando meu orgulho gay com a bandeira LGBT em El Calafate – Foto: Jurriaan Teulings

Minha última visita à Argentina aconteceu em agosto do ano passado a convite do órgão de turismo do país para participar da GNetwork360, um evento que reúne gente do mundo inteiro debatendo turismo LGBT. Depois do evento, mas ainda como parte da programação, eu e mais vários gringos fomos levados para uma viagem a El Calafate, uma cidadezinha minúscula e muito acolhedora conhecida por “terra dos glaciares” e que está se posicionando abertamente para gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans.

Chegar lá já foi surreal. O avião da Aerolíneas Argentinas que saiu de Buenos Aires com o grupo fez um pouso em uma terra completamente diferente das que estou acostumado. A paisagem era uma das mais intocadas que eu já vi perto de aeroportos e o tom que vinha do céu se misturando com as cores da terra tornaram esse momento mais mágico.

Chegando no aeroporto de El Calafate

Chegando no aeroporto de El Calafate

O grupo foi dividido em vários hotéis e eu dei sorte de ficar no mais distante do centro da cidade. Sorte? Sim! Eu perdi a oportunidade de poder caminhar mais tranquilamente pela rua principal a hora que quisesse, mas ganhei na vista. O Hotel Alto Calafate fica no topo do morro e tem vista para toda El Calafate e, ao fundo, o Lago Argentino.

É a coisa mais linda. Esse foi o primeiro tiro estilo Jojo Toddynho. O hotel é maravilhoso e merece um post só pra ele, mas adianto que é 4 estrelas, tem um estilo mais rústico e que eu adoro, além de funcionários do Vale. 🙂

Vista básica do Hotel Alto Calafate, em El Calafate, na Patagônia Argentina

Vista básica do Hotel Alto Calafate, em El Calafate, na Patagônia Argentina

Na primeira noite, os nosso sonhos anfitriões foram os responsáveis pelo turismo de El Calafate para uma apresentação geral no Hotel Posada Los Alamos sobre o que eles têm feito e quais as expectativas para os turistas LGBT+.

Claro que eles já recebem muitos LGBT+, como qualquer cidade turística do mundo, afinal, a gente viaja, né, bi? Mas, agora, eles estão trabalhando em conjunto com a Câmara de Comércio LGBT da Argentina para capacitar e preparar toda cadeia do setor para receber ainda melhor as bi tudo.

Mas tenho que dizer que o povo lá já é super hospitaleiro. A frieza fica só para os glaciares mesmo. Todo mundo foi bastante simpático durante minha estadia.

O pequeno centro de El Calafate é a coisa mais fofa, com lojinhas, restaurantes

O pequeno centro de El Calafate é a coisa mais fofa, com lojinhas, restaurantes

Em um dos dias em que consegui dar uma volta pela cidade com minha amiga Meg Cale, paramos em uma sorveteria para experimentar o sorvete e o chocolate deles (bem bom) e me recordo da simpatia da atendente. A guia no passeio de barco, o pessoal no hotel, todo mundo sempre muito amável.

Nesses dias, experimentamos restaurantes ótimos e com muita comida muito boa. O Salix Resto (Paseo Kirchner 2100-2298) é bem perto de um dos hotéis do grupo e tem todas as mesas em um mesmo salão. Não sou muito bom para avaliar gastronomia, mas tava tudo delicioso e ele é #1 no ranking de restaurantes de comidas locais no Trip Advisor. Pelas minhas pesquisas, parece que ele foi recentemente fechado. 🙁

Salix Resto (esquerda) e Restaurante El Ovejero (centro e direita), em El Calafate

Salix Resto (esquerda) e Restaurante El Ovejero (centro e direita), em El Calafate

Outro legal é o Restaurante El Ovejero (José Pantin 64) que é super aconchegante, um tanto romântico e também está na lista de melhores churrascarias da cidade no Trip Advisor. A única coisa que destoa, mas que pode ser interessante pela nossa falta de costume, é o cordeiro que está esticado no espeto à vista de todo mundo no salão central. É um tanto bizarro mas interessante pela proposta culinária da região.

El Calafate é bem turística, pequena e formada basicamente por uma única rua, toda fofa e com várias lojas de souvenirs (indico a Arte Indio que fica no número 1108). Nela, ficam muitos dos restaurantes e bares, inclusive os diferentões, como o Yety Ice Bar, um bar todo feito de gelo, do “sofá” até os copos.

Charlie, Meg e eu no Yety Ice Bar, o bar de gelo de El Calafate

Charlie, Meg e eu no Yety Ice Bar, o bar de gelo de El Calafate

Eu já fui em um bar de gelo, em Londres, em 2010. Mas foram experiências distintas. Dessa vez, estava na terra dos glaciares, então até “Abominável Homem das Neves” tinha. E nosso grupo, bastante maduro (eu incluso) simulou blowjobs e sentadas no colo dele para fotos e Stories. “Isso é muito adulto”, diria Pepa Pig.

Agora, o que vai te fazer pirar o cabeção são os tours para os glaciares. Mana, que coisa maravilhosa. Eu fiz dois. O primeiro foi uma navegação no lago para ver o Glaciar Upsala. Me lembro da emoção de ver pequenos icebergs passando ao lado do barco a primeira vez. Aquele bloco de gelo azul… A cor gerou explicação dúbia, aliás, pois podia ser porque a parte de baixo ficava em contato com a água que, por suas propriedades, ficava azul, ou a explicação simples e lógica: jogo de luzes.

Ilusão de ótica em El Calafate: na navegação até o Glaciar Upsala, um iceberg azul e o bloco de gelo transparente

Ilusão de ótica em El Calafate: na navegação até o Glaciar Upsala, um iceberg azul e o bloco de gelo transparente

É uma explicação menos interessante, mas deve ser a mais real. Até porque em dado momento, a equipe da Marpatag Cruceros, que estava levando a gente, tirou um pequeno da água e pudemos fazer fotos segurando o bloco gelado.

O atendimento no barco foi excelente e a comida estava muito boa. Pena que não ficou no estômago de muita gente. Estava ventando muito e, logo ao entrar no barco, a Meg me ofereceu um remédio que ela também tomou, tipo Dramin, só que mais natural, para evitar o enjoo.

Concentrado dentro do barco durante navegação até o Glaciar Upsala - Foto: Gustavo Noguera

Concentrado dentro do barco durante navegação até o Glaciar Upsala – Foto: Gustavo Noguera

Mas não adiantou muita coisa não. As águas do lago estavam tão revoltas que, da janela do barco, hora eu via só céu, hora eu só via água. Às vezes, as cadeiras chegavam a andar pra lá e pra cá com o balanço.

O Duane Wells estava belíssima e pleníssima ao meu lado, mas eu vomitei algumas vezes na privada do banheiro do barco, mas não fui o único não. Boa parte das pessoas ficaram enjoadas e algumas passaram muito muito mal.

Divando em El Calafate com a bandeira LGBT e a da Argentina - Foto: Gustavo Noguera

Divando em El Calafate com a bandeira LGBT e a da Argentina – Foto: Gustavo Noguera

Descobrimos, depois, que normalmente os capitães não encaram as águas do lago quando está ventando daquele jeito. Tanto que, no meio do caminho, tivemos que abortar a visita a um segundo glaciar. Isso teria me deixado frustrado, em outras situações, mas eu dei graças ao Universo, porque olha…

Mas o passeio valeu super a pena. Deu pra fazer parada numa praia com icebergs e conhecer a história dos locais. Mas isso fica pra outro post. Ver um iceberg assim pertinho, tocar nele, foi meio surreal.

Praia com icebergs do tamanho do barco no Lago Argentino, em El Calafate

Praia com icebergs do tamanho do barco no Lago Argentino, em El Calafate

Mas ainda mais surreal foi nosso segundo tour a um glaciar, em outro ponto da região, acessível de carro. Ao me deparar a primeira vez com o famoso glaciar Perito Moreno, fiquei estupefato.

Você chega de uma escada alta e ele surge por entre as árvores, se estendendo por muitos e muitos metros, até se perder de vista, se juntando com o horizonte no céu branco que estava aquele dia. Não dava pra saber onde acabava o glaciar e começava o céu.

A sensação, dele visto de cima, é de que eu tava chegando no labirinto do Torneio Tribruxo de Harry Potter e o Cálice de Fogo, sabe? Só que ele era feito de gelo. Em outros períodos do ano, é possível fazer um trekking por cima do glaciar. Deve ser animal, quero voltar pra fazer isso, com certeza.

A chegada no Perito Moreno dá impressão de que esse é o labirinto do Torneio Tribuxo do Harry Potter em El Calafate

A chegada no Perito Moreno dá impressão de que esse é o labirinto do Torneio Tribuxo do Harry Potter em El Calafate

Mas, ainda em terra firme, ao caminhar pelas passarelas, você se aproxima, se afasta, fica mais pra cima ou mais pra baixo e vê o Perito Moreno de vários ângulos. Quando você dá sorte e ouve um pedaço de gelo quebrando, é emocionante o barulho. Juro!

Eu só ouvi porque as vezes que aconteceu (e acontece com certa frequência), estava atras de uma árvore ou algo assim, então não vi acontecer.

Depois eu conto com mais detalhes, mas esse glaciar é um dos poucos que não está derretendo, ele continua em expansão, avançando contra o continente.

Casais e amigos no Perito Moreno, em El Calafate

Casais e amigos no Perito Moreno, em El Calafate

Quando ele chega à terra firme, deixa um dos lagos do lado represado. Com o tempo e a pressão, a água começa a abrir espaço por baixo dele, e vai aumentando até formar uma ponte de gelo conectando o glaciar e a terra. Quando a ponte fica muito fina, ela colapsa e começa tudo de novo. O processo todo leva uns 4 anos.

A visita ao Perito Moreno foi outro momento surreal da viagem a El Calafate. Nós também entramos em um catamarã pra chegar mais perto do glaciar e ver o gigante de baixo. É impressionante. Sério, foi sensacional!

Outro momento mágico foi na hora de ir embora. Estávamos Billy Kolber e Matt Skallerud aguardando nosso transfer para o aeroporto no hotel quando começou a nevar, e forte. Eu já tinha visto neve. Mas caindo tanta e tão forte assim, só uma vez, quando levei meu pai para conhecer a Alemanha, na cidade de Nellmersbach, perto de Stuttgart, em um mochilão que chamamos de “Dando a Volta na Tcheca“.

Antes de pegar o voo de volta, uma nevasca básica em El Calafate

Antes de pegar o voo de volta, uma nevasca básica em El Calafate

Foi mágico? Foi. Mas, ao mesmo tempo, tive certeza que cancelariam nosso voo, o que acabou não acontecendo porque a neve parou pouco tempo depois e voltamos lindos e contentes para Buenos Aires.

Esse foi um resumo da minha viagem a El Calafate, uma viagem muito especial que ficará pra sempre na minha memória e nas amizades que surgiram dela. Conheci muita gente sensacional.

Os ursos no Perito Moreno, em El Calafate - Foto: Gustavo Noguera

Os ursos no Perito Moreno, em El Calafate – Foto: Gustavo Noguera

Você já foi pra El Calafate ou outra região da Patagônia? Gostou tanto quanto eu ou não? Conte como foi na caixa de comentários aí embaixo.

 

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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