Mendoza, a capital do vinho na Argentina 🍷
Depois de pular muito Carnaval, curtindo os blocos de rua gays de São Paulo, arrumei minha mala e parti para Mendoza, a capital do vinho na Argentina, a convite do governo local, para vivenciar um pouco do clima da Festa da Vendímia, o principal evento turístico da região, que celebra a época de colheita de uva. 🍇 Mendoza é a cidade e estado e muito do que conheci nessa viagem foi fora da capital.
Por conta do meu trabalho, não pude viajar na data que seria ideal para cumprir a programação preparada para o primeiro dia. Perdi, portanto, a visita a Potrerillos, um dos lugares que eu mais queria conhecer. Uma pena! Se liga nas fotos do lugar nesse link. É de babar, né? 😭 O almoço seria no Gran Hotel Potrerillos e, só de ver as fotos, fiquei com vontade de ficar pelo menos um fim de semana por lá. 🙂
Ao chegar, fui recebido no aeroporto e levado até o hotel babadeiro onde eu fiquei hospedado durante minha estadia, o Sheraton Mendoza Hotel, que fica super bem localizado. Depois, vou preparar um review dele pra vocês conhecerem melhor.
A programação que o escritório de turismo preparou, se dividiu, principalmente, em 3 partes: vinho🍷, comidas🍲 e mais vinho🍷! Nunca tomei tanto vinho na vida🍷😵🍷😵🍷😵. E não achei ruim não. Eles vinham permeados de ótimas comidas. Voltei pro Brasil com um paladar mais apurado… e com um vinho na mala. 😛
Onde comer em Mendoza e arredores 🍲
Mas não foi só de vinho que se fez a viagem. Comi muito também, e muita comida boa! Depois conto tudo com mais detalhes, mas pra dar uma ideia do que comi por lá, segue um resumão.
O primeiro lugar que conheci foi a Cantina Las Patricias, que tem o cardápio baseado nas comidas tradicionais argentinas, a comida crioula. Tivemos uma degustação de várias entradas diferentes, versões petit e gourmet de pratos principais e uma sobremesa deliciosa.
Outro lugar em que almocei, e que foi um dos meus favoritos, foi no restaurante da Pousada Salentein. A salada estava super saborosa e bem diversificada e a carne foi a melhor que comi em Mendoza. Esplêndida! Bafônica! Lacradora! 🙂 A pousada é bem exclusiva, só tem 16 quartos e uma vista linda para os vinhedos, num ambiente bem relax.
Também jantei no restaurante do hotel boutique Huentala, da mesma rede do Sheraton e com acesso interno entre os dois hotéis. O salão onde foi servido o jantar era todo simetricamente decorado em estilo retrô contemporâneo. Sabe aquela coisa que nem sei explicar? Tipo isso! 🙂 Tinham peças mais descoladas, mas em um ambiente mais clássico. No menu, destaque para o crepe de moranga (abóbora) assada, que era a entrada. Lacrou!
Um pouco afastado da cidade, na região de Chachingo, com uma comida mais rústica, um ambiente refinado e descolado ao mesmo tempo e um atendimento primoroso, fica a Casa El Enemigo Vigil, do famoso enólogo Alejandro Vigil. Todos os ingredientes servidos no restaurante são produzidos lá mesmo e trazem o toque especial do chef Santiago Maestro.
Outra opção em Mendoza pra jantar é o restaurante do Park Hyatt Mendoza Hotel, Casino & Spa, que é lindo e fica bem em frente à Plaza Independencia. Iniciei o menu da noite com uma empanada ma-ra-vi-lho-sa recheada com carne levemente apimentada. Sentei bem ao lado da grelha, que fica exposta ao público e ainda conferi apresentações de tango e de tradição gaúcha (típica argentina), ao vivo.
Vinícolas (bodegas) e olivícolas pra visitar em Mendoza 🍷
Como já falei, Mendoza é a principal produtora de vinho na Argentina e uma das nove principais do mundo. E nesses dias que passei por lá, pude visitar algumas vinícolas, localmente chamadas de bodegas, que quem gosta de vinho vai amar conhecer. Todas produzem vinhos de alta gama e algumas delas, linhas um pouco mais populares.
As primeiras vinícolas que fui conhecer ficam no Valle de Uco, na região de Tupungato a cerca de 100km da cidade de Mendoza, e produzem vinhos de altitude, com parreiras cultivadas entre 1.000 e 1.600m de altitude em relação ao nível do mar. Isso confere uma qualidade diferente às uvas e que vem dando destaque à região nas duas últimas décadas.
A Bodega Monteviejo faz parte de um grupo de 5 bodegas de 7 sócios franceses chamado Clos de los Siete e foi a primeira delas a ser inaugurada. Cada uma tem produção própria, mas cede 50% dela para produzir o vinho conjunto, que leva o nome do clã. Das que visitei nessa viagem, a Monteviejo é uma das que tem a paisagem mais bonita e que rende fotos lindas. Lá, é possível fazer visita e provar um menu degustação dos vinhos da casa. Agora, no dia 15 de abril, a vinícola promove o festival Wine Rock 2017.
Não muito longe de lá, fica a Bodega Salentein, a pioneira no Valle de Uco. O criador dessa vinícola olhou praquele monte de nada há cerca de 20 anos e resolveu comprar pencas de hectares. Foi tido como louco por inaugurar a região que se tornou a nova estrela da produção vinícola da Argentina. Hoje, além da bodega, que tem uma cava inspirada em uma igreja com um piano no centro (no qual mostrei minhas habilidades tocando a emocionante Dó-Ré-Mi-Fá), eles ainda têm um museu e a pousada que comentei há pouco, com o restaurante maravilhoso.
Fugindo um pouco (mas não tanto) da produção de vinho, fui também conhecer a Olivícola Laur e Acetaia Milán, que produz azeites de diversos tipos e estão importando de Modena, na Itália, o conceito de aceto balsâmico, mas com o toque argentino. Estão, inclusive, barganhando alterações nas leis nacionais, que não contemplam e autorizam os métodos de produção corretos do aceto balsâmico, por desconhecimento mesmo.
Adorei a visita e conhecer um sabor totalmente diferente do balsâmico aguado que conhecemos. A Laur também faz parte do pool de empresas do supermercado Atomo, que também tem bodegas e produção de alimentos para silíacos, entre outros.
Na Casa El Enemigo Vigil, que também já mencionei, fica a Bodega El Enemigo, inspirada na Divina Comédia, de Dante Alighieri, tendo, na cava, o inferno e purgatório e na área do restaurante, o céu. Lá também fica o Museu Killka.
Mendoza Gay 🏳️🌈
Mendoza, assim como Buenos Aires, Rosário e Bariloche, que são as cidades que já visitei no país, me pareceu super gay-friendly.
A Argentina como um todo recebe muito bem o turista LGBT em todos os ambientes, por isso, inclusive, está ocorrendo uma diminuição de lugares exclusivamente LGBT, pois somos aceitos em todos os cantos.
Mas, ainda assim, consegui mapear alguns points onde as bis se encontram. O pub La Reserva fica a um quarteirão e meio do Sheraton Mendoza Hotel, dá pra ir a pé bem tranquilo. É um pequeno, que também dá pra dançar e, por ser mais central, tem um público LGBT mais misturado.
A balada que reúne mais meninos gays é a Queens Disco e a dona de lá é a La Turca, apelido de uma mulher trans super famosa por lá. Mas faça a Angélica e vá de táxi, porque a região é bem perigosa pelo que TODO MUNDO me alertou. Ah! O Uber ainda não chegou lá, então apele pro método antigo de esticar a mão, mas eles estão em processo de formar frota, pelo que fiquei sabendo por um local que conheci pelo Grindr.
Outro point é a Estación Miro, um bar que tem maior frequência de travestis e transexuais. Esse fica um pouco mais afastado do centro.
Essas foram as indicações que recebi dos locais, mas fiz uma busca e encontrei mais dois lugares! 🙂 o Espacio 348 é um pub gay-friendly com decoração oriental com festas chamadas Club Zen e a Casa 3 é pub e restaurante gay-friendly com DJs e boa comida.
Não conheci nenhum deles porque a programação deu uma cansada e eu ainda tô com um pouco do jetleg da África ( veja como foi a viagem pra Namíbia), que não foi abrandado pelo intenso Carnaval de SP. Ou seja, desculpas de velho que tava podre. 😛
Mas o seu velho guerreiro aqui ainda tentou sair no sábado à noite para o La Reserva, mas lembra que já comentei que na Argentina os boliches (baladas) começam bem mais tarde? Nunca antes de 1h da manhã e só às 2h começa a animar mesmo e encher. Saí pro fervo já eram quase 3h da matina, mas aí a balada estava cheia, no esquema sai-um-entra-um. Esperei um pouco, tentei buscar uma forma de ir pra Queens (aí que descobri que ainda não tem Uber e Cabify por lá) e acabei vencido pelo cansaço, voltei pro Sheraton e dormi lindamente.
Talvez por ter mais chances de conhecer outras pessoas ao vivo, fora do gueto, os apps de pegação, como Grindr e Hornet, não tinham tantas opções de boy por perto. Pouco em termos, tem bastante, gente, mas aqueles poucos mais próximos não alternavam muito. Maaaas, tenho que dizer que tem uns boys magyah disfarçados de prédios e outras figuras abstratas nas fotos de perfil. Boa caça, mana! 🙂
A cidade é tão gay-friendly que a Festa da Vendímia, a principal celebração de Mendoza, tem sua versão gay uma semana depois. A festa Vendimia Gay – Vendimia Para Todos rolou no último sábado, dia 11 (acompanhei ao vivo pelo Twitter, sim, eu ainda gosto do Twitter mesmo ele tendo morrido) e contou com tanta divulgação por parte dos órgãos de turismo quanto a festa oficial, guardadas as devidas proporções, claro.
Tanto que a Vendimia Gay foi declarada, em 2013, como interesse turístico e cultural pelo Governo do Estado de Mendoza e participou do desfilo Via Blanca de las Reinas, desfile que passa por uma arquibancada com grandes autoridades, como o governador de Mendoza, Alfredo Cornejo, e a vice-governadora, Laura Montero.
Em 2016, o Rei e a Rainha da Vendimia Gay desfilaram lá em carro conversível dos anos 60, e esse ano, além de abrir o desfile, trouxeram um cavalo branco de 4m de altura com um boy magyah seminu montado nele, puxando um mega carro, todo cheio de luzes, globos espelhados, cores e gladiadores, também seminus, junto com o Rei, a Rainha e todos os concorrentes ao posto desse ano. Tudo isso ao sim de Vogue, da Madonna, e em frente às autoridades. Chupa, Brasil!
Fiquei entusiasmado com a naturalidade com que todos lidam com o tema. No Brasil, isso em um desfile tão tradicional seria um tapa na cara da sociedade e da “família tradicional brasileira” (entre aspas mesmo). Em Mendoza, foi só um carro a mais no desfile e que foi anunciado como o destaque da noite e o abre-alas. Tá, meu bem?
Festa da Vendímia, a maior celebração de Mendoza
E já que estamos falando sobre os eventos tradicionais, a Festa da Vendímia completou em 2017, sua 81ª edição. Começou como festa popular, oficializada em 1936 pelo governo e que hoje une a elite e a cultura popular.
Os eventos são muitos e duram alguns meses, mas a principal semana foi essa que estive lá. Na sexta, o festejo começa com a Bendición de los Frutos (Bênção dos Frutos) , no último domingo de fevereiro, onde agradecem a Deus pelos frutos, com presença de autoridades e fazem o ritual, não mais dentro da bodega, mas como festejo oficial.
Depois vem o desfile Via Blanca de las Reinas, no qual cada cidade concorrente, apresenta sua atual rainha e todas as concorrentes daquela cidade nesse ano. As cidades escolhem a sua Rainha, que vai pra festa principal, que já explico melhor.
O desfile é o máximo, pois além de ficarem em cima do carro acenando para o povo que se aglomera nas ruas, elas jogam para o público frutas que seja tradicionais de lá, como uvas, maçãs e até melões. Sim, acredite, eu vi com meus próprios olhos as arremessando melões para o público.Tem vinho também que algumas cidades distribuem. É bizarro, hilário e o máximo! Amay! ❤️️
O convite me deu acesso ao balcão do órgão de turismo, com visão privilegiada, e à rua, onde eu fiquei de fato, porque sou bagaceira e porque era melhor pra fotografar. 📷
No sábado à tarde, rola o Carrusel de las Reinas (Carrossel), que é quase o mesmo desfile, mas com mais tradições folclóricas e cultura gaúcha. Nesse mesmo dia, à noite, aconteceria o grandioso Ato Central (Acto Central), também conhecido pelo nome genérico Festa da Vendímia, no teatro grego Frank Romero Day, em meio às montanhas, para cerca de 30 mil pessoas. Imagina um Criança Esperança muito maior… 😛 No domingo e na segunda, eles fazem “reprises”, outras seções do mesmo espetáculo, para cerca de 25 mil pessoas cada dia.
Nesse evento principal, é escolhida a Rainha Nacional da Vendímia, entre todas as participantes, por voto de júri técnico e artístico (e esse ano, teve voto popular também). Ela é quem viaja mundo afora para feiras e congressos, representando a Argentina como um todo e Mendoza, claro. Então, vai além de um concurso de beleza. E tudo termina com uma queima de fogos! 🎆
Mas eu não consegui ver a festa! 😭 Uns poucos dias antes, nos ensaios gerais, uma grua caiu em cima do palco e destruiu uma parte do cenário. Os bailarinos ficaram com receio e o palco foi um pouco modificado para aumentar a segurança e também deixar tudo em ordem para a festa, que aconteceu no dia seguinte. Eles arrumaram tudo isso, atrasando a festa em um só dia! Achei bapho! As reprises ficaram pra segunda e terça.
Por vários motivos, não foi possível alterar os voos de volta, então eu estava no ar, voltando pra São Paulo, enquanto o fuzuê nacional estava rolando e sendo transmitido via Internet. 🙁 Foi uma pena, pois essa foi a principal razão de me chamarem pra ir pra lá e era o ponto alto, que eu estava mais ansioso pra ver ao vivo.
Mas há uma luz no fim do túnel. Eles já renovaram o convite, pra que eu volte em 2018, e dessa vez pra conferir a Festa da Vendimia e a Vendimia Gay! Já comecei a contar os dias. ⏳
Obrigado, Mendoza, foi lindo! 💖🍷💖🍇💖
O blogueiro viajou a convite do Ente de Turismo de Mendoza e Inprotur. Também participaram da viagem: Comer. Dormir. Viajar. (Brasil), Pamela Casanova Sommelier (México) e Nirvino (Chile).
2 Comentários
Jeff
Bi, definitivamente amei sua matéria sobre Mendoza e confesso que sou apaixonado pela terras argentinas. O seu texto me deu aquele gostinho de viajar de volta para nossas terras hermanas!
Rafael Leick
Ah, Jeff, valeu pelos elogios e pelo comentário. Eu realmente adorei a Argentina e adoro cada dia mais. Espero voltar muitas vezes.