Homem de saia em Machu Picchu: um dia na montanha sagrada
Quando eu fui convidado para uma viagem de luxo focada no público LGBT+ no Peru, confesso que já comecei a separar alguns looks. O que eu não esperava era aprender, no dia anterior ao passeio para a montanha sagrada, que os incas eram absolutamente friendly e avançados na discussão de gênero e não o distinguiam nas crianças e adolescentes. Todo mundo usava saia e eu também usei. Eu entrei em Machu Picchu como um homem de saia.
Algumas comunidades isoladas nas montanhas peruanas ainda mantém tradições seculares no que diz respeito a vestimentas e outros costumes e eu fiquei curioso para saber mais sobre isso, já que aqui no Brasil, às vezes, meu namorado usa saia e as pessoas ainda se surpreendem muito com um homem de saia, coisa que eu não senti em nenhuma parte do longo caminho até o parque de Machu Picchu.
O “choque” (ou não) por ser um homem de saia
Logo na estação de trem de Ollantaytambo, já fui parado por um grupo de vendedores de artesanato que elogiaram a escolha da saia e aprovaram. Ao entregar o ticket para entrar na sala de embarque, mais uma vez fui parado, dessa vez pelo segurança, e já pensei ter feito algo errado, mas era mais um comentário positivo sobre a minha saia.
Nessa hora, minha preocupação já era com a quantidade de gente vendendo repelentes de insetos. Eu me preparei com um óleo essencial de citronela e torcia para que fosse suficiente – não foi, mas depois eu conto sobre isso.
O passeio de trem, que vai ganhar um post todo especial, foi super tranquilo. Muitas fotos na área Premium, que já anunciava um almoço delicioso com a taça de vinho branco servida poucos minutos após a partida da estação.
Confesso que desfilei pelo trem, me sentindo livre e tudo isso tem a ver com a liberdade de estar em um lugar novo. Viagem tem muito disso.
Águas Calientes e o trajeto a Machu Picchu
Cheguei, 2h depois, no povoado de Machu Picchu, que também é conhecida como Águas Calientes ou Machu Picchu Pueblo. O caminho até o ponto de ônibus é basicamente inteiro por dentro de uma feira de artesanato enorme. Os produtos são caros, mas dá vontade de comprar tudo.
A feira termina em uma ponte que atravessa o rio até o local em que devemos aguardar os ônibus que fazem o serviço de transfer até o topo montanha. A outra opção é subir a pé, para o que é sugerido um guia, mas vi muitas pessoas seguindo os caminhos marcados. Depois de aguardar por aproximadamente meia hora na fila, vários ônibus começaram a aparecer e a subida levou mais 25min.
Recomenda-se o uso dos banheiros antes de passar pela portaria do parque nacional onde fica Machu Picchu, já que lá dentro não há sanitários. É uma boa hora para reforçar o repelente, a macumba, a reza ou qualquer que seja a forma como você escolher se defender dos insetos, eles são famintos. Precisei aplicar o óleo de citronela várias vezes mas, ainda assim, fui marcado por eles.
Se optar por outros repelentes, lembre-se de encontrar uma forma de descarte sustentável para as embalagens. No parque há pouquíssimas lixeiras e eu coletei mais de 3 potes de repelente, garrafas e tampas.
Homem de saia em Machu Picchu e a história dos Inca com a peça
Durante todo o caminho por entre as escadas e corredores, andando para cima e para baixo, concluí que eu era o único homem de saia e isso importou muito pouco, quase como se fosse uma mensagem dizendo que tudo bem me expressar e ser verdadeiro comigo mesmo.
Tive a sorte de conhecer a Norma, a guia, uma professora apaixonada pela cultura Inca e absolutamente preparada para tornar minhas 2h na montanha uma aula de História sobre o que é ser humano sob a ótica de um imperador visionário, preciso e cruel do século XV.
Nesse momento é que eu vejo essa experiencia tendo se tornado muito pessoal e marcante. Valeu a pena me perder naquela voz que falava uma mistura de espanhol com português, mas o que eu ouvia era a propriedade impecável com que eu aprendia sobre como várias famílias viviam nas pequenas casas ou sobre como essas casas permaneciam em pé até hoje por um estudo de engenharia tão à frente de seu tempo.
À Norma eu sou grato por ter me inspirado o tesão pela informação. Uma chama.
O retorno a Águas Calientes
O sol começava a baixar a percebi Norma apressando o passo até a saída, sem hesitar parar quando se lembrava de uma ou outra informação, como curiosidades sobre o Templo do Sol, o mais importante da montanha, ou para tirar uma foto junto com a única árvore de Machu Picchu.
Cheguei a saída e, antes de sair, pude carimbar meu passaporte, uma espécie de souvenir gratuito. A fila para pegar o ônibus de volta a Águas Calientes foi mais rápida do que o esperado e, como tínhamos tempo, decidimos buscar por um drink nas ruas apertadas e cheias de informação do povoado.
Mais um passeio pela praça principal, mais fotos e era hora de atravessar a tentação dos artesanatos de volta para a estação de trem. Aquela conferida nos documentos e já estava no trem sendo mimado com um jantar delicioso.
A conclusão é que não importa se for mulher ou homem de saia, de calça, de bermuda ou de burca, Machu Picchu tem espaço para todos que quiserem aprender sobre o passado de conflitos e conquistas que tanto nos ensina sobre de onde viemos, do que somos capazes e que erros já podemos evitar cometer.
Obrigado a Peru Rail, que comemora 20 anos de atividades! Farei um post com detalhes sobre as operações Premium da empresa, incluindo preços.
O ônibus de Águas Calientes a Macchu Picchu custa USD 24 e dá direito a ir e voltar. Caso queira comprar antes da sua viagem, pode comprar aqui. Para entrar no parque o estrangeiro adulto investe mais USD 47. Você pode comprar também um tour completo com excursão de trem saindo de Cusco.
O Viaja Bi! viajou a convite do órgão de turismo do Peru. O bilhete de trem foi uma cortesia da Peru Rail. Todas as opiniões expressas aqui são independentes e refletem a real experiência como turista.
5 Comentários
Carlos
Maravilhoso!!! Povo avançado nos melhores aspectos possíveis!!! Parabéns Peeuuu!!!
LUAN POFFO DE OLIVEIRA
esse peu é um maravilhoso mesmo! inteligente, sensível, transgressor… e como é legal ver machu picchu pelos seus olhos 🙂
Rafael Leick
Ele é incrível <3
Carla Boechat
Adoreiiii!!! Que delícia essa sensação de liberdade.
Já quero uma saia dessa tb haha
Rafael Leick
Eu também. Pedro arrasou. Mas não sei se combina tanto comigo. Tenho que experimentar. Mas as vezes que usei kilt adorei a sensação. 🙂