8 de maio de 2018

Lua de Mel lésbica dos sonhos no Sudeste Asiático

Nunca na minha vida de recém-sapinha no fim dos anos 80 do século passado, que eu iria imaginar que um dia eu teria o “dilema” de ter que escolher onde passar a minha viagem de lua de mel lésbica. Embora não pareça nestes dias sombrios de retrocessos e fundamentalismo religioso, o mundo evoluiu muito para nós, LGBTs, nestas três últimas décadas.

Lua de mel lésbica: templo Angkor Thom, no Camboja - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: templo Angkor Thom, no Camboja – Foto: Marta Dalla Chiesa

Pois então, depois de 25 anos de noivado, em 2017, minha companheira e eu decidimos casar “de papel passado” (tem muita gente, incluindo LGBTs, que ainda não sabe, mas sim, aqui no Brasil pode desde 2013!) e enfim, tive a experiência de planejar aquela viagem (ver blog anterior!) que gera tantas expectativas para ser p-e-r-f-e-i-t-a.

Ao contrário do que a mídia costuma dizer por aí, não é por ser LGBT que sou uma viajante de luxo, mas vamos combinar que todo mundo que pensa em viajar para comemorar um evento tão especial, pensa em hotéis bacanas, jantares românticos e experiências únicas. A maioria dos LGBT brasileiros ainda está muito focada na América do Norte e na Europa nas suas viagens, mas uma viagem com este perfil lá estaria absolutamente fora de nosso orçamento. Então olhamos para outros lados e, por experiência de viagem anterior e recomendação de amigos, acabamos decidindo pela Tailândia e a velha Indochina (Vietnã, Camboja e Laos), no Sudeste Asiático.

Acho que é consenso o apelo exótico, as praias maravilhosas, a cultura milenar, a cozinha espetacular que a Ásia tem, mas talvez os atrativos menos conhecidos para os que não são do turismo ou viajantes experientes é a altíssima qualidade dos produtos turísticos de lá e o excelente custo-benefício. Lá luxo é realmente luxo e você não tem que vender a casa para pagar por isso.  O luxo no Sudeste Asiático é do tipo que me encanta: não no sentido de torneiras-douradas, enormes-arranha-céus e tudo-artificial-estilo-Dubai-luxo (not my thing, mas tem que goste!), mas no sentido de exclusivo (boutique), único, com belo design que não agride a cultura ou a natureza local e com serviço excepcional.

Lua de mel lésbica: hotel SO Sofitel, em Bangkok, luxo na medida certa - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: hotel SO Sofitel, em Bangkok, luxo na medida certa – Foto: Marta Dalla Chiesa

As Ilhas Maurício também vendem mundo afora esta imagem de lugar perfeito de lua de mel de luxo, mas estão entre os países mais homofóbicos do planeta, onde a homossexualidade ainda é crime. Cada um escolhe o seu jeito de viajar, e dinheiro manda, mas o meu Pink Real não vai para lá.

A nossa viagem pela Indochina acabou sendo de quase um mês e bem variada, mas seguem as minhas dicas principais para quem não tem tanto tempo. Quero principalmente compartilhar a nossa experiência de locais que nos fizeram sentir verdadeiramente bem-vindas como um casal lésbico. Aliás, eu também já escrevi aqui o quão surpreendentemente LGBT-friendly a região me parecia na minha pesquisa.

 

BANGKOK (TAILÂNDIA)

Começamos a viagem por Bangkok, capital da Tailândia, por ser o local de mais direto acesso para a região desde o Brasil. Nós já havíamos estado no país há anos atrás, numa viagem que até hoje é uma das nossas favoritas. Mesmo no início dos anos 2000, a Tailândia, talvez por ser um país essencialmente budista, sempre teve um clima de naturalidade, de live-and-let-live com relação à orientação sexual e de gênero. Mas nos quase 20 anos que se passaram desde a nossa última visita, ela definitivamente despontou como o país mais friendly da região. O Ministério do Turismo de lá – que recebe 6x mais turistas que o Brasil – é um dos mais ativos em tentar atrair o público LGBT.

A vida noturna em Bangkok é notória para os meninos, mas a surpresa foi ver um guia online específico para lésbicas também. E o que dizer de um dos formulários de imigração onde havia uma opção não-binária de gênero (que eu NÃO fotografei. Argh!)? Deu dó de nós, Brasil.

Era para ser só um paradinha para ajustar a loucura da diferença de fuso de 10h. Mas como foi bom estar de volta. Templos magníficos (no mínimo visite o complexo do Palácio Real), comida incrível, hotéis espetaculares – a preço de três estrelas de São Paulo – e opções de compras para matar um shopahollicBangkok.

 

Onde ficar em Bangkok:

SO Sofitel Bangkok: uma versão moderna e de alto design contemporâneo do sempre sofisticado Sofitel. O SO atrai um público jovem e descolado de toda a Ásia e mais além, pela ótima localização (todos os apartamentos tem uma vista incrível do Parque Lumpini e do skyline moderno da cidade), por ser ultra-friendly (além de ser da amigável rede AccorHotels, o SO está super envolvido com a comunidade LGBT e é sede de alguns eventos do Pride local) e pelo design maravilhoso: cada andar tem decoração homenageando diferentes elementos naturais, e cada categoria de suíte foi criação de um arquiteto famoso local. Credencial G.A.Y. adicional? Monsieur Lacroix fez toda a decoração de interiores e desenhou os uniformes dos lindíssimos funcionários.

Lua de mel lésbica: vista do quarto do hotel SO Sofitel, em Bangkok - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: vista do quarto do hotel SO Sofitel, em Bangkok – Foto: Marta Dalla Chiesa

E nos receberam assim ☺

Lua de mel lésbica: amenities Hers & Hers do hotel SO Sofitel - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: amenities Hers & Hers do hotel SO Sofitel – Foto: Marta Dalla Chiesa

 

CAMBOJA

A próxima parada foi o Camboja, que fica há um curto voo de pouco mais de uma hora de Bangkok. Nós fomos tão agradavelmente surpreendidas com a capital, Phnom Penh, que eu escrevi só sobre ela na minha última coluna. “PP” é uma das cidades mais “IN” da Ásia no momento.

Lua de mel lésbica: TUK TUK Drag Race Phnom Penh Pride - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: TUK TUK Drag Race Phnom Penh Pride – Foto: Marta Dalla Chiesa

A parte mais visitada do Camboja e a razão que 99% dos turistas vêm até este pequeno país que já foi invadido por tudo e todos, são os famosos templos de Angkor ao redor da cidade de Siem Reap. Na verdade, o complexo de Angkor, Patrimônio Histórico da Humanidade, é um parque arqueológico enorme, espalhado numa área de 400km² com centenas de templos.

Originalmente hindu, ao longo dos anos teve também construções budistas. É considerada a maior cidade pré-industrial do mundo: naquela época, mais de 1100 anos atrás, a região já era habitada por quase dois milhões de pessoas (em perspectiva, Londres tinha umas 10 mil pessoas). Foi o centro do Reino Khmer por séculos, até ele se mudar para a parte sul, quando o budismo tomou conta do país.

Lua de mel lésbica: Bayon Temple, no Camboja, em 1 das 216 faces de Buda - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: Bayon Temple, no Camboja, em 1 das 216 faces de Buda – Foto: Marta Dalla Chiesa

Os templos de Angkor Wat, Angkor Thom (familiar para quem é fã de Lara Croft) e Bayon, com suas 216 faces de Buda, são absolutamente magníficos mas, devido à sua importância histórica e religiosa (é o segundo local mais sagrado para os hindus), é visitado EM MASSA. Milhares de pessoas por dia. Para uma experiência melhor, tente visitar na baixa temporada. Apesar do calor e umidade massacrante, em abril e maio tem menos gente e contratar um bom guia é essencial para saber como evitar a multidão.

Siem Reap, a cidade base para visitar Angkor, tem muito mais que os templos. A cidade é um charme, mistura de arquitetura colonial francesa e cambojana, com vários templos budistas para se observar a cerimônia de doações ao monges, e ao mesmo tempo uma cena gay que impressiona.

Segundo o guia gay local são 36 estabelecimentos com gerência ou de propriedade de gays, além dos vários estabelecimentos friendly. Tem dois hotéis exclusivos para homens, MEN’s Resort & Spa e 3 Monkeys Villa, e/ou predominantemente gay, como o Rambutan Resort Siem Reap, e muitos friendly. Para quem entende inglês, este vídeo do New York Times resume bem a vibe super gostosa de Siem Reap.

Lua de mel lésbica: Linga Bar e tuk tuk promovendo gay-owned bar em Siem Reap, no Camboja - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: Linga Bar e tuk tuk promovendo gay-owned bar em Siem Reap, no Camboja – Foto: Marta Dalla Chiesa

Na parte de entretenimento, tem várias opções dispersas pela zona central, como o Linga Bar, Barcode e o gay-owned Miss Wong. Super charmoso também é o Kandal Village, um minibairro boêmio e artístico, com uma série de bares, restaurantes, cafés, lojas de design e galerias de arte que oferecem produtos artesanais lindíssimos. Vários estabelecimentos são gay-owned ou friendly também aqui.

Não deixe de assistir ao Phare (foto), uma versão local e bem mais modesta de Cirque de Soleil, mas ainda assim muito impactante. Os acrobatas, treinados pela ONG Phare Ponleu Skpak na cidade de Battambang, eram crianças de rua ou órfãos sobreviventes do regime sangrento do Khmer Rouge. Através do circo, transformaram suas vidas. As performances são absolutamente incríveis e lotam quase todas as noites com gente do mundo inteiro. Imperdível!

Lua de mel lésbica: Phare, o circo do Camboja - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: Phare, o circo do Camboja – Foto: Marta Dalla Chiesa

A gastronomia cambojana é um capítulo à parte. Lembra bastante à comida tailandesa em temperos e aromas, mas bem menos apimentada. Em Siem Reap, tem também vários restaurantes fusion da tradicional comida cambojana com a francesa, com chefes premiados atuando na cidade, além da influência tailandesa e indiana. Como muitos estrangeiros se apaixonam e fixam por aqui, tem restaurantes para absolutamente todos os gostos. A ótima notícia é que além de excelentes, mesmo os lugares mais sofisticados têm preços bem acessíveis. Vale a pena conferir o lindíssimo Malis, do chef Luu Meng, uma celebridade no Camboja… Ao lado tem o Chanrey Tree, um restaurante super popular com estrangeiros que tem uma seleção de várias cozinhas asiáticas, preparadas ao redor do jardim.

O ideal é ficar pelo menos quatro noites em Siem Reap e usar um ou dois dias para explorar os arredores. Para quem gosta de aventura, procure a Smiling Albino. Eles tem ótimos programas de ecoturismo privativos para conhecer a região de forma diferente: de caiaque, bike ou trilhas.

Lua de mel lésbica tem que ter aventura: Kayaking em um dos muitos lagos de Ton Le Sap, no Camboja - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica tem que ter aventura: Kayaking em um dos muitos lagos de Ton Le Sap, no Camboja – Foto: Marta Dalla Chiesa

 

Onde ficar em Siem Reap:

Jaya House River Park: aberto a menos de 2 anos, o Jaya House já se estabeleceu como a opção de luxo com melhor custo/benefício na cidade. Segundo o gerente holandês, assumidamente gay, a ideia era não ser mais um hotel de luxo, mas que o hóspede se sentisse realmente em casa. O design moderno (não saia sem dar umas braçadas na Silver Pool!), o serviço ultra-friendly e as facilidades são de hotel de luxo, mas sem a price tag ou ostentação. O serviço, em particular, é sublime: desde a chegada, eles fazem de tudo para te mimar. O serviço de tuktuk (aquele táxi puxado por motinho) gratuito e o telefone celular local, que ficam a disposição do hóspede, dão um toque personalizado. Além de serem LGBT-friendly, são eco-friendly, tendo iniciado uma campanha de educação e redução de resíduos na cidade. E além terem a melhor cama da Indochina, nos receberam assim, como na foto abaixo. Amor à primeira vista!

Lua de mel lésbica: bolo de boas vindas e quarto preparado no Jaya House, no Camboja - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: bolo de boas vindas e quarto preparado no Jaya House, no Camboja – Foto: Marta Dalla Chiesa

Belmond La Résidence D’Angkor: o La Résidence tem todas as facilidades e serviços que você espera da rede Belmond: instalações luxuosas, localização e serviços perfeitos. A arquitetura tradicional colonial do hotel em madeira, temperada com obras de arte contemporâneas locais lindas criam um ambiente ultra charmoso. Os elementos surpreendentes aqui são a incrível piscina (38m de comprimento no meio de um exuberante jardim tropical onde servem pequenos mimos como sorbets e frutas frescas para refrescar o calorão) e um spa premiadíssimo (escolhido entre os melhores da Ásia) que oferece tratamentos para Ele & Ele ou Ela & Ela num ambiente super relaxante e exclusivo. O café da manhã é de outro mundo (com pâtisserie francesa, bien sur)! Hotel clássico de lua de mel que, claro, sendo Belmond (que tem um conselho consultivo exclusivo LGBT), é super LGBT-friendly.

Lua de mel lésbica: entrada e piscina do hotel Belmond La Résidence D’Angkor, no Camboja - Foto: Marta Dalla Chiesa

Lua de mel lésbica: entrada e piscina do hotel Belmond La Résidence D’Angkor, no Camboja – Foto: Marta Dalla Chiesa

 

Dicas para uma lua de mel lésbica no Sudeste Asiático:

  • Se o seu orçamento e o tempo forem maiores, vale a pena conferir o roteiro da Belmond no Sudeste Asiático, combinando Tailândia, Camboja e o incrível Laos (que eu guardei para a próxima coluna) num roteiro dos sonhos para uma lua de mel lésbica, por exemplo. Não fizemos praia nesta viagem, mas as praias tailandesas são imperdíveis e combinam super bem com o resto deste roteiro.
  • Para conexões aéreas locais vale a pena checar o site da Air Asia, uma empresa aérea econômica com ótimo serviço para toda a região.
  • Em alguns locais de Bangkok, táxis se recusam a te levar a alguns lugares próximos, ou cobram várias vezes o valor da corrida. Resolva isto com a versão local do Uber, GRAB, que funciona super bem na Tailândia e outros países da região.
  • No momento, brasileiros não precisam de visto com antecedência para a TailândiaCamboja, o que facilita a viagem.

 

>> Acompanhe o Viaja Bi!: InstagramYouTubeFacebook e Twitter.

Hospedagem | Seguro Viagem | Câmbio | Aluguel de carro

Compartilhe:
Tags:

Sobre Marta Dalla Chiesa

Marta Dalla Chiesa

Marta Dalla Chiesa é colunista do Viaja Bi!. Por ser uma lésbica apaixonada por turismo outdoor, criou a Brazil Ecojourneys e foi presidente da ABRAT GLS, associação de turismo LGBT. É PhD em biologia bioquímica e molecular no Imperial College London, mas trabalha com turismo desde o ano 2000. Mora em Florianópolis e é idealizadora do evento Gay Surf Brazil, evento na Praia do Rosa. Todos os posts da Marta.

  • Website
  • Instagram
  • Email

2 Comentários

  • Fabia
    2018-05-23 16:22

    Que lua de mel maravilhosa! Também fiz essa viagem e fiquei apaixonada. Agora quero voltar com a Gabi e ficar mais tempo!

    • Rafael Leick
      2018-05-23 17:01

      Me leva com vocês já que não será lua de mel de novo? hahahaha <3

Comentar