Projeto Jiboia em Bonito: a 1ª vez que peguei na cobra 🐍
Bi, preciso confessar uma coisa: EU PEGUEI NA COBRA pela primeira vez. Aí você fala “hellooooow” e eu te digo “calma, tô falando da cobra de verdade”. Visitei o Projeto Jiboia durante minha estadia em Bonito e vou contar todo o babado e a sensação de pegar na cobra e de visitar esse destino fø*@.
Bonito é um dos lugares mais fascinantes do Brasil e sempre foi um dos meus sonhos de consumo nacionais. Ainda tem outros, como Amazônia, Pantanal, Fernando de Noronha, Lençóis Maranhenses, entre outros, mas vamos com calma, né?
No finzinho de agosto, finalmente tive a oportunidade de conhecer o destino a convite da Agência São Jorge, que começou por lá um projeto lindo (ou… 😛 bonito?) chamado Bonito.LGBT. Além de agência de turismo, eles têm, no mesmo espaço, um hostel e o São Jorge Pub, o point LGBT+ da cidade. Há poucas quadras dali, eles ainda têm a Pousada São Jorge.
Bonito, no estado do Mato Grosso do Sul, é uma cidade pacata. Parece cidade de interior, pra quem mora em uma cidade grande como São Paulo, por exemplo. A vantagem? É tudo pertinho e dá pra fazer a maior parte das coisas na cidade a pé mesmo (não os atrativos naturais, claro), mas tem locais que podem ocupar sua noite, além do São Jorge Pub (mesmo porque a galera sai pra baladjeenha bem tarde por lá). 🙂
Eu fiquei hospedado no Marruá Hotel e a 10min de caminhada (800m) fica um dos atrativos urbanos mais legais que eu conheci e que é tema desse texto: o Projeto Jiboia.
🐍 O Projeto Jiboia
Pra entender melhor o que é o projeto, preciso te dar um pouquinho de contexto. Aos 17 anos, durante um intercâmbio na Austrália, Henrique Naufal, viu um homem com uma píton no pescoço e ficou curioso, apesar do medo natural. Ele acabou tirando uma foto com ela no pescoço e ali começou o amor pelas serpentes.
De volta ao Brasil, comprou uma jiboia de um índio da Amazônia, depois outra e o número foi aumentando (todas com autorização do IBAMA), até que em 2005 inaugurou em Bonito a sede do Projeto Jiboia, que idealizou com tanto carinho, com o objetivo de desmistificar as serpentes não peçonhentas e seu comportamento.
Hoje são 12 jiboias e 1 píton espalhadas pelos terrários, todas com microchip de identificação, certificado de origem e nota fiscal, tudo de acordo com a legislação. Elas também estão acostumadas com a presença humana.
A proposta é que os visitantes possam entender melhor os hábitos desses animais e quebrar vários paradigmas, tabus e mitos que o senso comum acabou adotando erroneamente. Ao mesmo tempo, todos morrem de curiosidade e têm pelas serpentes um certo encanto, né?
Os moradores de Bonito têm entrada gratuita no Projeto Jiboia e eles também recebem visitas de escolas para conscientizar as crianças desde cedo. Legal, né?
🐍 Como é a experiência no Projeto Jiboia
Normalmente, quem recebe os visitantes é o próprio Henrique, mas quando estive lá, ele estava em viagem a San Bernardino, no Paraguai, onde ele se associou à empresa de turismo de aventura AventuraXtrema para levar o Projeto Jiboia para terras paraguaias, onde ele se chamará Proyecto Boa. Boa porque vem do nome científico da jiboia, boa constrictor.
Fui, então, recepcionado pela Kamila, uma mulherona gata, fofa e mamãe do pequeno Bento. ❤ Logo que você entra, deixa o seu nome no livro de visitantes/cadastro e recebe uma senha, que vai ser útil mais tarde, após a palestra. Palestra? Sim, já chego nela que ela é mais legal do que parece.
Enquanto esperamos, podemos caminhar por entre os terrários e ver todas as moradoras do Projeto Jiboia, além de outros aquários com esqueletos e artefatos museológicos pra explicar um pouco mais sobre elas. Nesse momento, me dei conta que o medo que eu achava que tinha de serpente era real. Mas ok, tudo controlado, estamos separados por um vidro, então tá tudo certo! 😛
Pouco depois, a Kamila chamou todo mundo pra uma outra área, com várias cadeiras e uma televisão no alto, além de um backdrop com logos do Projeto Jiboia. Mas, antes de começar a dar a palestra ela pegou o Bolinha. Não, o filho dela chama Bento. Bolinha é uma das jiboias. Sim, meus caros, a palestra é com a jiboia no pescoço!
No começo, fiquei bastante tenso e nem quis sentar muito perto. Imaginei uma cena de filme de terror ao vivo, com o Bolinha descendo do pescoço dela, passando pelo corredor no meio das cadeiras serpenteando bem rápido e silvando para afugentar as pessoas no melhor estilo Nagini, a cobra do Voldemort, em Harry Potter.
Na prática, a palestra inteira, o Bolinha ficou bem quietinho enrolado no pescoço da Kamila e só. Simples assim.
Quando ouvi que ia ter palestra, pensei “sério, gente… vim até Bonito pra ficar sentado vendo palestra?”. Meu amô, saí de lá amando! Queria é falar mais várias horas sobre serpentes. Aliás, reparou que eu tô falando serpente toda hora e não cobra? Cobra é nossa palavra para Kobra, que é na real uma das espécies de serpentes, a Naja. Então, não tá errado falar cobra, mas sou CDF e vou falar serpente porque é o certo, me deixa! 😛
Normalmente, associamos o animal a perigo, maldade, traição e tudo de ruim, né? Mas a real é outra… Não vou contar tudo pra não dar muito spoiler, mas entre as várias coisas que aprendi naquela noite, está o fato de que uma cobra não peçonhenta, como as jiboias, podem numa picada/mordida, oferecer muito menos risco do que um cachorro! 😱 Pérae!!!! COMASSIM, BRAZEEL?
Mas é… pára pra pensar. A mandíbula do meu 🐶 Lupin, por exemplo, é muito mais forte do que a do Bolinha. Se ele me morder no braço, vai estraçalhar muito mais do que o a mandíbula frouxa do Bolinha, tadjeenho. E mesmo assim, eu fico beijando ele todos os dias o dia inteiro. Já o Bolinha, se der o bote e picar, vai ser mais pela picada e tem que tratar pra não infeccionar, mas ele não é peçonhento e não tem tanta força na mandíbula. Acho que quero um Bolinha pra chamar de meu. Mas eu chamaria ele de Nagini. 😂
🐍 Curiosidades sobre as serpentes
Outros termos comuns que usamos errado esta entre cobra venenosa ou cobra peçonhenta? Bom, a peçonha, na verdade é o nome do líquido que ela produz, então, não é cobra venenosa. Como estamos aprendendo, é serpente peçonhenta! #QueOrgulho A jiboia também é conhecida como jiboia constrictora, porque a forma dela matar suas presas é por constricção, ou seja, estrangulamento. Ela se enrola na presa e quebra ela inteira. PAH! Ficou com medo?
Fique tranquilo, pois já que estamos nessa época de desconstruir mitos (aliás, #EleNão), vamos acabar com mais um? Serpentes não atacam humanos à toa. No entendimento dela, nós que somos seu predador, pelo menos é assim com as que estão aqui no Brasil. O que elas atacam são roedores, principalmente. Então, a primeira reação dela, será fugir.
Se você encontrar com uma serpente na natureza, o que é raro porque elas dão no pé (pé em modo figurado né?) se te sentirem de longe, o que você tem que fazer é…. deixar ela ali de boa e se afastar, simples assim. Se ficar ali encarando e ela não sentir que é seguro fugir, ela vai observar, se chegar mais perto, aí ela vai tentar se defender.
Mas ela não vai correr atrás de você silvando alto tipo Nagini não, fica sussa! Assim que ela ouvir os seus passos, ela vai escafeder-se! E sabe como ela vê você chegando? Ela não ouve e a visão é toda cagada, né? Então ela “vê” temperaturas. É como se ela visse tudo azul e quando tem uma fonte de calor vindo, ela vê vermelho. Você já deve ter visto isso na TV… Outra forma é por vibrações.
A parte debaixo delas, a “barriga”, não tem proteção de esqueleto como as “costas”, então ela é superfrágil e sensível. Então se, numa trilha, você pisa com a bota no chão, ela sente as vibrações na terra. Babado, né?
A linguinha bifurcada também ajuda. Ela bota pra fora, a ponta esquerda sente se tem algo do lado esquerdo, e a direita a mesma coisa. Se tiver algo do lado direito, ela vai botar a língua de novo pra fora, mas do lado direito e aí as “anteninhas de vinil” da língua vão captando a presença do inimigo. #ChapolinFeelings #NovinhxsNãoEntenderam
Pra dar o bote, a presa precisa estar a pelo menos 1/3 do corpo dela de distância. Fiquei pensando, não ando com uma fita métrica na trilha e não sou bom calculador de medidas, então, cheguei a conclusão que se eu encontrar uma na trilha, é só ficar longe. Ela precisa estar apoiada e fazer o S com o pescoço pra conseguir dar o bote também. Mas, bi, se ela conseguir, é em milisegundos o negócio, não dá pra escapar não. Eles também dão dicas do que fazer em caso de picada e se for de peçonhenta.
Curiosidade sobre reprodução. Como elas não têm membros para locomoção, a natureza deu uma forcinha colocando duas entradinhas genitais na serpente fêmea e duas pirocas no macho. É sério, além de ter o corpo fálico ele tem uma piroca bifurcada! 😂 Elas saem da mesma cavidade e se revezam para entrar em uma das cavidades da fêmea. Isso porque as cópulas podem durar horas e, como não tem patas para dar equilíbrio e se segurar, essas diferenças ajudam.
Ah! E a fêmea tem uma espermoteca lá dentro. Sim, tipo uma biblioteca de sêmen! Ela guarda o sêmen do macho ali e pode usar para reproduzir muito tempo depois. O tempo mais longo já registrado é de 12 anos! 😮 Gente, fala sério… Imagina, mais de uma década depois, ela liga pro macho e diz “vem que o filho é teu. Sim, sei que é seu, tá catalogado na sua prateleira aqui na minha espermoteca”. Ela pode ser uma cobra mesmo… tum tum tsssss!!!! Babado!
Outro mito a ser derrubado é o Bols… a pele das serpentes! Qual a impressão que você tem ao olhar pra ela? Que ela é molhada e grudenta, certo? Tudo tabu! Pensa comigo… Se ela fosse e serpenteasse na terra, ela iria parecer uma serpente à milanesa, né nom? O brilho que dá essa ilusão de ótica vem da queratina, a mesma que faz nossos cabelos e nossas unhas brilharem, tendeu?
Ela também não é fria, só não produz seu próprio calor, como a gente. Por isso, no nosso pescoço, ela fica confortável. Ela vai se aquecendo com o seu calor, guarda e vai perdendo aos poucos. Por isso que ela tá sempre escondida embaixo de pedra, de troncos, pra se aquecer. Sem calor, ela morre. Nós também, mas ela não produz como a gente, então ela é mais frágil que a gente.
Por falar em pescoço, depois de exibição de vídeos na tela onde a Kamila estava passando os slides com todos os detalhes (que já entreguei muitos, então bora pra próxima etapa), chegou a hora de encarar as serpentes de perto.
🐍 Com a corda cobra no pescoço
A Kamila e outra funcionária do Projeto Jiboia te ajudam a colocar o Bolinha (ou a outra serpente que também participa das palestras) no pescoço e tirar suas fotos e selfies.
Mana, nesse momento eu achei que iria derreter. Comecei a suar frio e me dei conta que meu medo de serpentes era muito maior do que eu achava. Tava me cagando, me tremendo, me borrando, tentando disfarçar perguntando pra Kamila se elas não ficavam estressadas de ir de pescoço em pescoço e tudo e tal. Na real, tava querendo saber se eu não corria risco já que a minha senha (lembra que ela seria útil?) era uma das últimas.
Mas ela me explicou que são só duas as serpentes que têm um comportamento mais adequado pras palestras, afinal elas mexem muito a mão e outras poderiam entender como ameaça. Além disso, elas revezam entre si para não ficarem estressadas. E, pra elas, como falamos antes, é tranquilo e confortável nosso pescoço.
Chegou minha vez e eu me borrei todo, mas concentrei porque tinha que tirar fotos, fazer Stories no Instagram e gravar vídeo pro YouTube pra vocês. Me agarrei nisso com todas as forças e fui. O Bolinha foi colocado no meu pescoço e começou a virar a cabeça pro meu lado. Quando acontece isso, você dá um rodopio devagar que a cabeça dele vai virar pra frente de novo. Não virou. Eu ri, mas de nervoso.
Aí as meninas arrumaram ele novamente no meu pescoço, com o peso melhor distribuído e apoiaram a cabeça dele na minha mão esticada. E ali ele ficou, a coisa mais dócil do mundo. 💚
Mas, gente, não esqueçam de que com qualquer animal, você deve ter respeito por ele e procurar entender os seus sinais. Não vá apertar, fazer bilu bilu com o nariz na narina dele que você: primeiro, estará fazendo papel de otário 😛 e, segundo, estará invadindo a zona de conforto dele. Só ter bom senso.
E vamos amar mais as serpentes. 🙂 Pra descobrir mais sobre elas, não deixe de visitar o Projeto Jiboia, em Bonito! Os dados tão todos aí embaixo.
🏨 Veja opções de hotel em Bonito 🏨
Projeto Jiboia 🐍
Endereço: Rua Nestor Fernandes, 610 – Bonito/MS – Brasil
Horário de funcionamento: todos os dias, 19h às 21h, em alta e baixa temporada. Outros horários sob consulta.
Preço: R$ 50 (crianças e adultos)
Telefone: +55 (67) 98419-0313
Site: projetojiboia.com.br
Redes sociais: Instagram, Facebook, Twitter,
O Viaja Bi! viajou a Bonito a convite da Agência São Jorge como parte do projeto Bonito.LGBT. O ingresso foi uma cortesia do Projeto Jiboia, mas todas as opiniões expressas aqui, são independentes e refletem a real experiência como visitante.
8 Comentários
Jayme
Acho que a Kamila, aí de cima, me atendeu ontem no treinamento do abismo Anhuma (nops, também não passei no teste da subida).
Posto que tenho ofiofobia, SE (e põe “se” nisso) eu sobreviver ao abismo + arvorismo, juro que vou conhecer o projeto.
Coincidência do destino: também estou no Marruá (#jumafeelings)
Rafael Leick
Ah, sim! Ela também atende lá no Abismo. Ela é uma querida, né? Manda um beijo pra ela.
Que bom que não fui o único que não passei hahahaha Vai lá no projeto que você vai curtir. É tenso mas é o máximo.
Olha que coincidência. Já tinha fechado o hotel ou fechou depois que eu fui? Fiquei curioso. 🙂
Aproveite muito aí! 😉
Jayme
Fechei antes de você vir!
Duvido que lembre mas quando você anunciou que vinha, comentei que viria logo depois…
Coincidência MESMO!!!! Ou estava escrito nas estrelas?
Huahuahuahuahua
Rafael Leick
Lembro que você falou, mas tenho essa memória só quando eu já estava voltando, sorry! hahaha
Coincidência mesmo!
Jayme
Você também faz parte da tribo da Dori???
Alma gêmeaaaaaaaa!!!!
Rafael Leick
hahahahahaha 😛
Mit Viagem
Gostei das fotos kkkk deu muito medo tirar as foto?
Rafael Leick
Um pouco 😛 Mas foi de boa. Valeu!