Roteiro de ecoturismo e vinícolas no Sul do Brasil
Quando o Rafael me convidou para participar do time de colunistas do Viaja Bi!, a ideia sempre foi trazer uma perspectiva fora do estereótipo das “viagens gays”. Esta perspectiva é influenciada tanto pelo meu gênero (e idade!) como pelos meus gostos pessoais. Eu, sem dúvida, embora tenha múltiplos interesses nas minhas viagens, contribuo para o estereótipo do que as mulheres lésbicas gostam nas suas viagens (ecoturismo, aventuras ao ar livre, esportes), mas eu sei que os meus gostos são também compartilhados por gays que fogem ao estereótipo deles (baladas, shopping, ópera).
É justamente quem comparte os meus interesses que tem a maior chance de enfrentar preconceito na viagem, especialmente se for fazer uma viagem pelo interior do Brasil. Todos nós sabemos que fora das grandes cidades as coisas estão longe de ser tão friendly no nosso país como gostaríamos.
Esta é a razão de ser um must consultar amigos e/ou agências friendly (e o blog do Viaja Bi!) para dicas de passeios fora do roteiros batidos dos guias gays. A minha empresa tem este perfil, mas queria contar uma história pessoal, pois acabei de voltar de um fim de semana com um grupo de amigos (um casal gay e dois casais de lésbicas) nas montanhas de Santa Catarina.
Roteiro de ecoturismo e vinícolas no Sul do Brasil
A Serra Geral Catarinense fica a apenas 3h de viagem de carro de Florianópolis. Inclui as mais altas montanhas do Sul do Brasil e é famosa por ser a região mais fria do país e com a maior possibilidade de ter neve no inverno. A maioria dos turistas vem por esta razão – pela chance de ver neve neste país que é dito tropical.
Mas a região, principalmente aos redores da cidadezinha de Urubici, é um lugar fantástico para quem gosta da natureza: trilhas magníficas por campos de altitude que levam a bordas de serra com cânions incríveis, caminhos por vales com vegetação pré-histórica, que parecem saídos de filmes, e rios cristalinos com cachoeiras imensas. Lugares que podem ser conhecidos a pé, a cavalo ou bicicleta. Tudo isto com pouquíssimos turistas. Enfim, um paraíso para quem gosta deste tipo de turismo.
Para contrabalançar tanta saúde e natureza, a visita às vinícolas de São Joaquim (a apenas 1h de carro de Urubici) é um roteiro muito legal para quem gosta de vinhos. São hoje 17 pequenas vinícolas produzindo vinhos de boa qualidade e, em alguns casos, excepcionais. O terroir é extremamente jovem comparado com outros na América Latina, tendo menos de 15 anos de história, mas as condições climáticas favoráveis e o investimento em alta tecnologia prometem fazer desta área a melhor região de produção de vinhos do país.
Poucas vinícolas abrem ao público durante o ano inteiro então é melhor consultar os sites para ver as agendas ou programar-se para a próxima vindima (festa da colheita, que é sempre no mês de março), quando praticamente todas oferecem visitação. Entre as de destaque estão Villa Francioni, Villagio Bassetti, Abreu Garcia, Monte Agudo e Leone de Venezia. Uma dica é parar também na Casa do Vinho, no centro de São Joaquim, já que ali é possível degustar os melhores vinhos de todas elas.
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Nossa ideia era combinar um fim de semana de ecoturismo, na natureza, com a vindima no mais novo terroir brasileiro, sem gastar muito. Por isso, acabamos optando por ficar numa hospedagem rural chamada Pousada Encanto da Natureza que faz parte da Acolhida na Colônia, um projeto de agroturismo ecológico ultrapremiado que começou na Serra Catarinense há alguns anos. Basicamente o projeto preparou agricultores familiares, na sua grande maioria produtores orgânicos, para receber turistas nas suas casas ou propriedades como uma forma de complementação de renda. A minha esposa e eu já estivemos em diversas destas propriedades e sempre fomos bem recebidas, mas nunca tínhamos ido com um grupo exclusivo de gays e lésbicas. Confesso que eu estava um pouco apreensiva com a reação da família quando chegássemos. Seríamos bem recebidos ou seria um final de semana tenso?
A realidade foi que não houve nenhuma reação inicial a não ser um pouco de surpresa (eu não havia anunciado que iriam 3 casais gays!), mas bem disfarçada da parte deles. No início, nos deram privacidade e nos deixaram à vontade. E depois de dois dias de convivência, que foi permeada de conversas e boas risadas, nos despedimos deles com genuíno carinho e com a vontade de retornar.
Paradigmas foram quebrados, tenho certeza, dos dois lados, porque estou segura que preconceito vem da falta de conhecimento.
Um final de semana memorável: natureza incrível, vinhos deliciosos e bons amigos. Ah! E sem internet.
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