Quando comecei a planejar minha viagem a Namíbia, não sabia quase nada sobre esse país da África, ainda desconhecido pra mim. Comprei a passagem em uma promoção e, depois disso, comecei minhas buscas. Vi que o Etosha National Park era imperdível mas acabei descobrindo um outro lugar que eu fiquei com muita vontade de conhecer: a AfriCat Foundation.

 

O que é a AfriCat Foundation? 🐆

A AfriCat é uma organização que cuida da conservação a longo prazo da vida selvagem da Namíbia, especialmente dos grandes carnívoros, entre eles os grandes felinos que adoramos, como leopardos e cheetas, mas também hienas, por exemplo. A fundação, que fica dentro da reserva privada Okonjima Nature Reserve, resgata animais que ficaram órfãos e precisam de cuidados até poderem voltar para seu habitat e/ou animais que não conseguem mais serem reintroduzidos na natureza, seja qual for o motivo.

Há fazendas pelo país e acontece frequentemente de uma mãe leopardo ser morta, por exemplo, pelos proprietários, por estar muito próxima ou até tentar entrar em uma das casas rurais. E aí os filhotinhos ficam sem ter como sobreviver sozinhos.

O terreno da reserva Okonjima tem 200 km², é enorme. Para contextualizar, tracei uma rota a pé no mapa e do ponto mais ao norte ao ponto mais ao sul, são cerca de 23,5km, que poderia ser coberto a pé em 4h45min. :O Antigamente, não haviam cercas na propriedade mas a Okonjima tem vizinhos e você sabe que vizinho, muitas vezes, significa dor de cabeça, né? 😛

O gado das fazendas ao lado muitas vezes invadiam a Okonjima, danificando a vegetação por estarem pastando e os animais tratados no AfriCat também acabavam matando o gado. Então, foi decidido cercar, mas com muito espaço, não se vê os limites.

A AfriCat, que foi fundada entre 1991 e 1993, tem como missão “contribuir significativamente para a conservação, ao mesmo tempo que tenta garantir a sobrevivência dos predadores da Namíbia em seu habitat natural” e, para isso, se compromete com pesquisas e projetos educacionais ambientais.

O lema deles é inclusive esse: Conservação pela Educação. Em 2010, eles de uniram ao projeto Afri-Leo que virou a base AfriCat North do projeto, dedicado especificamente à proteção do leão namibiano.

De acordo com documento no site oficial do projeto, as 4 principais funções da AfriCat são:

1. Programas de educação e consciência ambiental
2. Mitigar conflito entre fazendeiros e predadores, por meio de métodos de proteção melhorada de gado e conscientização
3. Pesquisa e monitoramento de grandes carnívoros para estabelecer estratégias e técnicas de gerenciamento efetivo e apoiando a conservação sustentável de cada espécie
4. Programa de reabilitação e proteção aos carnívoros, incluindo o resgate, habitação, tratamento, soltura e reabilitação de um grande número de carnívoros confiscados, feridos e órfãos.

 

Como foi a visita na AfriCat Foundation 🐆

Posso já começar com: SEN-SA-CIO-NAL! Para quem gosta de ver os grandes felinos como leopardo e cheeta (guepardo) é uma boa decisão incluir a AfriCat no seu roteiro pela Namíbia pois esses animais costumam ser bons em se camuflar – o leopardo tem hábitos noturnos, para completar – e é mais difícil vê-los no Etosha National Park. Além disso, você pode ter um contato bem próximo com eles.

Logo na entrada da Reserva Natural Okonjima, há uma pequena guarita, com folhetos informativos sobre os projetos e a reserva. Lá, nos indicaram como seguir (basicamente, só seguir aquela estradinha de terra, não descer do carro e não alimentar animais) até chegar no AfriCat. Ela tem 10km mas, se não estiver com pressa, vale muito a pena ir observando com calma e atenção.

Nesse caminho, foram diversos os animais que pudemos avistar. Entre eles: javali, oryx (antílope típico da região) macaco babuíno, springbok (cabra-de-leque), avestruz e chacal. Outro animal lindíssimo que vimos foi o kudu, uma das maiores espécies de antílopes do mundo, que tem um chifre em espiral que parece ter saído direto das histórias de contos de fadas.

Eu estava muito animado e ansioso. Era a primeira atração que visitaríamos na Namíbia, o primeiro contato mais próximo com grandes animais. E logo que desci do carro, depois do susto, fiquei emocionado com o javali que passou correndo atrás de mim. Me senti uma criança no filme O Rei Leão com o Pumba correndo e eu usando palavra “antílope”, agora sabendo o que era. 😛 Quem nunca?

Ao chegar, há uma construção onde fica o Day Centre (para quem vai passar o dia), com um saguão grande que tem uma loja de souvenirs, uma exposição de fotos ampliadas de animais, sofás para descanso, mesas para comer e uma bancada com café e suco. Ali, pelo que eu entendi, é também o lobby das hospedagens, que vão de acampamento a villa, passando por suíte de luxo.

Ali esperei pela saída do próximo tour, que foi feito pelo Craig Brown, um guia bem gato, por sinal. Assinamos um formulário de responsabilidade e ele nos indicou o carro que faríamos nosso game drive, ou seja, um passeio de carro para observação de animais. É isso, também conhecemos como safári. 🙂 Já na saída, vimos uma família de javalis, a mãe e dois filhotinhos. Coisa mais f… feia, mas também fofa, que são os javalis de perto…

Passamos por algumas cercas, que protegem a área onde humanos ficam, ou seja, nós que estamos na jaula. Chegamos numa espécie de bunker acima da terra, também super protegido por cercas. Era uma construção de 4 paredes e teto e escura por dentro. Em uma das paredes, bancos altos nos deixavam sentados de frente para uma abertura horizontal relativamente fina, que ia de uma ponta a outra. E por essa abertura podíamos observar a área externa.

Em uma árvore bem em frente a onde estávamos, estava um pedaço de carne, preso por um cabo de aço que saía de dentro do tronco. E, deitada no tronco, estava bem imponente uma leopardo linda demais! Fomos apresentados à Lewa, uma fêmea que, por algum motivo, não consegue mais ser reintroduzida na natureza. Vale lembrar que, na AfriCat, cada predador de grande porte que precisa ser mantido em cativeiro tem, no mínimo 10 mil m² de espaço.

Ali tivemos uma aula sobre leopardos enquanto ela degustava aquele bifão. Antes de sairmos, ela lambeu os beiços, desceu da árvore vindo em nossa direção, passou bem pertinho e seguiu seu caminho. Foi mágico, principalmente ouvir o rugido daquele bichão gigante, mas que pesa cerca de 45kg.🤩

Ainda encantados, seguimos de carro para uma outra área do parque, onde pudemos ver cheetas também de muito pertinho. O carro de safári é todo aberto e elas caminhavam praticamente do lado do carro. É um bicho muito lindo de ver.

Curiosidade: as linhas pretas que vão dos olhos à boca da cheeta ajudam na sua visão apurada em longa distância pois minimiza o reflexo do sol no pelo do seu focinho, permitindo que o animal mais rápido do planeta – que alcança até 130km/h – consiga avistar sua presa e dar o pinote para atacar.

Confesso que deu um certo receio estar tão “exposto” e tão perto delas, mas elas estavam tão confortáveis que fiquei bem tranquilo. Uma delas até fez cocô ali, bem na nossa frente, de boa. Outra coisa é ficar de olho no guia. Não só porque ele é gato, mas porque ele está super acostumado e sabe quando é seguro estar por ali.

É importante ressaltar que, obviamente, a AfriCat não permite qualquer contato entre seres humanos e animais.

A última parada do tour de 1h30 foi na sede da AfriCat Foundation, onde os trabalhos de conservação são conduzidos. Lá pudemos ver um pequeno museu, com grandes animais empalhados, esqueletos e informações para conscientização.

 

DAY VISIT AFRICAT/OKONJIMA

• As visitas de um dia, que foi o que fiz, custam entre NAD 230 e NAD 460 (dez/20)
• Duração aproximada de 1h30
• Acontecem duas vezes ao dia: pela manhã, às 11h, e à tarde, às 13h
• O tour inclui um safári (game drive) com guia pelo centro de proteção de carnívoros da AfriCat e o Centro de Informações
• Eles podem organizar também um almoço leve, por custo adicional
• A visita não precisa ser agendada previamente
• As informações sobre as Day Visits podem ser encontradas aqui
• Eles também oferecem safári noturno

🦓 Leia mais: Quanto custa viajar pra Namíbia, na África? 🦓

 

FOTOS DA VISITA AO AFRICAT 📷

 

AfriCat, turismo e COVID-19 🐆

A Fundação AfriCat é dependente da receita do turismo gerado pelo Okonjima Lodge, o complexo hoteleiro da Okonjima Nature Reserve e das atividades na própria reserva, para manter suas atividades. Okonjima então é a reserva natural e a parte turística que sustenta essa fundação que trabalha com pesquisa e conservação. Leia a história toda aqui e aqui.

Custos como compra de veículos, combustível, salário dos veterinários e comida são cobertos pelo turismo no local. E isso vai desde a pequena loja de souvenirs até o complexo hoteleiro:

• Plains Camp: 14 quartos Standard e 11 quartos “com vista”
• Bush Camp: 9 chalés de luxo
• Bush Suite: 2 quartos de luxo
• The Villa: 4 suítes de luxo
• Campsite: área de acampamento exclusiva

Por conta da pandemia do novo coronavírus, o turismo no mundo todo sofreu um impacto gigantesco e com a AfriCat não foi diferente.

Sem o turismo, a roda não gira e o projeto está sob ameaça tanto quanto os animais que ele protege e cuida.

No vídeo acima, você pode ver uma explicação mais completa (em inglês) sobre os problemas que eles estão enfrentando. Ele é o último de uma série de vídeos chamada Okonjima’s COVID Chronicles, que eles produziram, vale a pena assistir tudo para entender.

Então, se puder, há maneiras de doar e ajudar o projeto. Você pode doar diretamente ao AfriCat, pode apoiar um dos programas do projeto, patrocinar um carnívoro (inclusive a leopardo Lewa) ou comprar um quadro da Namibia Collection, com fotos lindas dos grandes carnívoros.

 

Como chegar na AfriCat 🐆

A AfriCat Foundation está dentro da Okonjima Nature Reserve, que fica entre Windhoek, a capital da Namíbia, e o Etosha National Park, a principal atração do país.

Saindo de Windhoek, siga a rodovia B1 por cerca de 2h, até a entrada da reserva. Se sair do Etosha, siga pelas rodovias c38 e B1 também por cerca de 2h. Da entrada da reserva, siga por 10km pela estrada de terra até o centro de visitantes da AfriCat Foundation. Você verá placas indicativas e passará por portões com recortes em formato de cheetah. 🙂

 

Para mais informações, visite o site da AfriCat Foundation e o site da Okonjima Nature Reserve.

E você? Já conheceu a AfriCat?
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O blogueiro viajou com apoio da GTA Assist. A viagem faz parte do projeto Mochiláfrica.

 

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