Père-Lachaise, o cemitério de Grindelwald em ‘Animais Fantásticos 2’
Se você, assim como eu, correu pro cinema na semana passada pra conferir a pré-estreia de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, sabe que um tal Cemitério Père-Lachaise, em Paris, tem uma importância grande nos momentos finais do filme.
Calma, essa é uma matéria sem spoilers, caso você ainda esteja no mundo da lua e não tenha ido conferir o novo episódio da da nova saga do Mundo Mágico, que se passa 70 anos antes de Harry Potter, na segunda metade da década de 1920.
O cemitério Père-Lachaise apareceu em praticamente todos os trailers e materiais promocionais antes do lançamento do filme. E é dessas cenas que vou falar agora, pra não estragar surpresas. É a cena onde aparecem aurores chegando, é onde Grindelwald faz seu discurso aos seus seguidores e onde fica o túmulo da família Lestrange, um nome já bastante conhecido dos potterheads.
Bom, acontece que o Père-Lachaise é um cemitério que existe na cidade de Paris vida real, não só do mundo bruxo, e existe ainda hoje, não só nos anos 20. É um dos cemitérios mais famosos do mundo e o maior da França. E acontece que eu, inesperadamente, fui conhecê-lo durante minha última visita à Paris, em agosto.
Não era um local que fazia parte do programa oficial da viagem, destinada a cobrir os Gay Games e o lado LGBT+ de Paris. Mas, estávamos pelas redondezas, tínhamos um tempinho livre e o Andrew, nosso guia maravilhoso, contou que lá estava a tumba de alguns ícones históricos, entre eles uma lésbica. Então decidimos passar por lá.
Não conhecemos, obviamente, o túmulo da família Lestrange, porque esse só deve estar visível aos bruxos (e ao Jacob Kowalski, que é trouxa… é, acho que só a gente não viu mesmo). Mas passamos por outros túmulos igualmente icônicos e muito mais conhecidos entre os trouxas e no-majs, ou seja, nós que não recebemos nossa cartinha de Hogwarts.
Cemitério é atração turística?
Esse tipo de cemitério europeu, como o Père-Lachaise, tem um clima bastante diferente do nosso aqui, na minha humilde opinião. Os nossos me lembram cinza e cadáveres. Os deles me remetem a paz e almas.
O verde, as árvores e o clima de verão de agosto podem ter colaborado, mas foi essa minha sensação. Talvez porque o Père-Lachaise foi o primeiro cemitério tipo “jardim” do mundo.
Lá os túmulos também são obras de arte, então isso traz um pouco mais de vida pro lugar. Aqui em São Paulo, temos um pouco disso no Cemitério da Consolação, mas acredito ser uma exceção à regra.
Visitar cemitérios sempre me pareceu uma ideia muito da estranha, mas acabei fazendo isso na minha primeira viagem internacional, quando conheci o Cemitério da Recoleta em Buenos Aires.
Depois, cheguei a ir em outros e, por mais bizarro que isso seja, visitar cemitérios passa sutilmente pro turista a cultura daquele povo, assim como visitar supermercados. Falei que era bizarro, mas para um pouco e pensa se não faz sentido…
Ao entrar no Cimetière du Père-Lachaise, nos deparamos com um cemitério muito bem cuidado que realmente é bastante cinematográfico, mesmo sendo tão antigo (1804).
Algumas das 69 mil sepulturas são gigantes, outras mais simples, todas dispostas em grandes quadras com grama, numeradas e separadas por ruas igualmente organizadas.
Se você quiser encontrar um túmulo específico é bem fácil de se localizar, só se prepare para caminhar bastante e para se exercitar pois ele é bem grande e o terreno não é nada regular.
Famoso (depois de morto) pela piroca
Entre os escolhidos pra essa minha visita ao Père-Lachaise estava o mais anônimo Victor Noir, um jornalista francês que, aparentemente teve seu túmulo mais famoso do que ele foi em vida. Eu explico.
A tumba do moço é uma das poucas que tem uma estátua do mesmo em cima dela. E ela chama bastante atenção porque o volume do pacote dele (isso, da piroca mesmo) é super marcado, literalmente saltando aos olhos.
Isso fez com que se criasse uma lenda urbana de que mulheres que tinham dificuldade de engravidar, deveriam ir até o túmulo de Victor Noir no cemitério Père-Lachaise e… esfregar a piroca da estátua dele.
Isso mesmo, você leu certo! A piroca da estátua tá até desgastada e com cor diferente, gente. O povo ia lá mesmo se roçar com a estátua do morto porque era símbolo de fertilidade. Aliás, ia não… ainda vai, mas agora de forma mais turística.
De qualquer maneira, mesmo que eu não vá engravidar, se o negócio ajuda na fertilidade, preferi não arriscar e passar lá pra dar aquela esfregadinha na piroca dele, né? Vai que ajuda… Confesso, passados alguns meses, que até que deu uma ajudinha na minha seca histórica. 😛
O falo, em muitas culturas, foi idolatrado como símbolo de fertilidade, mas não esperava que isso viesse de um jornalista que aparentemente não foi tão famoso assim durante seu tempo vivo. Enfim…
Túmulos famosos no Cemitério Père-Lachaise, em Paris
Numa das 5 entradas do cemitério, logo depois de subir a escada, encontramos uma placa com um mapa das quadras e ruas do Père-Lachaise ao lado de uma lista com nomes ilustres, entre eles Édith Piaf, Jim Morrison, Allan Kardec, Maria Callas, Benjamin Constant, Molière, Frédéric Chopin, o ícone gay Oscar Wilde e a ativista lésbica francesa Rosa Bonheur, que hoje empresta seu nome pra dois bares LGBT+ em Paris.
Tínhamos muito pouco tempo, então selecionamos os que queríamos ver na nossa caça ao tesouro, separamos o grupo por interesses e fomos bater perna e caçar os nossos “mortos preferidos”, por mais estranho que isso soe.
Depois de aliciar a estátua do jornalista, continuamos nossa busca pelos famosos. Jim Morrison foi bem difícil de encontrar. Ficamos na quadra dele, buscamos, buscamos e nada. Será que procuramos no lugar errado? Isso também é possível. 😛 Ele talvez não estivesse em uma das ruas principais e sim mais pra dentro da quadra. Ou seu túmulo não era dos mais chamativos.
E isso não é difícil de acontecer, não. O da Édith Piaf mesmo encontramos quase por acaso e depois que eu achei, aumentou o número de pessoas ao redor. Também foi mais fácil de encontrar porque ele estava próximo da rua. Se fosse depender de pompa, não encontraria.
Era bem simples perto dos demais por ali. A gente acaba esperando um túmulo chamativo pra quem brilhou em vida, né? Mas talvez a família só queira que eles passem desapercebidos pra terem seu momento de descanso e paz depois de viverem sob flashes.
Nossa curta visita ao cemitério Père-Lachaise estava acabando mas no caminho de volta à portaria, tentamos encontrar o túmulo da Rosa Bonheur, o ícone lésbico de Paris e da França. Chegamos à sua quadra, mas não tivemos muito tempo pra identificar o túmulo comparando com as fotos que encontramos na internet (ela não está na lista oficial na placa do cemitério) e estávamos atrasados, então também passamos de raspão.
Locações de “Crimes de Grindelwald” no Père-Lachaise?
Bom, ontem eu assisti a Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald pela segunda vez, pra pegar alguns detalhes da história que ficaram confusos na primeira assistida (eu achei o roteiro um pouco confuso, contei sobre isso aqui).
E reparei que, em um mapa do Père-Lachaise que aparece num momento importante do filme (não vou dar spoilers mas envolve Creedence, Nagini e alguém do lado das trevas), o corvo que Grindelwald vem usando como seu símbolo no filme está marcado em um ponto do cemitério hoje conhecido por abrigar a estátua de Casimir Périer, um político da história francesa. Olha a reprodução do mapa na imagem abaixo que encontrei no Harry Potter Wiki.
Pois bem, mas o lugar nada tem a ver com a arquitetura apresentada no filme para o mausoléu da família Lestrange. Isso porque o local de gravação, na verdade, nem em Paris fica.
As filmagens aconteceram numa parte do Highgate Cemetery chamada Circle of Lebanon.
E esse cemitério fica em Londres, ou seja, nada a ver mesmo! 😉 O Circle of Lebanon é uma estrutura em formato circular e que serviu para as cenas externas do mausoléu.
A parte interna provavelmente foi gravada em estúdio, então não adianta procurar muito. A parte subterrânea, que se abre magicamente para o anfiteatro onde Grindelwald faz seu discurso, menos ainda…
Como chegar ao Cemitério Père-Lachaise?
O Père-Lachaise está situado no 20º arrondissement de Paris (endereço oficial: 16 Rue du Repos, 75020 / mapa). Ele dispõe de 5 entradas diferentes, mas a entrada principal fica na Boulevard de Ménilmontant.
Nesse boulevard, tem uma outra rua secundária, recuada, chamada Avenue Du Boulevard e bem ali, quase na entrada principal, há uma parada de ônibus, chamada Roquette – Père Lachaise (foto abaixo). Descendo do ônibus ali, você volta poucos passos para entrar.
Se você preferir ir de metrô, a estação Philippe Auguste é a mais próxima da entrada principal, mas a estação Père Lachaise é a mais próxima de uma das entradas, e foi onde desci e pela porta pela qual comecei minha visita.
Há outras estações próximas do cemitério também, que você pode usar: Gambetta e Alexandre Dumas. Mas ambas estão nas mesmas linhas das anteriores, então, recomendo descer nas duas primeiras mesmo.
Mais fotos do Père-Lachaise?
Enfim, já tinha pensado em fazer uma visita a um cemitério durante sua estadia em Paris? É algo fora do roteiro turístico principal da cidade, mas que traz muito da história do lugar.
O Viaja Bi! visitou Paris a convite da Atout France e Visit Paris Region, mas todas as opiniões expressas aqui, são independentes e refletem minha real experiência.
1 Comentários
Pousada na Ilha Grande
Excelente post