24 de novembro de 2013

Encarando o “você pode trazer pra mim” de cada viagem

Polêmica! Polêmica! Polêmica! Não tem jeito. Você comentou com alguém intencionalmente ou por deslize que vai viajar, os olhinhos de seu interlocutor brilharam. E quando você tá felizão achando que é porque ele também está muito feliz porque você vai viajar e espera uma resposta animadora, vem aquela broxante frase: “Você pode trazer pra mim…” completada pelo objeto de desejo, seja um produto industrializado, algo natural do local ou ainda os “singelos” souvenirs.

Encarando o “você pode trazer pra mim” de cada viagem

Algumas vezes, a pessoa nem te conhece tão bem assim, nem é próximo, mas o pedido vem direto e reto. Como encarar?

Normalmente vem aquele alívio quando o lance é perfume. Ufa! “Aí você pode comprar no free-shop quando voltar ao Brasil” e fica tudo resolvido, certo? Não é bem por aí e já conto já já porque.

Vamos aos pensamentos que passam pela cabeça do viajante quando recebe esse tipo de pedido:

  • quanto eu terei que desviar do meu roteiro pra conseguir essa pedra preciosa pra essa pessoa?
  • isso cabe na minha mala já tão bem organizada?
  • isso vai ultrapassar o peso que as companhias low-cost permitem?
  • vou ter que sofrer na alfândega brasileira quando estiver voltando?
  • terei dinheiro pra pagar e ser reembolsado depois?
  • receber o dinheiro antes vai atrapalhar ou misturar com o meu dinheiro?

Sim, caro amigo-pedinte, tudo isso passa pela cabeça em menos de 1 minuto quando você revela seu mais profundo e desesperado desejo por aquele objeto “lá de fora”. Aposto que você pensava “mas é só uma coisinha e eu te pago assim que possível”. O problema, caro amigo, é que seu pedido entra numa lista com pedidos de tantos outros como você e o seu amigo viajante volta pra casa se sentindo o próprio Papai Noel. Mas o saco, apesar de cheio, não é mágico pra fazer caber todas as bugigangas de uma maneira leve e imperceptível.

E o mais legal é que algumas pessoas piram tanto nos pedidos que te fazem ter medo de contar praquela pessoa alguma vez que você vai viajar de novo. Melhor manter segredo!

Algumas missões marcantes que eu recebi:

 

Livro raro que não se encontra na Internet

Uma daquelas casinhas ali atrás é o sebo onde procurei o livro raro em Mallaig (Escócia)

Cara, se nem o Google ou a Amazon acharam, como eu vou achar? Mas enfim, lá vou eu buscar o tal livro em todos os cafundós do Reino Unido, tanto na Inglaterra quanto na Escócia. E, tipo, cafundós mesmo! Achei um sebo próximo à estação de trem no vilarejo de Mallaig que tinha títulos que não acabava mais. E uns raros e tal. Mas nada desse anotado no papel.

Status: fracassada

 

Pedrinha do Stonehenge

Depois de marcar a viagem pro Stonehenge, foi fácil cumprir essa

Ainda bem que tinha o diminutivo no final da palavra, porque, né? É o círculo milenar de pedras, gente! Antes mesmo de ter certeza que eu visitaria o Stonehenge, a missão já me foi dada. Mas, uma vez que marquei minha visita, ela ficou mais fácil. Difícil era só lembrar de não esquecer. E foi quase, mas eu venci minha memória falha. Rá!

Status: cumprida com sucesso

 

Fone de ouvido de uma marca especial

Uma das lojas mais cobiçadas pelos amigos-pedintes de eletrônicos

A missão era mais em relação ao preço do que à marca, como qualquer eletrônico pra quem é brasileiro. E esse eu busquei na Suíça, em Praga, na Escócia, na Inglaterra, em todos os free-shops que passei e até numa conexão de voo na Alemanha. Vai vendo… E cada vez que eu via aquela caixa enorme me dava taquicardia. A sorte da minha mala é que o preço de lá não compensava tanto o daqui. Ufa! Não trouxe o produto, mas cumpri a missão.

Status: cumprida naquelas

 

Lista interminável de perfumes

Aeroporto e seus free-shops: salva-vidas dos viajantes que tem amigos-pedintes

Esse era o mais fácil! Apesar da imensa lista, que incluía presentes pra minha irmã, meu pai e minha mãe, ainda tinham vários alguns de amigos e agregados. Cheguei naquela loucura deliciosa (#sóquenão) do nosso aeroporto internacional paulistano, tudo funcionando num caos quase bem e vou pro free-shop resolver minha missão.

Péééh! “Você não pode entrar com essas malas no carrinho, senhor, ou leva na mão ou deixa ali”. O ali era tipo de um guarda-volume, na frente da loja, sem armários. Ou seja, lá vai o Rafa com 2 malas de rodinha mais uma mochila tentando se desviar dos produtos delicados do free-shop com medo de ter que pagar ainda mais do que teria. Pedi ajuda de uma atendente (coitada!) que me trouxe praticamente a lista toda, mas juro que a parte de maquiagem e chocolate da lista eu procurei sozinho.

Depois de me sentir no filme Missão Impossível quando ele não pode encostar no chão (e eu nas prateleiras), cheguei ao caixa, despejei tudo lá (ah, sim, além das malas ainda tinha a cestinha de compras) e a moça me informou que de cada tipo de produto, eu só podia pegar 10 itens, mas de perfume eu não tinha passado a cota (apesar de próximo do limite).

Ela passou a compra e na hora de passar o cartão, ela disse que deu compra negada. Estranhei, mas supus que eu tinha calculado errado e o limite tinha estourado. Tirei o único perfume que seria pra mim. Ela tentou de novo e de novo, tirando um perfume de cada vez. Ela disse que provavelmente a operadora do cartão tinha bloqueado a compra porque o cartão estava sendo usado no exterior.

Se eu quisesse, poderia ligar pra lá e tentar resolver. Aí pesou na cabeça: cansaço da viagem de 2h+escala+9h, caos no aeroporto, fila atrás de mim, preguiça do telemarketing das empresas brasileiras… Desisti da compra. E aguentei a cara de decepção de pai, mãe, irmã, amigos, agregados.

Status: fracassada pra caramba

 

Bem, amigos-pedintes, esse post é mais uma brincadeira com toda essa situação com fundo de verdade, mas quando for pedir algo pro seu amigo viajante, releia esse post, imagine-se no lugar dele. Se mesmo assim, for algo que realmente não atrapalha, viva a amizade! Mas bom-senso, por favor!

E você, viajante, que repassou aquela lista de perguntas do começo dessa postagem e viu que dá pra cumprir sua missão, porque não dedicar um esforcinho pros seus amigos-pedintes desde que sejam amigos mesmo que senão é desaforo? Pelos amigos, a gente tenta achar espacinho na mala e disposição pra encontrar algumas coisas.

 

[Post originalmente publicado em 24/11/2013 no Viagem Primata (ex-The Way Travel) e migrado por seu autor para o Viaja Bi! em 12/09/2020]

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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9 Comentários

  • lunna
    2013-11-24 12:58

    Hahaha! Me diverti com seu post! Acho que vou fazer uma versão minha! Uma pena que muitos amigos/malas/pedintes têm sempre a mesma ideia quando você conta que vai viajar! Acho que vou usar o seu post no meu blog! Beijos

    • Rafael Leick
      2013-11-24 16:58

      Oi Lunna. Que bom que gostou. 🙂
      Compartilhe esse post com seus amigos-pedintes rs quem sabe eles não pensam melhor na próxima rs depois vc me conta sobre o retorno que teve deles compartilhado, fiquei curioso rs
      Se for citar esse post no seu blog, peço pra que coloque só um trecho e link pra cá pra pessoa ler o resto, ok? Senão, ao invés de ajudar, até o ranking do Google atrapalha rs.

  • Fábio Pastorello
    2013-11-25 23:34

    Quando fomos para a Grécia, pediram pra trazer um vidro de azeite de lá. Oi??? rs. Mas ótima ideia de post, ficou bem legal. Abraços.

    • Rafael Leick
      2013-11-26 03:19

      Fábio, é que é muito difícil achar azeite aqui no Brasil. Ops! Não?

  • gui makoto
    2013-11-26 03:31

    Se for amigo proximo, ou parente proximo, dependendo compro sim, sem stress..
    Pra minha mae, da penultima vez ela pediu um perfume xis que nao achava, trouxe outro.. Ela achou ruim 🙁
    Aí na ultima vez, nao perguntei nada.. fui em uma loja, testei alguns, pedi ajuda da moça e trouxe surpresa. Aí ela gostou..
    Com relacao a conhecidos, eu falo que é 30% em cima do valor, aí muitos desistem..ahahahahah foi o jeito

    • Rafael Leick
      2013-11-26 05:13

      Gui, obrigado pelo comentário!
      Você se saiu bem pra não pedirem mais hehehehe
      Eu recebi várias histórias de pessoas que fizeram como você e trouxeram presentes encomendados pelos familiares e ainda receberam reclamações por não ser o que queriam. Eu falei pra essas pessoas compartilharem esse link na timeline da pessoa no Facebook, assim, como quem não quer nada rs
      Quando é presente surpresa gera menos stress dos dois lados.

      Continue visitando e comentando aqui no blog. Valeu pela visita! 😉

  • […] que comprei em Edimburgo. E fui procurar um livro que me pediram no Brasil. Sabe aquela coisa de encarar o “traz pra mim” de cada viagem? Depois disso, fiquei sentado em umas pedras à beira-mar pensando em como somos tão pequenos […]

  • Patricia
    2016-01-26 09:35

    Nossa Rafa você é muito bonzinho isso sim! Eu só compro em ocasiões que: não fuja do meu roteiro, que eu não preciso usar o meu dinheiro para a compra e de repente prejudicar o meu planejamento (a pessoa que troque antes ou arque com os custos do meu cartão + IOF) ou se for perfume no free shop brasileiro que já converte na hora e vai a vista mesmo no cartão porque não sou obrigada! kkkkk

    • Rafael Leick
      2016-01-26 13:37

      Hahahaha Pois é, você tá certa! hahaha Eu tenho trabalhado esse meu lado bonzinho rs
      🙂

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