Gay Surf Brazil reúne surfistas gays e lésbicas no sul do Brasil
Vou começar confessando. Não sou gay, sou lésbica, tenho uma “certa idade” (meninos na rua já me chamam de tia… há alguns anos) e sou surfista. Bem, na verdade, aspirante a surfista. Estou aqui para contar uma história – que seja a primeira de muitas – e, espero, quebrar paradigmas: como surgiu o Gay Surf Brazil.
Eu sempre quis ser surfista. Minhas primeiras lembranças do mar são lá dos meus 6-7 anos e meu pai me colocando em ondas numa prancha de isopor (joga no Google “planonda” pra saber o que era), da minha barriga assada de raspar no isopor com sal e areia e da felicidade de toda esta combinação.
Só que eu morava na Serra Gaúcha, há 2h do litoral e praia só uma vez por ano, com sorte. E eu era uma menina, não podia! Tudo conspirou contra.
Corta! Passam-se 20, (vai lá, 30+ anos) e eu acabo me mudando para Florianópolis (quem nunca quis?) para abrir a minha operadora de turismo gay-friendly, a Brazil Ecojourneys, pioneira nestas bandas, diga-se de passagem. Na minha lista de crise de meia idade constava: vou morar na praia! E vou surfar!
Comecei a fazer aulas e mais aulas de surfe. Quando criei coragem, comprei prancha, roupa de borracha e me atirei mar adentro. Não tinha idade de surfista, nem gênero de surfista, nem “corpicho” de surfista.
Me senti totalmente alienígena.
Um dia, em 2013, recebo um e-mail de Thomas Castet, um francês que mora na Austrália e que tinha um portal chamado Gay Surfers. Gay + Surfers? WHAT?!
Thomas me contou de seu documentário sobre homofobia no surfe (Out in the Line Up – bárbaro!) e que, durante a filmagem deste, queria ter incluído surfistas brasileiros, já que o Brasil é a 3ª nacionalidade mais numerosa no portal, mas que nenhum – NEM UM – quis aparecer em frente da câmera.
Armário cheio no mar afunda, mas nem assim, conseguiu alguém. Fiquei chocada!
Eu, lésbica e aspirante a surfista, nunca pensei na homofobia no surfe e nem imaginava uma organização de surfistas gays (são milhares deles no GaySurfers.net!).
Desta descoberta e desta conversa, formamos uma parceria para criar um evento, uma “surf trip gay-friendly”, a qual ajudaria a financiar a edição final do documentário.
Daí nasceu o nosso Gay Surf Brazil.
Quando fizemos a primeira edição, veio gente dos Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil. De cara, descobri que tínhamos uma história em comum: alguns eram totalmente iniciantes que sempre sonharam em surfar, mas achavam o ambiente do surfe machista e hostil ao gays.
Outros eram surfistas que não se assumiam na água e, por isso, nunca ficavam totalmente à vontade no meio. Foi uma descoberta e tanto.
Passamos dias incríveis, entre aulas de surfe, onde todos apoiavam o avanço de cada um, sessões de ioga e de caipirinhas, tudo com o visual incrível da Praia do Rosa. Uma verdadeira viagem entre amigos. Foi libertador!
Desde então, foram três edições muito divertidas, muito reveladoras da diversidade que existe na nossa comunidade.
Gays não gostam de esportes, diz o estereótipo. Tem gay para tudo, eu digo.
E a 1ª onda a gente nunca esquece. Achei minha tribo.
Gay Surf Brazil 2017
Em 2017, vamos fazer nossa 4ª edição do Gay Surf Brazil, com surfistas (e aspirantes) do Canadá, México, EUA, Alemanha, Argentina e Brasil.
Uma semana para aprender a surfar ou melhorar o seu surfe entre amigos. Vem brincar com a gente!
Para todos os detalhes (incluindo a programação) do nosso surf camp Gay Surf Brazil, acesse esse link.
2 Comentários
Harley Flausino
Uau! Adorei sua história, Marta! Emocionante e inspiradora.
Rafael Leick
Eu também achei! 🙂