Nesse último fim de semana, Juiz de Fora (MG), recebeu a 39ª edição do seu tradicional evento de concurso de beleza gay, que escolhe a mais bela transformista do Brasil. O Miss Brasil Gay Oficial 2019 reúne mais de 2 mil pessoas e conta com o apoio de representantes do turismo, como o hotel ibis Juiz de Fora da rede Accor e a IGLTA.

A Accor me convidou para viajar pra Juiz de Fora e conferir de perto e, ainda, representar o hotel como jurado no concurso. Isso mesmo, bis, eu fui jurado do Miss Brasil Gay 2019, com direito a desfile na passarela e tudo! 🙂 Bora comigo pra eu te contar como foi.

 

Como foi o Miss Brasil Gay 2019

GALERIA DA BELEZA

Como foi o Miss Brasil Gay 2019 em uma só palavra? Um luxo! 😉 O evento começa com a “Galeria da Beleza”, com personalidades que marcaram a história de 40 anos do concurso. Depois, entraram Ikaro Kadoshi e Sheila Veríssimo, que chamam os jurados. Nessa hora, quase tive uma síncope quando disseram que eu teria que passar pela passarela! Que tensão!

 

DESFILE TRAJES TÍPICOS

Com os jurados acomodados em frente à passarela, por volta das 22h, teve um show rápido de abertura e aí começou o 1º desfile, onde cada uma das misses desfilou com trajes típicos do seu estado. Algumas foram bem diferentes e interessantes como a “bruxa nativa” de Roraima, o “maracatu” de Pernambuco ou a motoqueira de São Paulo. Eu, como jurado, fui anotando minhas notas individuais na folha de rascunho para cada uma delas.

Uma coisa emocionante foi que, no desfile da Miss Mato Grosso, Jennifer Lizz, a primeira candidata surda a participar do concurso, público e jurados ao invés de aplaudir normalmente, ficaram girando as mãos pra cima, no gesto em LIBRAS que equivale ao aplauso. Foi lindo! 🙂 O evento, aliás, teve tradução em LIBRAS e audiodescrição para pessoas com deficiência visual e auditiva.

 

1º BLOCO DE SHOWS

Nesse momento, há uma pausa para que elas possam trocar o figurino. Enquanto isso, rola o 1º bloco de shows que, nesse ano, trouxe representações de ícones mundiais do movimento LGBT+ em homenagem aos 50 anos de Stonewall. Alexia Twister, Kaka Di Polly, Uatila Coutinho, grupo Barbies, Titiago, Hidra e Musa Voncarter, Divina Aloma e Yonne Karr foram os artistas e performers que homenagearam ícones como Freddie Mercury, ABBA, Donna Summer e Britney Spears, entre outros.

 

DESFILE TRAJES DE GALA

Pouco antes da meia-noite, começa o segundo desfile, o mais importante da noite, com os trajes de gala. Os primeiros estavam todos muito similares na minha opinião (e de outros jurados muito mais competentes que eu). Novamente, cada miss entra com um desfile e os jurados devem julgar quesitos como beleza, simpatia e passarela. Eu fiz minhas anotações sobre esse desfile e comparei com o primeiro, para chegar na nota final de cada candidata.

Os jurados dão uma nota de 1 a 3 para cada uma (sem números quebrados) e elegem, em sua opinião, qual foi o melhor traje típico (a minha foi a de Roraima), o melhor traje de gala (São Paulo arrasou) e a Miss Simpatia (Pernambuco tava esbanjando simpatia).

 

2º BLOCO DE SHOWS – PABLLO VITTAR

Enquanto as notas vão sendo contabilizadas, entra o segundo bloco de show e, esse ano, quem levantou a galera foi Pabllo Vittar com um show bem animado. Estava tudo certo pra eu trazer pra vocês uma entrevista exclusiva com a Pabllo, mas a produção dela cancelou de última hora, então, mores, não rolou dessa vez. Diva inacessível (ou pelo menos a produção dela quer que seja rs)! 😛

 

FINAL

Já passando das 2h da manhã, tem o desfile final, com todas as candidatas entrando novamente no palco para um desfile coletivo e o anúncio das eleições. Primeiro são anunciadas algumas categorias:

• Miss Simpatia: Narrasha Delatorre (Miss Roraima)
• Júri Popular (votação prévia na internet): Kamilla Duarte (Miss Rio Grande do Sul)
• Traje Típico: Antonia Gutierrez (Miss Pernambuco)
• Traje de Gala: Radha Vasconcellos (Miss São Paulo)

A vencedora do Júri Popular, ganha um ponto a mais na somatória geral das notas dadas pelos jurados.

Aí entrou no palco a Miss Brasil Gay 2018, Yakira Queiroz, que fez seu último desfile antes de passar a coroa para a vencedora de 2019. É feita uma seleção das 12 semifinalistas, depois das 5 finalistas.

Dentre essas, o pódio ficou:

• 1º lugar – Miss Brasil Gay 2019: Antonia Gutierrez (Miss Pernambuco)
• 2º lugar: Radha Vasconcellos (Miss São Paulo)
• 3º lugar: Jennifer Lizz (Miss Mato Grosso)
• 4º lugar: Lunna Mitchel (Miss Maranhão)
• 5º lugar: Alyssa Drummond (Miss Rio de Janeiro)

 

Experiência como jurado do Miss Brasil Gay 2019

Participar como jurado do Miss Brasil Gay 2019 foi, no mínimo surreal! Eu não sou do mundo da beleza, nunca tinha nem assistido um concurso do tipo, quem diria, ser jurado de um!

Quando eu recebi o convite da Accor e do evento, fiquei receoso por não ter critérios técnicos suficientes, mas entendi um pouco melhor como funcionaria e resolvi encarar o desafio. Chegando ao local do evento, fui direcionado para um camarote específico para jurados e convidados.

Lá já dou de cara com Walério Araújo, estilista que foi considerado, em 2010, como um dos profissionais mais importantes de São Paulo e comparado, por sua ousadia, ao britânico Alexander McQueen. Logo ao lado, Aretuza Lovi, uma das drag queens com maior projeção no país.

Dentre os influenciadores, o querido Luh Sicchierolli (Estilo Bifásico), também super reconhecido no assunto. Se não pudesse ficar mais nervoso, me chamaram pra ser a 2ª entrevista da transmissão ao vivo pelo YouTube, logo depois do organizador do evento, André Pavam. Assista eu fingindo costume no minuto 18:41 do vídeo oficial:

Aí foi a hora que fiquei nervoso porque minutos antes, descobri que teria que passar pela passarela para chegar à mesa dos jurados. Mana!!! COMASSIM! Minha 1ª vez na passarela e eu nem meme tenho pra isso! 😛 Já pedi um toque ali pro Walério Araújo nos bastidores, se deveria ir com blazer aberto ou fechado e fiquei nervossíssimo!

Na fila para entrar no palco, entre os 23 jurados, já vi algumas outras feras alinhadas. O deputado gay David Miranda (que substituiu Jean Wyllys no Congresso Federal), Dudu Bertholini, Gustavo Mendes, Milton Cunha e o ator Theodoro Cochrane, que foi meu vizinho na mesa de jurados. No vídeo da transmissão oficial, eu sou chamado pra passarela na minutagem 1:16:14. Vai ver minha performance maravigold!

O trampo de julgar os desfiles é uma baita responsabilidade, para muito além do concurso em si. Você está julgando os sonhos das candidatas. Não é simples, não é fácil, mas foi uma experiência e tanto pra mim. Valeu, mais uma vez, Accor e Miss Brasil Gay 2019 pelo convite.

Depois da votação e premiação, rolaram 2 festas simultaneamente em áreas diferentes do espaço onde aconteceu o Miss Brasil Gay 2019. No andar de cima, rolou a Funhouse, com uma música mais pop e que começou um pouco mais cedo, ainda durante o evento, e a Stomp, que aconteceu numa área reservada na lateral do evento e pra onde eu fui mais tarde… e fiquei até às 7h da manhã! 😛

 

História do Miss Brasil Gay 2019

O Miss Brasil Gay 2019 comemorou os 40 anos chegando à 39ª edição do evento (por alguns anos, ele não aconteceu). Criado em 1976 pelo cabeleireiro Francisco Mota, conhecido por “Chiquinho” e por “Mademoiselle Debret de Le Blanc”, é o maior concurso de beleza gay do Brasil e é considerado Patrimônio Imaterial de Juiz de Fora desde 2007.

A competição acontece entre homens gays (não podem ser travestis ou mulheres transexuais) transformistas, representando cada um dos estados brasileiros. Por regra, eles não podem ter passado por nenhum procedimento cirúrgico com próteses como inclusão de seios ou glúteos.

O concurso é super tradicional na cidade e movimenta não só a comunidade LGBT+ como os héteros de Juiz de Fora também. É nesse período, em agosto, que acontece a maior parte da programação LGBT+ da cidade. Até poucos anos atrás, havia uma Parada nas ruas mas, pelo que entendi, ela não acontece mais.

Em compensação, a UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) montou uma programação durante vários dias na Semana Rainbow UFJF, que é divulgada em toda mídia local e o Miss Brasil Gay também entra na programação da Rainbow Fest, organizada pelo Movimento Gay de Minas (MGM). É bem interessante de ver.

Eu não tive oportunidade de explorar a cidade mas, pelo que sei, é uma cidade super friendly e aberta à comunidade LGBT+ e eu acho que o Miss Brasil Gay tem um papel importantíssimo nessa aceitação. Hoje, o órgão de turismo da cidade é associado à IGLTA, associação internacional de turismo LGBT+ e, além da divulgação, pensa em ações propositivas para a comunidade.

 

O que é transformista? É uma drag queen? Qual a diferença?

Eu me peguei com essa mesma dúvida quando fui convidado pro evento. Mesmo há 5 anos trabalhando com turismo LGBT+, sempre há espaço para aprendizado e, humildemente, fui pesquisar o que é transformista, qual a definição, e também entender se tinha alguma relação direta com o que conhecemos por drag queen, afinal só tinha ouvido falar de transformista nos antigos concursos do Silvio Santos quando eu era criança. Será que é tudo igual?

É e não é. Explico: transformista é quem usa a arte para transformar seu visual. Um homem usa toda uma estrutura de figurino, maquiagem, trejeitos e afins para se transformar visualmente em uma mulher. E drag queen é, de alguma forma, uma transformista. Mas nem toda transformista é drag queen.

A drag vai, geralmente, para um lado mais excêntrico, caricato e de humor. Ela brinca de maneira divertida e artística com o lúdico. No caso das transformistas que participam do Miss Brasil Gay, a transformação vai para de fato parecer uma mulher, transparecer feminilidade e, mais do que isso, parecer uma mulher miss! Então, além do visual, entra também o comportamento, o caminhar, os trejeitos etc.

Ficou claro? É um trabalho artístico sensacional e, se eu encontrasse na rua com várias delas, juraria de pé junto que é uma mulher desde o nascimento. E, como fez comigo me ensinando, o concurso visa dar visibilidade à causa.

O coordenador do evento, Michel Bruce, disse para o G1 que “o objetivo do Miss Brasil Gay é lutar em favor dos direitos dos homossexuais no Brasil e posicionar o município na rota de turismo LGBTQI+nacional e internacional”.

A gente torce pra que o evento cresça cada vez mais, Michel! Se continuar como o que eu vi nessa 39ª edição, tá no caminho certíssimo!

 

Accor tem ibis Juiz de Fora como hotel oficial do evento

Durante minha curta estadia em Juiz de Fora, fiquei hospedado no próprio ibis Juiz de Fora, que é o hotel oficial do Miss Brasil Gay 2019 pelo 3º ano consecutivo. Ele é mais afastado do centro da cidade, mas é um dos mais próximos do Terrazzo, espaço onde aconteceu o evento.

Lá também ficaram hospedadas algumas das atrações do Miss Brasil Gay 2019, como as drag queens Ikaro Kadoshi, Alexia Twister, Karina Karão, Suzy Brasil, a dupla Hidra e Musa Voncarter e o bailarino Uatila Coutinho (um crush só).

Na entrada do hotel, um arco de bexigas com as cores do arco-íris adornava o hall. Algumas placas na recepção, restaurante e elevadores indicavam a venda de camarotes para o Miss Brasil Gay 2019, com uma foto de Pabllo Vittar estampada.

Durante o tempo que fiquei lá, vi que muitos gays e trans ficaram hospedados lá por conta da proximidade e preço mais baixo. O atendimento da equipe do hotel em nenhum momento oscilou por conta da orientação sexual ou identidade de gênero dos hóspedes.

A gerente geral do hotel, Bianca Baptista, participou de eventos da Semana Rainbow, realizado pela UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e que toma vários espaços da cidade durante a semana, e do próprio Miss Brasil Gay 2019. “Para nós esse apoio é algo muito gratificante porque estamos engajados com a causa e a Accor é uma empresa pioneira nesse compromisso com a diversidade. Nossos hóspedes LGBTQ são recepcionados com muito carinho e atenção, pois eles são muito exigentes. Saber que existe um evento tão importante na cidade nos deixa muito feliz e mais empresas deveriam apoiar a comunidade”, afirmou ao portal Panrotas.

A Accor já tem, no país, um trabalho concreto com o público LGBT+. Desde 2017, ela apoia oficialmente a Parada LGBT+ de SP e é integrante do Fórum de Empresas LGBT+, sendo a primeira empresa hoteleira a se comprometer com seus dez compromissos.

Em 2018, lançou uma cartilha enviada para todos os hotéis com conceitos básicos, glossário e datas comemorativas da comunidade LGBT+, e um manual de recrutamento LGBT+, além de receber da Prefeitura de SP o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade. Falando de recrutamento, esse ano, pela primeira vez, a Accor realizou um processo seletivo dedicado exclusivamente à seleção de profissionais transgêneros para trabalhar nos hotéis.

 

O Viaja Bi! viajou para Juiz de Fora a convite da Accor e foi jurado a convite do Miss Brasil Gay. Todas as opiniões expressas aqui, são independentes e refletem a real experiência.

 

>> Acompanhe o Viaja Bi!: Instagram, YouTube, Facebook e Twitter.

Hospedagem | Seguro Viagem | Câmbio | Aluguel de carro