O lado ruim de viajar sendo blogueiro de viagem
Ouço constantemente que eu tenho a vida dos sonhos. Trabalho viajando e isso é maravilhoso. Mas nem tudo são rosas. Como toda profissão, tem seus ônus e bônus. E hoje eu vou contar um pouco pra vocês do lado ruim de viajar sendo blogueiro de viagem.
Veja bem, não reclamo da minha vida, não. A intenção desse texto não é reclamar de barriga cheia nem colocar minha profissão acima ou abaixo de qualquer outra. É só diferente.
“Cara, a sua vida é a vida dos sonhos! Tem ‘o lado ruim de viajar’? Não é possível!”
“Ê que vida boa, só viaja, hein?”
“Essa é a vida que eu pedi a Deus!”
“Quer trocar de trabalho?”
Essas frases e as muitas variações delas já são lugar comum no meu dia-a-dia. Dizer o que faço da vida é quase constrangedor por saber que uma delas vai vir disparada automaticamente. Assim, sem pensar mesmo.
Afinal, quem não gosta de viajar? Conhecer culturas diferentes, novas pessoas, comidas nunca provadas?
É super compreensível.
O lado ruim de viajar sendo blogueiro de viagem
Mas, como qualquer coisa no Universo, essa vida boa tem o outro lado da moeda. E um que às vezes é difícil de se pagar.
Antes de mais nada, qual o objetivo de um blogueiro? Ganhar dinheiro? Não que seja ruim, mas não é o principal, pelo menos de blogueiros que querem ser respeitados. A essência do blog vem de opinião, de textos de cunho pessoal e parcial.
O blogueiro quer contar pra quem quiser ouvir a sua visão de mundo sobre um destino, um passeio, um hotel, um restaurante, uma companhia aérea, um site de reservas ou qualquer outro tópico relacionado às suas experiências de viagem. Foi daí que tudo começou. Como um hobby.
E aí que isso começou a chamar a atenção de todo mundo, afinal esse carinha é um influenciador de opinião, já que as pessoas gostam do que ele fala, querem fazer as mesmas viagens que ele quer fazer… E se a essa empresa oferecesse seu produto pra esse novo astro, dando um agradinho pra que ele fale (quem sabe) bem do produto? E o blogueiro vai lá, testa e conta o que achou. E os bons blogueiros, na minha opinião, vão contar justamente o que viveram, com os prós e contras. É a forma que trabalho.
E, apesar dessa avaliação ser também subjetiva, ela deve ter alguns critérios básicos, mais objetivos, que balizam a comunicação com os leitores, pra que todo mundo consiga botar em base de comparação o que está sendo avaliado.
E isso também significa que mesmo não sendo uma mídia tradicional como revista e jornal (e até mesmo por isso), durante a viagem ou evento devo estar duplamente atento a tudo que acontece, tomar notas para não esquecer de coisas e impressões importantes, fotografar e/ou fazer vídeo, dependendo do que foi acordado. Guardem essa informação.
Durante a viagem, as redes sociais do blog também devem ser atualizadas constantemente. É o momento que chega mais audiência qualificada e não só números, a interação aumenta, o interesse no blog fica mais genuíno que nunca. É ao vivo, tá acontecendo ali. E no caso de blogtrip, o parceiro espera que haja esse compartilhamento, apesar de não ser obrigatório.
Se for alguma campanha, aí é esperado e obrigado a acontecer. Então essa demanda precisa ser suprida e conexão de Internet precisa ser arranjada, seja qual for o modo. No caso de campanha, que é contratada, isso pode e, normalmente, é negociado com o parceiro por contrato, mas se for teste de um produto ou serviço específico, isso acaba ficando por nossa conta. Por conta disso, temos que buscar SIM cards locais ou um modem de conexão nos lugares que vamos visitar, caso seja complicado ter Wi-Fi. Guardem essa segunda informação.
Tá, mas e no caso de viagem por conta, de férias? Aí dá pra se divertir, né? Dá, essa é a parte mais legal, mas as redes sociais continuam tendo que ser atualizadas constantemente. O blogueiro quase nunca pode se dar ao luxo de ficar offline, apesar de eu tentar inserir muitos momentos desse tipo nas minhas viagens. Talvez isso contribua ainda mais com minha paixão por trekkings de mais de um dia ou passeios pra lugares tão ermos que não há conexão.
Mas não dá pra desligar totalmente, já que as notas devem continuar a ser tomadas, assim como fotos a serem tiradas e vídeos a serem gravados. Então, durante a viagem, você como blogueiro continua, sim, trabalhando. É o momento de captação. É aquele tempo a menos na Laguna Cejar no Deserto do Atacama porque você teve que tirar fotos de vários ângulos antes de cair na água, sabe?
E uma boa captação faz toda a diferença na hora de selecionar e tratar as fotos, de editar o vídeo ou escrever um texto completo, que seja contando da experiência mas também informativo e interessante pro leitor.
Não podemos esquecer também o lance da bagagem. Como eu gosto de fotografia e vídeo, apesar de ainda estar aprendendo, tenho um investimento nesse sentido. Financeiro e físico, pois pra viajar, além do mochilão normal ou da mala, eu ainda levo uma mochila só com os equipamentos.
Tem câmera semi-profissional, GoPRO, celular, cartões de memória, baterias extras, além de tripé (em alguns casos), lente extra, equipamento pra limpar lente, iPad e até laptop. E lembrando que tudo isso tem fios de energia e carregadores. Nos trekkings da Trilha Inca e Cânion de Colca, minha mochila estava sempre entre as mais pesadas e, isso porque tento ser econômico na bagagem. De verdade!
É o lado ruim de viajar sendo blogueiro…
Mudando o roteiro de viagem
O blog e o conteúdo que vai pra ele também influencia fortemente a escolha de destinos e o roteiro que você faz em toda e qualquer viagem. Claro que ninguém vai deixar de ir pros lugares que quer e sonha conhecer, mas muitas vezes, entre um destino que você quer muito muito conhecer e um destino que você quer conhecer e que tem muito a ver com o perfil dos seus leitores, você acaba optando pela segunda opção e a primeira pode acabar nunca rolando.
Por natureza, blogueiro de viagem é um bicho curioso viajante que quer conhecer todo e qualquer canto do globo, mas tem alguns destinos que não figuram no topo da lista. Mas se ele figurar no top 10 dos seus leitores, ele acaba entrando no seu, seja por escolha ou por parcerias propostas.
A escolha de hospedagens também acaba sendo afetada, porque gosto de trazer principalmente hostels e hotéis que tenham algo diferente do básico e que por conta disso, mereçam um review aqui. E esses nem sempre são os mais baratos, né?
E por mais que eu ame viajar mais que tudo, lá no fundo, às vezes me sinto sem liberdade plena pra fazer as minhas viagens, seja na elaboração ou enquanto estou lá “curtindo”.
Normalmente, antes de viajar, ainda temos que trabalhar em dobro pra deixar postagens programadas pro período da viagem no blog e em algumas redes.
Então, em resumo, a profissão blogueiro de viagem é a principal motivação pra viajar mais e, ao mesmo tempo é uma moeda cara já que tira a liberdade em certa medida e mexe na coisa que mais gosto de fazer: viajar. E viajar independente e do modo mais primata/primitivo possível, como eu gosto, fica ainda mais difícil estando conectado sempre.
Toda escolha tem seu preço. Mas tudo bem, isso não reforça só o lado ruim de viajar sendo blogueiro.
Esse é um preço que estou disposto a pagar. 🙂
Tem alguma outra dica sobre o lado ruim de viajar? Deixe nos comentários pra ajudar outros viajantes!
[Post originalmente publicado em 25/04/2016 no Viagem Primata e migrado por seu autor para o Viaja Bi! em 21/01/2019]
25 Comentários
Camila Lisbôa
Sei bem o que vc tá falando, Rafa… Esse fim de semana eu fui fazer um passeio, todo mundo lá, brincando na neve e eu preocupada com o snapchat e as fotos pro blog hahaha.
Mas não reclamo não, tô felizona!
Rafael Leick
Exato. Tem o lado ruim, mas isso não significa que não seja bom e, principalmente, que não seja o que a gente ama fazer. 🙂
Meu blog sempre vai ser meu diário de viagem, aquele que eu volto pra ler e lembrar das coisas. 🙂
Bjs e valeu pelo comentário.
Ana Grassi
Rafa, que bacana esse texto! Me identifiquei super…mas amo tanto o que eu faço que nem me imagino viajando sem ter que tomar notas e registrar tudo… rsrsrs…
Beijos!
Ana Grassi
Rafael Leick
Acho que não tem mais como fazer isso, Ana! 😛
Estamos presos no nosso próprio amor à coisa rs
Brigado por aparecer por aqui.
bjs
Rafael Carvalho
Muito bom, Rafa. Me representa kkkk
Rafael Leick
Hahaha se identificou né, Rafa? hahaha
Brigado pelo elogio e pelo comentário 🙂
Gabi Medeiros
Rafa, por essas e outras que não conseguiria ser blogueira de viagem. As vezes fico sem saco até de fazer pose pra foto, imagina tirar várias fotos para ilustrar posts? E essa liberdade de fazer só o que quer (e não fazer, se for o caso) é muito sagrada nas nossas viagens.
Rafael Leick
Pois é, Gabi. 🙂
Acho que se eu fosse escolher hoje, sem saber dos benefícios pessoais, não toparia ser blogueiro. Mas é o que eu gosto de fazer, então vale a pena, apesar dos pesares.
Aliás, tô querendo ver mais fotos dessa sua última viagem, hein? 🙂
Gabi Pizzato
Voto em ti, Rafa! Kkkk… E as horas de sono de quem tem dois trabalhos… Coisa de doido que faz o que faz por que ama! Que conhece sabe… Em viagem, tem o “ócio e os ofícios”, nada passa em branco, difícil desligar! Super beijo!
Rafael Leick
Dificílimo desligar, Gabi. Não é fácil mesmo. Na real, só uns pedacinhos de tempo mesmo rs
Pois é, ainda tem essa dos dois trabalhos.
Mas é tão gostoso, né? Isso que dá amar o que se faz! 🙂
bjs
Fabio Pastorello
Muito legal o texto, Rafa. Super concordo, realmente desde que comecei a trabalhar com viagens, vejo o preço que tenho que pagar. Aliás, vez por outra penso que escolhi a pior profissão, já que sou super tímido, não gosto de ficar me promovendo, e justamente é o que eu tenho que fazer. Mas enfim, os lados positivos têm valido muito a pena. Além das amizades, é lógico, a sua entre elas. Beijos.
Rafael Leick
Ah seu lindo. Faço das suas palavras as minhas. É um preço mais alto pra alguns, mas vale a pena pagar. E pra mim valeu a pena.sua amizade já me mostra isso. Bjão
ANNA PAULA MARTINELLI
uuhhh-uhhh-uhhh pobre menino rico.
só pra não perder o costume da zoeira.
haha
Rafael Leick
A lá você rs Quem dera fosse rico que aí não teria problema pra viajar rs
Cynthia Sordi
Muito legal o texto!! Escreveu muito bem o que é ser blogueiro de viagens, com as vantagens e desvantagens.
E o melhor é que mesmo assim adoramos o que fazemos!
Rafael Leick
Oi, Cynthia.
Valeu pelo elogio e comentário! 😉
E é verdade, às vezes sentimos o peso, mas eu gosto muito do que faço, então vale a pena! 🙂
bjs
Adriana Magalhães
Sou blogueira de viagem, mas não ganho dinheiro com isso (o que ganho no blog é tão pouco que não daria pra viver, não agora). Então minhas viagens não são tão profissionais quanto as tuas, mas também carrego equipamentos extras e fico atualizando redes sociais.
Por enquanto tenho que continuar no meu emprego… E trabalhando no blog como satisfação extra….
Fui na WTM tb, pena que não nos conhecemos.
Acompanhei sua trip pelo Peru. Show
Parabéns pela parceria do Lonely Planet
Rafael Leick
Oi, Adriana!
O blog ainda não é meu único sustento, mas encaro ele como uma empresa e de forma super profissional, além, é claro, de ser uma coisa que amo fazer por hobby.
Pena que não nos vimos por lá. Na próxima feira, quem sabe nos encontramos! 😉
Brigadão pelos elogios e pelos parabéns! Continue acompanhando então, hein?
PS: achei seu logo muito fofo.
bjs
Clay
Interessante a leitura, gostei muito, mesmo com os contras é uma profissão dos sonhos <3
Parabéns pelo blog!
Rafael Leick
Oi, Clay. Valeu pelo comentário. Não é a minha única profissão, mas realmente é o que gosto de fazer, mesmo com todos os contras. Dá trabalho mas me sinto satisfeito no fim do dia. 🙂
Brigadão pelo elogio.
Thais
Exatamente isso Rafael.
Nós blogueiros sabemos que a profissão não é só glamour como todos pensam. Perdemos a liberdade sim, mas ganhamos a liberdade de conhecer o mundo e por escolha própria. 🙂
Ótimo post.
Abraços
Thais Blog Love and Travel
Rafael Leick
Oi, Thais.
Valeu pelo comentário e elogio! O que a gente ganha vale muito mais do que o que perdemos! 😉
bjs
VICTOR BELLOTI LOPES DA SILVA
Cara, se esse é o lado negativo eu não preciso nem de lado positivo pra me jogar de cabeça hahaha
Muito bacana os artigos, achei o blog hoje e começarei a acompanhar mais de perto!
Grande abraço!
Rafael Leick
Hahahaha Olha, na prática, o lado negativo é um pouco mais chato que na teoria, mas ainda assim, é o que eu amo fazer. Então, tem lado ruim? Tem! Mas tô super disposto. Pra mim, vale super a pena. =)
Valeu e seja bem-vindo. Espero contar com você sempre aqui pra continuar fazendo valer a pena rs
Abs
Roteiro de 13 dias na Argentina: Buenos Aires, Bariloche e Rosário | Viagem Primata
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