26 de julho de 2013

Trabalho voluntário na Escócia: HelpX numa pousada gay

Começo dizendo “ooii, quanto tempo” porque é verdade. 1 ano e meio sem blogar, uma vergonha deslavada, mas tô de volta, lindo e bronzeado! 😛 E com uma experiência nova: trabalho voluntário na Escócia.

Entrada do Cherry Tree Lodge, o B&B onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Entrada do Cherry Tree Lodge, o B&B onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Tô aqui pra contar como foram as minhas férias (tão merecidas, depois de 10 anos) de um mês na Europa. Sim, mais do continente europeu, mas dessa vez foi tudo bem diferente do que a anterior. Eu não estava morando lá, estava de férias mas foi muito menos “turismão” e mais uma viagem de auto-descoberta e de se permitir. E foi sensacional! A viagem da minha vida, com certeza.

 

Trabalho voluntário na Escócia

A metade desse mês estava programada para ficar num esquema de trabalho voluntário na Escócia com o HelpX. Tá, o que é essa coisa de HelpX? O “Help Exchange” (HelpX) é uma comunidade online onde você pode ser um host ou um helper. O helper (normalmente você) vai ter acomodação e muitas vezes comida em troca de alguma ajuda, que os hosts precisam. Eles postam “anúncios” nessa comunidade.

Vista do Cherry Tree Lodge, onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Vista do Cherry Tree Lodge, onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Essas ajudas podem ser das mais variadas, desde cuidar da mãe idosa de uma trabalhadora da cidade ou dar uma força no hostel daquele cara ou ainda fazer trabalhos braçais em uma fazenda orgânica mais afastada. Escolhi essa última para fazer trabalho voluntário na Escócia.

Existem duas modalidades de cadastro para os HelpXers (helpers, é nóis). Uma gratuita, na qual você monta seu perfil, diz pra onde quer ir e torce pra atrair a atenção de alguém legal que precise de ajuda naquela região, ou a modalidade onde você paga US$ 29 e por um ano você tem liberada a função de entrar em contato com hosts. Também escolhi a última.

Fiz uma busca por Escócia e o lugar mais legal que encontrei (e tive um feeling energético logo que vi), foi o que no final das contas acabou dando certo. Entrei em contato com o Mark e o Till, o casal gay dono desse B&B isolado que fica próximo ao vilarejo de Saline e a 30min de trem de Edimburgo, explicando o porque de eu ter escolhido o Cherry Tree Lodge.

Marcamos uma reunião via Skype, já que os interesses pareciam comuns, e deu certo. Simpatizamos e combinamos que eu estaria lá no finzinho de maio por 2 semanas. No HelpX tem anúncios que tem ajudantes desde 2 semanas até alguns anos. É quase que um estilo de vida.

Pittencrief Park, em Dunfermline

Pittencrief Park, em Dunfermline

Com esse atraso, fui de mala e cuia (literalmente) para o centrinho da cidade, que tem cerca de 50 mil habitantes, onde perambulei por umas 3h. Mas foi ótimo. Fui ao Pittencrieff Park (conhecido também como The Glen) e fiz compras na Primark (uma calça bacaníssima de pijama do Onde Está Wally?).Cheguei lá por Londres e segui de trem (5h de viagem), com conexão em Edimburgo.

Desci na estação de Dunfermline Town e o Mark e o Till iriam me pegar lá. Para minha surpresa, o carro deles quebrou e eles deixaram, por telefone, um recado com o guardinha da estação, que me abordou perguntando se eu era o Rafael (sim, fiquei chocado, mas a estação é bem pequena e sossegada, então deu pra entender).

Rua principal de Dunfermline

Rua principal de Dunfermline

O Till me encontrou tomando um café no Costa Café e fomos buscar o Mark, que estava no supermercado. Eles acabaram alugando um carro. No primeiro dia, foi mais um reconhecimento de terreno do Cherry Tree Lodge, que é MA-RA-VI-LHO-SO. Cara, que lugar sensacional. Pelas fotos dá pra ter uma ideia do que seria “trabalhar” ali nos próximos dias. Seria perfeito em qualquer situação, mas pra mim foi ainda mais incrível porque eu estava num momento de fechamento de ciclo pessoal e lá foi o cenário perfeito pra colocar a cabeça e o corpo em harmonia. E fechar esse momento com um trabalho voluntário na Escócia parecia perfeito!

Tanto o Mark como o Till tem um cuidado com a energia do lugar e pessoal também. Toda manhã fazíamos, na hora do café-da-manhã, um “check-in”, que consistia em uma rodada em que cada um falava como foi seu dia anterior, sua noite, quais as expectativas para o dia que tínhamos pela frente e qualquer outra coisa que quisesse compartilhar. No começo achei até um pouco invasivo e tinha que me exercitar para pensar no que ia falar. Depois percebi que esse exercício, feito diariamente, te torna mais consciente de quem você é, o que você quer, o que não quer mais, o que é importante pra você e o que não é e assim por diante. E isso pro meu processo pessoal foi ótimo.

Jardim da casa onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Jardim da casa onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Em relação ao trabalho e horas trabalhadas, tive bastante flexibilidade. A proposta inicial era que nas duas semanas eu teria 5h de trabalho voluntário na Escócia por dia e 5 dias por semana. Antes de eu embarcar pra Europa, eles me falaram que esperavam que eu cumprisse 50h durante essas semanas, mas que eu poderia condensar as horas em menos dias e ter mais dias de folga, que foi o que acabei fazendo. Sendo assim, consegui esticar minha viagem de carro pela Escócia. Mas vou me ater agora ao meu tempo no Cherry Tree Lodge.

Minhas principais tarefas consistiram em:
– cuidar das 7 galinhas e do galo (comida, passeio, limpeza…);
– tirar o musgo da grama
– cortar lenha (muito menos sexy na máquina do que com o machado, mas mais fácil);
– mover galhos e folhas para uma fogueira;
– coletar, lavar e datar os ovos;
– lixar uma cabana de madeira cheia de musgo que receberia pintura mais tarde;
– separar o lixo orgânico e colocar uma parte dele na composteira;
– eliminar plantas e rochas de uma área e nivelar o chão (esse foi punk).

Trabalho voluntário na Escócia: cortar lenha não teve tanto sex-appeal quanto imaginei

Trabalho voluntário na Escócia: cortar lenha não teve tanto sex-appeal quanto imaginei

As tarefas externas, quase todas, foram distribuídas entre os dias de tempo bom (eu dei sorte e acho que peguei os 13 dias de sol que a Escócia tem no ano) e cortar lenha, que eu fazia dentro da cabana, ficou para o único dia e meio que choveu.

Esse trabalho voluntário na Escócia foi bem braçal, como vocês podem perceber, mas era ótimo que o corpo trabalhava independente do cérebro, que abriu uma portinha e me permitiu viver sozinho diversas emoções que estavam trancadas lá dentro. Enquanto trabalhava, tive momentos literais de riso e choro e foi ótimo. Me limpei por dentro também. Joguei pra natureza o que estava acumulando e ela me encheu de energia nova. Essa experiência foi um “turning point” na minha vida. Faria de novo.

Trabalho voluntário na Escócia com aprendizado: ali fora, a composteira de lixo orgânico

Trabalho voluntário na Escócia com aprendizado: ali fora, a composteira de lixo orgânico

Alguns dias, fizemos um intervalo pro chá antes do almoço e num desses dias o Mark me contou um pouco da história de vida dele, como se assumiu gay, a relação com a família etc.. A história dele, em alguns aspectos, se assemelham ao que já vivi, mas numa intensidade diferente. Foi legal estreitar um pouco essa relação também. Não gosto de relações superficiais e como íamos conviver 15 dias juntos, achei ótimo isso ter acontecido.

A comida lá era mais orgânica e com uma tendência forte ao vegetarianismo. Não achei ruim, me viro bem nesses casos também. Como eu não sou um expert na cozinha, eu basicamente ajudava o Mark como assistente na preparação das refeições (o Till trabalha fora) e a limpeza da cozinha ficava depois por minha conta, coisa que aliás o Mark elogiou antes de eu ir embora, pois ele tinha um apego com a cozinha e ficou aliviado de ver que eu cuidava dela com tanto carinho. 🙂

Vista do Cherry Tree Lodge, onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Vista do Cherry Tree Lodge, onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Escolhi começar minha rotina logo após o café-da-manhã, que era às 7h30. Descontados os intervalos pra chá e almoço, eu finalizava o dia de trabalho por volta de 15h/16h e tinha o resto do dia livre para fazer o que eu quisesse. Escrevi, dormi na grama com sol na cara, caminhei… Basicamente, me curti. E foi ótimo. Nem sempre é fácil ficar consigo mesmo. Mas me dei super bem comigo nesses dias, vivi uma lua-de-mel. 😛

Na 2ª semana, peguei alguns dias de folga para a viagem de carro e no dia que voltei, chegou também um outro HelpXer, o Antoine, um francês de 21 anos que estuda Filosofia e não falava muito bem inglês, mas que era muito engraçado e me ajudou muito a rolar pedras enquanto limpamos a área onde será construída uma escada de pedras (essa que rolamos) e nivelamos o chão. E nesses dias rolou uma disputa França x Brasil no futebol. Ele me provocou, mas não teve jeito, o Brasil ganhou e eu zoei bastante com ele.

Vista fantástica da sala de descanso, com um sol muito gostoso, na pousada onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Vista fantástica da sala de descanso, com um sol muito gostoso, na pousada onde fiz trabalho voluntário na Escócia

Com Antoine, um outro "HelpXer", e Mark, um dos donos do Cherry Tree Lodge

Com Antoine, um outro “HelpXer”, e Mark, um dos donos do Cherry Tree Lodge

Com Till, o outro dos donos do Cherry Tree Lodge

Com Till, o outro dos donos do Cherry Tree Lodge

Trabalho voluntário na Escócia: e essa vista às nove da noite?

Trabalho voluntário na Escócia: e essa vista às nove da noite?

Tive vários momentos de diversão por lá também, além de fazer uma versão adaptada do que se tornou o meu Brigadeirão à la Scottish.

Durante as horas de trabalho, era inevitável às vezes parar pra olhar a paisagem, que me permitiam ver ao longe o Ben Lomond, perto de Loch Lomond, e o Wallace Monument, que fica no topo de uma montanha em Stirling, cidade nas redondezas. Com o tempo bom, pude curtir o melhor da Escócia, paisagens de tirar o fôlego e ali não foi diferente.

No último dia, uma sobremesa de despedida: Brigadeirão à la Escocesa

No último dia, uma sobremesa de despedida: Brigadeirão à la Escocesa

Agradeço ao Mark e ao Till pela oportunidade e tempo excelente que eu tive. Na minha última noite, tivemos um “share meeting” (sessão de compartilhamento) onde tanto eu quanto os três (Mark, Till e Antoine) compartilhamos como foram essas minhas duas semanas no Cherry Tree Lodge.

E foi ótimo ter esse feedback, assim gratuito e tão positivo. Uma vez me disseram que feedback é um presente que você dá pra alguém e eu concordo. Esses presentes que ganhei na Escócia já foram e continuarão sendo muito úteis e importantes na minha vida.

Ali atrás a cabana que Antoine e eu lixamos

Ali atrás a cabana que Antoine e eu lixamos

E eu fiquei todo sujo depois de lixar a cabana de ferramentas (e o Mark achou que eu estava queimado do sol)

E eu fiquei todo sujo depois de lixar a cabana de ferramentas (e o Mark achou que eu estava queimado do sol)

Essa “casinha” que vai ser um estúdio de arte, tem paineis de captação de energia solar, com incentivo do governo

Essa “casinha” que vai ser um estúdio de arte, tem paineis de captação de energia solar, com incentivo do governo

21h com essa vista e essa claridade

21h com essa vista e essa claridade

E o sol durou…

E o sol durou…

Às 22h, o sol começava a se pôr

Às 22h, o sol começava a se pôr

E só às 23h escurecia de verdade (mais ainda assim tinha luz no céu a madrugada toda)

E só às 23h escurecia de verdade (mais ainda assim tinha luz no céu a madrugada toda)

Virei um legítimo escocês! Só que não.

Virei um legítimo escocês! Só que não.

Os guerreiros depois de rolar pedras imensas o dia todo

Os guerreiros depois de rolar pedras imensas o dia todo

Bye, bye, Cherry Tree, see you soon!

Bye, bye, Cherry Tree, see you soon!

 

[Post originalmente publicado em 26/07/2013 no Viagem Primata e migrado por seu autor para o Viaja Bi! em 17/06/2019]

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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24 Comentários

  • Mauricio Oliveira
    2013-08-17 19:48

    Que experiência bacana heim! Adorei e deu vontade de ir tb.<br />Lindas fotos. Parabens Rafa. 😉

    • Rafael Leick
      2014-02-03 23:35

      Cara, se tiver oportunidade, vá mesmo, porque foi uma das melhores experiências da minha vida, senão a melhor.

  • Natasha Schiebel
    2013-08-17 19:49

    Adoreeeeei, Rafa! Vou dar uma estudada nessa possibilidade para umas férias diferentes logo mais! 🙂

    • Rafael Leick
      2014-02-03 23:36

      Nah, tenho certeza que você vai adorar… é uma experiência muito lá de dentro, muito de verdade.<br />;)

  • Elaine Leick
    2013-08-17 19:50

    No início foi difícil entender como conciliar férias e trabalho. Fiquei super feliz por você ter aproveitado tanto e conseguir com a viagem ter o resgate do seu eu. Amei o layout do blog e maravilhada com as fotos.

    • Rafael Leick
      2014-02-03 23:36

      Pois é… No início até eu pensei &quot;mas trabalhar nas férias?&quot; e essa foi a melhor decisão que tomei =)

  • Nathalia Leick
    2013-08-17 19:51

    Adorei o post…..<br />Coloca mais para conseguirmos desfrutar um pouco mais da Europa..

    • Rafael Leick
      2014-02-03 23:37

      Agora já tem mais bastante coisa =)<br />Europa é o destino mais bombado aqui hehehehe

  • Hilreli Alves
    2013-08-17 19:59

    Massa ter compartilhado essa experiência Dr Leick! Muito foda!! =)

  • Guilherme Gonsalves Calado
    2013-08-17 19:59

    Rafa, INCRÍVEL!<br /><br />Achei demais essa sua &quot;Experiência HelpX&quot;<br />No começo da leitura achei um pouco louco e doido demais, mas confesso que fiquei com vontade de fazer isso um dia também! rs<br /><br />Valeu por reportar sua experiencia a nós 🙂

    • Rafael Leick
      2014-02-03 23:39

      Gui, e se você fizer, não deixe de me contar!<br />Quero saber se só eu mesmo adorei ou se é fantástico mesmo rs

  • Fala Rafa,<br /><br />Que experiência bacana. As vezes é bom por a mão na massa e trabalhar. Tira coisas ruins da cabeça, nos faz pensar, pelo menos é assim pra mim.<br /><br />Continue postando. Faz pensar tb…hehehe<br /><br />Abração

    • Rafael Leick
      2013-08-19 22:02

      Hey, Gui! Realmente foi bem assim que aconteceu. O corpo e a cabeça trabalharam separadamente e independentemente pra depois chegar ao mesmo ritmo e me tornar mais inteiro.<br />Continuarei postando =)<br />Valeu pela visita rs<br />Abraço

  • Gabriela Lima
    2013-09-07 21:03

    Como assim eu não tinha visto isso ainda? Incrível Rafa, que experiência massa, vc sempre me surpreende!<br />Beijo!

  • Rê - Blog Sem Escalas
    2014-01-14 18:40

    Show a experiência!!! Adorei o post!

  • Ziga da Zuca
    2014-09-01 14:33

    Que experiência bacana!!!<br />Fiquei cheia de vontade!<br />Beijão!

    • Rafael Leick
      2014-09-02 01:42

      Valeu, Ziga da Zuca! =)<br />É uma experiência e tanto. Recomendo super! Se você fizer mesmo, volte pra contar o que achou, ok? o/<br />bjs

  • […] monumento é aquele que eu falei que conseguia enxergar lá de onde eu estava trabalhando naquela experiência HelpX no Cherry Tree Lodge, na Escócia, lembra? De lá de cima, a gente consegue ver a pequena cidade em miniatura; dá pra ver o Castelo […]

  • Erick Garcia
    2016-06-01 10:28

    Gostaria de saber, com inglês bem básico e sem gastos mirabolantes eu consigo uma experiência maravilhosa como essa, e se tem como duas pessoas irem para o mesmo Host.

    Att

    • Rafael Leick
      2016-06-02 03:17

      Oi, Erick.
      O ideal é que você consiga se comunicar em inglês para ter uma comunicação bacana com seu host.
      É possível e comum duas ou mais pessoas ficarem no mesmo host ao mesmo tempo. Tudo é negociado e esclarecido antes. 🙂
      Europa tá cara, mas com o HelpX você pode economizar em hospedagem e alimentação, dois dos maiores gastos.
      Espero que dê certo de você ir!
      Volte pra me contar o que achou. Abs

  • […] Foto de Capa: Rafael Leick […]

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