12 de outubro de 2015

Visitando Auschwitz, o maior campo de concentração nazista

Em janeiro desse ano, parti com meu pai pra um mochilão de 15 dias pela Europa chamado Dando a Volta na Tcheca, onde passamos por todos os países que cercam a República Tcheca, mas sem entrar nela 😉 Entre esses países está a Polônia, em que tivemos uma passada rápida de apenas uma noite na Cracóvia, no Greg&Tom Beer House Hostel (que acho que foi o hostel mais bonito que fiquei, preciso dizer) para que pudéssemos realizar uma das vontades do meu pai e conhecer o Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz, que fica na cidade de Oświęcim (Auchwitz, em polonês).

Campo de Concentração e Extermínio Auschwitz-Birkenau

Campo de Concentração e Extermínio Auschwitz-Birkenau

 

Como é visitar o Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz-Birkenau

É tudo bem intenso quando você vê de perto o lugar que foi o maior campo de concentração do nazismo e onde tanta gente foi morta simplesmente por ser quem é. Assusta pensar que hoje os fanatismos religiosos estejam caminhando nesse sentido, sem se dar conta (ou sim) de que estão fazendo a mesma coisa.

E é curioso pensar que Auschwitz não foi destruído depois da queda do nazismo justamente pra que as pessoas conhecessem a fundo toda a atrocidade que aconteceu e essa estupidez não se repetisse. Acho que tem gente precisando viajar para a Polônia.

Em 5 anos (1940-1945), foram mais de 1,3 milhão de pessoas “deportadas” somente para esse campo. Desses, 90% eram judeus. Outra maiorias eram os poloneses (140 mil), ciganos (23 mil), prisioneiros de guerra soviéticos (15 mil) e prisioneiros de outros grupos étnicos (25 mil).

Meu pai e eu fizemos esse passeio a convite do escritório de turismo da Cracóvia em fevereiro desse ano, em pleno inverno polonês. E isso fez a gente se colocar no lugar das pessoas que estavam ali. Olha só como meu pai descreveu esse cenário.

Não sei se foi sorte ou não, mas pegamos uma época fria, realmente fria, com neve de 30cm no chão, tudo branco. Era lindo de ver a neve, mesmo porque era novidade, nunca tive contato com a neve a não ser nos filmes, mas foi tão impactante a visão do cenário e ficar imaginando o que aquele povo passou, principalmente com o frio, pois nós estávamos muito bem agasalhados, com roupas e jaquetas próprias pra neve, segunda pele, luvas e gorro e ainda assim, o frio rasgava minha alma. Imagine os prisioneiros apenas com um uniforme fino.

Bruno, meu pai

A neve deixa a paisagem do Campo de Concentração de Auschwitz ainda mais bucólica

A neve deixa a paisagem do Campo de Concentração de Auschwitz ainda mais bucólica

Ao chegar lá, você deixa sua mochila num guarda-volumes e tem uma lojinha pra comprar snacks. Na saída compramos um chocolate polonês bem bom. Chegamos um pouco atrasados, porque o ônibus levou mais tempo que o previsto (provavelmente por conta da neve), então procure se programar para chegar cedo! Consegui remarcar nosso tour pro próximo horário, às 11h30.

Antes de começar o tour, você pega um audioguia na sua língua de preferência (listadas no fim do post). Escolhemos o tour em espanhol, por conta do meu pai, que não fala inglês. Como estava bastante frio e com neve, fica mais difícil pra guia falar de modo a alcançar o ouvido de todos. Então ela fala no microfone dela e o som sai nos nossos fones. Simples e prático.

Depois de pegar seu audioguia, tem uma salinha com a exibição de um documentário sobre o nazismo, que fica passando enquanto seu tour não começa. Eu peguei só o finalzinho de uma das exibições, não consegui ver quase nada, porque o tour já ia começar, ele tem horário marcado. Então, se você chegar mais cedo, consegue assistir tranquilamente.

Auschwitz era o campo principal, mas haviam vários outros campos "de trabalho" espalhados pela Europa

Auschwitz era o campo principal, mas haviam vários outros campos “de trabalho” espalhados pela Europa

 

O primeiro campo, Auschwitz I

Na entrada, como em todos os campos, a frase Arbeit Macht Frei (O trabalho liberta) adorna os portões, convidando para a morte de forma bem cínica e sádica.

Dali, percorremos várias das construções ainda em pé. Dentro de algumas, ficam expostos itens dos “presos” como óculos, malas, sapatos e brinquedos de criança. Em outras, fotos desses “trabalhadores” com a identificação do motivo de estarem ali, se eram judeus, homossexuais ou qualquer outro crime bárbaro que essa pessoa tivesse cometido ao simplesmente existir.

Arbeit Macht Frei = O trabalho liberta, em alemão

Arbeit Macht Frei = O trabalho liberta, em alemão

Passamos pelo portão de entrada do Campo, que sensação esquisita, não era nem boa nem ruim. Conforme caminhamos para dentro do campo, víamos construções (umas 50) de tijolo, uniformes e alinhadas simetricamente, que seriam os alojamentos. Entramos em alguns que tinham uns quadros de alguns presos: políticos, poloneses, ciganos, homossexuais, testemunha de Jeová e, claro, os judeus.

Em outro alojamento, roupa, escova de dente, óculos, prótese de perna e braço… enfim, os pertences dos prisioneiros e as latas dos produtos químicos que matavam os presos. O mais impactante eram os cabelos, que faziam rolos enormes.

Em outro alojamento faziam experiência “médicas”. Entramos também nas salas onde eles pensavam que iriam tomar banho. Mas era o banho de gás da morte. Muito triste.

Bruno, meu pai

Em outra construção, dava pra ver as celas “especiais” da forma como elas eram. Especiais porque elas não eram divididas em bandos, como nos dormitórios.

Outro espaço mostra um cubículo onde mal cabia uma pessoa, mas ficavam 4 pessoas em pé, apertadas, por horas, como tortura. A porta desse cubículo era minúscula e na parte de baixo.

Dá pra imaginar o sofrimento?

Os alojamentos são todos iguaizinhos e sem diferenciação

Os alojamentos são todos iguaizinhos e sem diferenciação

Por falar em sofrimento, as tão faladas câmaras de gás só se revelavam aos prisioneiros no último momento. Até então, eles tiravam toda sua roupa e seus pertences antes de entrar, achando que tomariam um banho coletivo mas, como meu pai falou, era o banho da morte.

Eram necessárias umas poucas pedrinhas no ambiente que soltavam o gás que matava todo mundo. E cabiam muitas pedrinhas em cada lata do produto. E muitas, muitas latas foram usadas. 🙁

Os comandantes dos campos moravam em mansões bem ali ao lado, com vidas perfeitamente normais e, provavelmente, a família nem sabia exatamente o que acontecia lá.

Entrada do crematório

Entrada do crematório

Umas poucas pedrinhas liberavam gás suficiente para matar muita gente, e não foram poucas latas usadas

 

O 2º campo, Auschwitz II-Birkenau, o campo de extermínio

Em Auschwitz II – Birkenau, um segundo campo ali próximo, conhecido como Campo de Extermínio, ficavam barracões onde muitas pessoas dormiam. Eram cerca de 10 pessoas pra um espaço de “cama” de madeira onde caberia apertado 1 pessoa. É muito desumano.

É revoltante pensar que alguém como o Hitler, com idéias tão malucas conseguiu convencer tanta gente de que ele estava certo. Por isso me assusto tanto ao ver Silas Malafaia, Marco Feliciano ou Jair Bolsonaro falando. Eles soam tão demoníacos e convincentes quanto Adolf Hitler. E estão movendo multidões a crer nos absurdos que falam. Não me surpreende pensar que foi com essa base de pensamento que nasceu o nazismo ou o Estado Islâmico. Enfim, isso é assunto pra outro momento, mas que você terá bastante tempo pra refletir sobre isso quando estiver visitando o campo.

Nesse espaço, dormiam cerca de 10 pessoas!

Nesse espaço, dormiam cerca de 10 pessoas!

Birkenau está incluso numa das opções de passeio e um ônibus faz o transfer entre os dois campos. Eles são bem próximos (3,5km). Mas na época em que estava ativo, o trajeto era feito de trem (como falou meu pai, “tipo lata de sardinha”) e as pessoas também chegavam com a promessa de um “trabalho libertador”.

Esse segundo campo é gigantesco, todo descampado e com poucos alojamentos ainda em pé. Bem no fundo dele (é bem distante), fazendo contraponto com a porta lá na frente, está o Memorial Internacional às Vítimas do Campo, erguido em homenagem aos mortos ali. As escrituras estão nos mais diversos idiomas, relativos às nacionalidades deles, incluindo o idish (ou yiddish), a língua falada pelo povo judeu.

Memorial Internacional às Vítimas do Campo, com homenagens nos vários idiomas dos mortos ali

Memorial Internacional às Vítimas do Campo, com homenagens nos vários idiomas dos mortos ali

Lá no fundo fica o Memorial Internacional às Vítimas do Campo, e já estamos longe da entrada, que fica pra trás

Lá no fundo fica o Memorial Internacional às Vítimas do Campo, e já estamos longe da entrada, que fica pra trás

Estávamos no inverno e, mesmo agasalhados, passamos muito frio. Agora imagine você que os presos não tinham roupas de frio. Era só aquele uniforme fininho mesmo. Tanto é que muitas das mortes no campo eram por conta das baixas temperaturas.

Havia um terceiro campo, Auschwitz III – Monowitz, mais distante, e que não faz parte da visita. Na época, ele acabou servindo de fato como um campo de trabalho, com mão de obra dos presos.

Foi uma experiência marcante tanto pro meu pai quanto pra mim

Foi uma experiência marcante tanto pro meu pai quanto pra mim

 

Como faz e quanto custa pra visitar o Campo de Concentração de Auschwitz

  • É recomendado reservar 1h30 para Auschwitz e mais 1h30 pra Auschwitz II-Birkenau para ter uma boa noção do que foi esse símbolo do Holocausto e dos crimes nazistas.
  • O complexo (Auschwitz-Birkenau State Museum) está aberto à visitação em todos os dias do ano, exceto 1º de janeiro, 25 de dezembro e no primeiro dia da Páscoa. Durante visitas oficiais, ele também pode estar fechado, mas se for o caso, eles avisam pelo site.
  • O horário de visitação e funcionamento de Auschwitz sempre inicia às 7h30 da manhã e o fechamento varia de acordo com o mês: 14h (dezembro), 15h (janeiro e novembro), 16h (fevereiro), 17h (março e outubro), 18h (abril, maio e setembro) e 19h (junho, julho e agosto).
  • O prédio administrativo que abriga a Seção de Informações de Antigos Prisioneiros, os arquivos, coleções, biblioteca, administração e outros departamentos funciona de 2ª a 6ª, das 8h às 14h (exceto feriados).
  • A visita às premissas do museu é grátis. O direito de participar de um tour guiado, com ou sem locação de audioguia é paga.
  • Existem 5 tipos de tours guiados: tour geral (2,5h ou 3,5h), tour de estudos 1 dia (6h), tour de estudos 2 dias (4h em cada dia) e tour individual guiado (3,5h).
  • Como o número de visitantes é alto, é bem recomendado fazer a reserva do seu tour com pelo menos um mês de antecedência, mas pode ser feito até 5 dias antes da visita pelo site ou de 2 a 5 dias antes, pelo e-mail reservation.office@auschwitz.org.
  • Os tours são oferecidos nas seguintes línguas: croata, tcheco, holandês, alemão, inglês, francês, hebraico, húngaro, italiano, japonês, coreano, norueguês, polonês, romeno, russo, sérvio, eslovaco, espanhol e sueco. Não, não tem português. 🙁
  • Lembre-se que você está em um local que tem um peso histórico mundial imenso, então comporte-se e vista-se adequadamente, senão podem te botar pra fora, leia o regulamento de visitas.
  • Os tours tem hora marcada, então procure chegar com antecedência, principalmente no inverno, porque o ônibus pode atrasar.
  • O trajeto com o ônibus do campo é gratuito e funciona a cada 10min entre abril e outubro, 30min de novembro a março e a cada 1h no resto do ano. A distância de 3,5km também pode ser percorrida a pé, de carro (tem estacionamentos) ou de táxi.
  • O audioguia custa aproximadamente zł 4,20 (aproximadamente €1, em out/2015).
  • O ingresso para o tour geral custa zł 70 (Zloty Polonês). Para estudantes abaixo de 26 anos, rola a tarifa reduzida de zł 60 (confira os preços atualizados antes de viajar).

[itens atualizados em 30/1/20]

 

A visita ao Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz é bem intensa. Mas vale a pena. Nos faz refletir, repensar e rever muita coisa. Então, se estiver passando pela Polônia, não deixe de incluir Auschwitz na sua viagem. E pra reservar hotéis ou hostels na Cracóvia, use esse link que você não gasta nada a mais e ainda ajuda o blog. 😉

Bom, e dessa passagem relâmpago pela Cracóvia, ficou a certeza de que preciso voltar à cidade pra conhecer ela melhor. Ela é linda bem charmosa no inverno. Imagina no verão.

[Atualização de conteúdo: 30/1/20] Como curiosidade, em 27 de janeiro de 2020, foram completados 75 anos da libertação do campo de concentração e extermínio Auschwitz-Birkenau. Para comemorar a data e relembrar do Holocausto, mais de 40 líderes mundiais se reuniram na semana anterior em Israel para evento especial no Yad Vashem, o Museu do Holocausto em Jerusalém. Dias depois seguiram para Auschwitz, onde entraram no campo acompanhando cerca de 200 sobreviventes.

 

O Viaja Bi! fez o passeio a convite da Prefeitura da Cracóvia, mas as opiniões expressadas aqui são livres e pessoais.

 

Esse post faz parte da viagem Dando a Volta na Tcheca, viagem que fiz com meu pai por 15 dias pela AlemanhaÁustriaEslováquiaHungria e Polônia, em janeiro e fevereiro de 2015.

[Post originalmente publicado em 12/10/2015 no Viagem Primata e migrado por seu autor para o Viaja Bi! em 30/01/2020]

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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5 Comentários

  • […] um campo de concentração, castelos e tantas outras coisas […]

  • Natassia
    2017-06-08 16:39

    Muito Bom!! Inclui a Cracóvia em meu roteiro de Jan/2017 e seu post foi decisivo para isso!

    • Rafael Leick
      2017-06-09 03:28

      Oi, Natassia. Poxa, que bom saber que consegui ajudar. Além da visita ao Campo de Concentração, reserve 1 ou 2 dias pra explorar a cidadezinha. Ela é super charmosa e me arrependi de não ficar mais tempo lá! E em janeiro vai passar frio! hehehe
      Obrigado e depois volte aqui pra me contar se achou que valeu a pena, ok? 😉
      bjs

  • luiza oliveira
    2021-02-20 17:45

    Você foi quando? qual mês?
    Adorei o post 🙂

    • Rafael Leick
      2021-02-22 03:38

      Oi Luiza! Tudo bem? Fui em janeiro/fevereiro de 2015, fui nos últimos dias de janeiro, então peguei o frio de fevereiro.
      Obrigado pelo comentário, que bom que curtiu o post. 😉

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