Uruguai LGBT, naturalmente friendly
Para muitos brasileiros, o Uruguai até recentemente era um país que não chamava muita atenção. Alguns fãs do turismo do frio até visitaram Montevidéu uma vez na vida, ou aspiraram conhecer um dia o destino do jetset sul-americano, Punta del Leste. Mas nos últimos anos, este pequeno país ao sul, que os gaúchos, como eu, amam como se fosse sua segunda pátria, tem aparecido cada vez mais no mapa dos viajantes internacionais descolados. É o Uruguai LGBT.
Uma das razões, sem dúvida, foi a popularidade do Pepe Mujica, o único presidente sul-americano com status de cantor pop. Quem não ama? Com sua simplicidade, falta de ganância e honestidade, Pepe conquistou a todos nós. Ele também deixou um legado estupendo em termos de avanços de direitos LGBT: aprovando o casamento igualitário e a adoção por casais LGBT e avançando nos direitos de transgêneros numa tacada só. Sem falar na descriminalização da maconha, que colocou o Uruguai no ranking dos países com legislação mais liberais do mundo. Ele também ganhou o título de país mais LGBT-friendly da América Latina em 2016. Um fato incrível para um país de menos de 3,5 milhões de pessoas. Ou seja, mais ou menos do tamanho do público da Parada de São Paulo no seu auge.
A partir destes avanços na legislação, os uruguaios começaram a se promover com bastante eficiência como “Uruguay friendly“, tanto pelo Ministério do Turismo deles como pela Câmara de Comércio LGBT do Uruguai, uma associação de empresários LGBT que já conta com várias empresas.
Mas o que tem este país simpático de atrações para o turista LGBT ou aliado? Eu, que já havia estado em Montevidéu várias vezes no passado, estive lá nos dois últimos anos a convite da Câmara e fiquei impressionada com a diversidade de opções e com a energia positiva que estas mudanças recentes trouxeram ao país.
Montevidéu, a capital do Uruguai LGBT
Começando pela capital, que é porta de entrada da maioria dos visitantes, o apelo é o turismo cultural e gastronômico. A Ciudad Vieja, o centro histórico, que já foi uma cidade espanhola cercada por muros em tempos coloniais, é super pitoresca com uma arquitetura histórica que está sendo restaurada aos poucos aos seus tempos de glória. Nesta região você vai encontrar muitos cafés tradicionalíssimos, como o turístico Café Brasilero que era o favorito do escritor Eduardo Galeano, e o Bacacay, em frente ao Teatro Solis (vale muito a pena conferir a programação), que atrai um público de teatro e BEM amigável. No centro histórico também está o ultra turístico Mercado del Puerto.
Apesar de já não ter a qualidade que tinha, ainda é um must-go para os carnívoros atrás do asado, o famoso churrasco uruguaio. Mas se ficar pelo centro antigo, não deixe de experimentar os pequenos empreendimentos de jovens chefs locais que servem comida de alta qualidade com menus fixos no almoço e preços razoáveis no jantar em bistrôs super charmosos como o Lucca, Jacinto ou o Sin Pretensiones, um misto de brechó e bistrô.
Imperdível para os que amam arquitetura é fazer um tour das dezenas de prédios em estilo Art Decó, uma das maiores coleções do mundo.
Para design mais contemporâneo e gastronomia típica, visite o recém-restaurado Mercado Agrícola.
Em termos de entretenimento LGBT, comparado com as grandes cidades brasileiras, a oferta ainda é pequena, mas há opções. Uma dica é consultar o premiado aplicativo GPS Gay criado por um casal de lésbicas locais, com versão em português, que além de ajudar a conectar com os chicos (e chicas!), tem dicas de festas, bares e boates LGBT ou LGBT-friendly.
Uruguai LGBT além da capital
Depois de Montevidéu, eu sugiro alugar um carro e fazer uma road trip pela costa das províncias de Maldonado e Rocha. A costa uruguaia é lindíssima. Não pense em praia tropical, ou nas águas quentes do Caribe, mas numa costa quase que totalmente deserta, com uma combinação de campos, dunas e florestas de pinheiros. Rústica e selvagem. Mas esta rusticidade é quebrada por pequenos vilarejos com pousadas e restaurantes charmosos, se tornando irresistível para quem gosta de natureza, mas aprecia também um turismo gourmet.
Para os mais urbanos, a primeira parada é Punta del Leste, conhecidíssima por ser o destino dos ricos e famosos latino-americanos. Eu, pessoalmente, gosto mais da igualmente exclusiva, mas menos ostentosa, José Ignácio. Hospede-se no La Viuda, um hotel boutique de um casal gay argentino que fica há poucos quilômetros do centro do vilarejo. Com arquitetura moderna típica da região e um décor de interiores divino, é uma ótima base para conhecer a região. O que não dá para perder é o almoço do La Huella, um restaurante de frutos do mar fantástico pertinho do Farol de José Ignácio.
Para quem é aventureiro mesmo, o destino dos alternativos é Cabo Polônio, um pouco mais ao norte. Sem carros e com eletricidade apenas por geradores, a luz é desligada cedo e a vila é iluminada apenas pelo seu famoso farol. Artesanato e reggae reinam aqui. Roots total.
Continuando para o norte na costa de Rocha vale ainda a pena conhecer Punta del Diablo, com sua arquitetura quase escandinava, e o Parque Nacional de Santa Teresa, próximo à fronteira com o Brasil, para mais praias desertas de beleza imensa.
Como a costa é pertinho do campo, as opções de passeios incluem visitas a vinícolas e fazendas de oliveiras (o azeite uruguaio está despontado como um dos melhores do mundo). Se estiver em lua-de-mel ou comemorando uma data especial, faça uma viagem ao pueblito de El Garzón (população de menos de 200 pessoas) para comer no restaurante do chef argentino Francis Mallmann. Conselho: reserve com antecedência, leve o cartão de crédito (estrangeiros tem desconto de até 25% usando o cartão) e vá sem pressa. Simplesmente maravilhoso.
Se você for do tipo que gosta de cidades históricas, não perca Colônia de Sacramento, uma cidadezinha colonial portuguesa encrustada em território hispânico, que é considerada patrimônio da humanidade pela UNESCO. É pequena o suficiente para conhecer em um dia, mas vale a pena ficar uma noite, principalmente para visitar as muitas vinícolas da província de Canelones, no caminho. De lá, dá para cruzar de barco rápido – em menos de duas horas – para a super gay Buenos Aires, para uma mudança radical de vibe. Mas daí já é outra viagem.
11 Comentários
Jayme
Hmmmm!!!
Me deu água na boca, estive uma vez no Uruguai por 4 dias e voltei com gosto de quero mais, esse post me deu muita vontade de voltar, só fico me perguntando se não é uma viagem para ser realizada a dois, já que este ano pretendo viajar sozinho meio que num esquema de auto-conhecimento….
Rafael Leick
Oi, Jayme!
É sensacional, né? Esse relato da Marta realmente deixa com vontade de conhecer mais. Eu encararia super essa viagem sozinho. Aliás, qualquer viagem é passível de se fazer sozinho nessa busca de autoconhecimento.
Mas vou pedir pra ela passar aqui e responder sua dúvida também =)
Bjs
MARTA DALLA CHIESA
Oi Jayme
Se é uma viagem introspectiva, acho que o Uruguai combina muito. Para mim, pelo menos, são cenários que levam a momentos de reflexão, com aquela paisagem infinita de campos e praias quase selvagens. E a parte cultural de Montevideo com certeza vai ser curtida sozinho ou acompanhado. Boa viagem!
Jayme
Marta e Rafa,
Obrigado!!! Com certeza já está entre minhas opções para as próximas férias, agora em outubro!
Beijos!
Rafael Leick
Oba! Se for mesmo pra lá, passe aqui depois pra contar como foi, ok? bjs
Allan
Amando o site e dicas de vocês. 🙂
Rafael Leick
Eba! Valeu, Alan. 🙂 Volte sempre rs
Suzie
Olá. Adorei o post mas, estou desesperada para casar fora do Brasil. Alguem sabe de informações sobre o casamento LGBT no Uruguai para estrangeiros? Algum site, email, telefone, enfim, por favor, agradeço.
Rafael Leick
Oi, Suzie, tudo bem?
Obrigado pelo retorno. Infelizmente, não tenho essas informações específicas sobre casamento no Uruguai. Mas tente contato com os associados da Câmara LGBT do Uruguai. Dê também um olhada no Estrangeira, que as meninas foram pra lá e as infos dela com certeza te ajudarão.
Beijos!
Suzie
Muitíssimo obrigada.
Rafael Leick
Magina 🙂