Viajar pro Peru pode te transformar, tá preparade?
Viajar pro Peru foi uma das experiências mais intensas e importantes da minha vida, mesmo que à época eu não me desse conta. Um mês inteirinho em um país completamente desconhecido e novo pra mim. O motivador? Uma passagem com milhas bem mais barata em uma promoção de Black Friday. Da compra até o embarque foram somente 3 meses, mas muita coisa mudou.
O emprego que me deixava confortável financeiramente mas era meu inferno diário pincelado com assédio moral chegou a um esperado fim de maneira tão grotesca quanto parte do tempo que passei lá. Mas a indignação foi superada pelo alívio.
E, pela primeira vez, me vi trabalhando unicamente com algo que eu mesmo criei alguns anos antes. Trabalhar somente com meus blogs foi um daqueles momentos de apropriação da obra por seu criador e, para minha surpresa, a demanda de trabalho parece ter aumentado.
No meio do caminho, também surgiu um convite com uma proposta, da qual muito me orgulho, de ministrar um seminário internacional (em espanhol) no Peru, nos meus primeiros dias no país, sobre comunicação e turismo. As duas áreas até hoje são as que eu atuo. A primeira, escolhi pra minha vida; a segunda, a vida me deu de presente.
Na semana anterior à viagem, entrei em um estado de nervos à flor da pele. A ansiedade, diagnosticado anos depois em terapia, aflorou como nunca. Eu estava em pânico. Era só uma viagem… mas uma viagem que me faria, em poucos dias, estar em um dos países mais místicos e visitados do mundo para dar um seminário em uma outra língua.
Além disso, um amigo nascido lá me alertava quão perigoso era o país e de quanto cuidado eu precisaria ter. Para completar meu estresse, das quatro semanas que passaria lá, somente uma delas estava planejadas. Para as outras três, não tinha tido tempo de fazer absolutamente nenhuma pesquisa, nenhuma reserva de hotel ou hostel ou mesmo de passagem aérea. Ou seria de ônibus? Eu não sabia. Nada. E agora já era tarde demais para organizar tudo.
Chegando ao meu limite, tomei a decisão mais plausível naquele momento: deixar a vida me levar e as coisas fluirem e acontecerem em seu curso natural. Durante minha primeira semana em Lima e Huacho, eu descobriria quais eram os lugares mais interessantes de visitar e como fazer isso. Só sabia que queria terminar a viagem com a Trilha Inca de Cusco até Machu Picchu, mais nada. Transformei meu estresse em aventura. Mal sabia eu que, por conta dos seminários, algumas oportunidades seriam geradas para o fim da viagem.
No meio dessa loucura, decidi embarcar em mais uma. Já que precisaria levar meu laptop para preparar e apresentar o seminário, e nos últimos meses me dedicando somente ao blog percebi a diferença que fazia escrever com frequência, decidi, durante os 30 dias, publicar 30 textos no blog, contando minha experiência quase em tempo real, de modo mais aprofundado que nas redes sociais, no melhor estilo “diário de bordo” que se fazia antigamente.
Também postei constantemente durante a viagem várias fotos no Instagram do Viagem Primata de uma época pré-Stories e Snapchat. Mesmo tão conectado, resolvi levar comigo o Moleskine que ganhei do meu professor de alemão e no qual escrevo esse texto, à mão, bem old school. Eu o usaria para fazer minhas anotações durante o dia para ter referência ao escrever o post à noite no laptop antes de dormir (em algumas noites, realmente dormi e dei tapas na minha cara para me manter acordado até clicar em “publicar”).
Com o passar dos dias, os detalhes contados no papel foram aumentando, assim como o gosto pela escrita pura, sem se preocupar com negritos, itálicos, palavras-chave e links também foi crescendo até chegar ao ponto de o artigo completo estar escrito aqui no papel, para depois só transcrever para o digital.
Também comecei a perceber que essa cumplicidade e intimidade com o papel que escrever à mão me trazia, fazia com que eu fosse mais eu, no sentido mais íntimo e profundo. Me dei conta de que meu lado editor era um pouco censor e crítico quando eu digitava ao invés de reencontrar minha própria caligrafia.
Escrever no papel é um exercício de paciência, pois a caneta é mais lenta que as teclas. E isso me dava mais tempo para pensar e formular minhas ideias. Parava mais pra me ouvir. E escrever durante a viagem foi uma terapia. Ao mesmo tempo que estava superconectado publicando fotos e textos, foi uma das viagens que mais consegui desconectar do mundo e me religar a mim mesmo.
Talvez isso tenha a ver com a misticidade do Peru. Das cidades antigas e sítios arqueológicos, passando por um trekking mágico no segundo maior cânion do mundo e uma noite bem dormida na casa de locais em uma ilha no lago navegável mais alto do planeta, até chegar no topo de Wayna Picchu, a montanha clássica de Machu Picchu, a cidade perdida dos incas… tudo contribuiu para tornar a viagem única e tão marcante. Mas não dá para esquecer dos amigos feitos pelo caminho que carregarei para a vida toda.
Tudo nessa viagem foi especial, mesmo com meu estômago e intestino terem me feito conhecer todos os banheiros peruanos. Foi muito marcante pra mim estar em um lugar tão importante cultural e energicamente pra humanidade em um momento de transição e autoconhecimento tão pessoal. Casou perfeitamente, como deveria ser. Isso virou um marco na minha vida, lembrado até hoje.
É uma delicia ficar em hotel 5 estrelas, comer em restaurantes formidáveis e estrelados e ter a chance de encontrar e até entrevistar autoridades de países e cidades. Mas o Peru é, e sempre será, um lembrete do que viajar realmente significa pra mim e do motivo e da importância de eu manter um canal de comunicação como esse blog.
Viajar pra mim é descobrir e descobrir-se. Também entendo, hoje, que minha vocação é fazer com que mais gente passe por experiências como essa e possa, através da viagem, transformar suas vidas e o mundo todo. Viajar faz evoluir e precisamos evoluir como seres humanos.
Com plano ou sem, para escrever sua história, você precisa embarcar naquele avião e simplesmente viver. Bora?
A viagem para o Peru durou 30 dias e passou por Lima, Huacho, Paracas, Huacachina, Nazca, Arequipa, Puno e Cusco.
Comentar