Índia LGBT? Cores e relatos de 4 amigos gays
Como disse Jean-Claude Carrière, roteirista contemporâneo francês formado pelo famoso Luis Buñuel “as ruas da Índia são um museu a céu aberto”! E foi exatamente esta sensação que tivemos ao chegar à Nova Delhi: um show de cores, tecidos, especiarias, comida, porcos andando pelas ruas, cabras perdidas, dezenas de Tuk Tuks (motorizadas e não motorizadas) buzinando sem parar e gente, muita gente! Nunca nos sentimos tão aderentes à realidade do livro “Quente, Plano e Lotado”, de Thomas Friedman.
Viajamos em quatro pessoas e nossa aventura começou andando de Tuk Tuk não motorizada pelas pequenas ruas do mercado de Old Delhi.
Ficamos extasiados com tamanha diversidade de imagens, pessoas, trânsito caótico de carros, bicicletas, ônibus e animais.
Apesar deste arraso todo, ser gay ainda é proibido na Índia, sujeito a prisão por 10 anos. Uma lei do século XIX, que considera o ato entre homens “uma ofensa natural” foi revogada em 2009, mas depois de pressionado por religiosos, o país autorizou a volta da norma em 2013. Em 2014, por exemplo, 778 homossexuais foram presos.
Ainda assim, a relação entre os homens héteros é interessante: andam de mãos dadas e sempre juntinhos.
Viajar pelas estradas da Índia foi também uma grande aventura. Primeiro porque as cidades são todas conurbadas – não conseguimos distinguir quando acaba uma e começa a outra.
A lei do trânsito é não ter lei: buzinas ininterruptas, ultrapassagem nas curvas, crianças penduradas em vans escolares, vacas andando – muitas vacas no meio da estrada – e centenas de motos, onde capacete é artigo de luxo.
Um dos motoristas que pegamos nos disse: “Para dirigir na Índia, você precisa de uma buzina e um pouco de sorte”. Bem isso mesmo!
Antes de seguir viagem a Udaipur, fizemos um passeio de balão escândalo! Além da paisagem vista do alto do Rajastão, o interessante foi pousar em pequenas comunidades rurais.
Varanasi é um capítulo a parte! Quanta emoção! Os peregrinos vão à cidade para morrer. É um desejo dos mais idosos que reforçam a crença antiga, segundo a qual morrer por lá os livra, de uma vez por todas, do samsara, ou seja, da obrigação de renascer e renascer novamente.
“Estes peregrinos descem até o Ganges esperando o misericordioso Shiva, que os levará sorrindo para o país da dança eterna”.*
O ritual do Ganges nos fez chorar: uma energia que nos contagiou, uma mistura de estar tocado pela miserabilidade humana – evidente às margens do rio, mas também com todos os elementos espirituais que envolvem o rio e claro, Shiva.
“Sem Shiva, o rio Ganges teria engolido a terra. Este deus destruidor é também um salvador (…) ele é fogo e também água. É o fogo que queima e a água que apaga o fogo (…) este deus tem o poder de destruir, mas ao mesmo tempo é o verdadeiro criador e que vai destruindo o que nasce dele”.*
Para nós, a experiência de Varanasi nos fez recordar o dito de que sempre se volta transformado da Índia! E não tivemos dúvida disso! André teve um processo que ele mesmo chamou de desintoxicação corporal, mas também mental. Ele ficou taciturno em vários momentos da viagem e entre pitadas de depressão e reflexões de tudo que ele viveu, certamente o fez refletir sobre seu futuro e sem dúvida o desejo de voltar à Índia.
10 dicas para arrasar na Índia
1- Todo o roteiro luxo foi feito por uma excelente agência que customizou todas as etapas, com guias, motoristas particulares e a total exclusividade que estas 4 bis mereciam. Super recomendamos! A agência é a Ecstatic India Tours, falar com Pushpendra Sharma (telefone +91 141 5111605).
2- Outra dica é ter paciência no aeroporto. Caótico e com um sistema de imigração lento e burocrático: vá para o final do saguão porque mesmo com o visto impresso é necessário entrar por lá para eles checarem tudo. Demoramos 2h neste processo. Além disso, assim que sair, há algumas casas de câmbio, mas o limite de troca é U$ 80 dólares por pessoa.
🌈Compre dólar antes de sair do Brasil
3- Passear pelo mercado de Old Delhi vale super a pena! Caminhar e conversar com as pessoas é também uma ótima pedida.
4- Pelo amor de Deus: água só de garrafinha e o mantra diz: “no ice, no ice!”
5- Faça uma aula de yoga e uma sessão de massagem ayurvédica!
6- Coma a Gulab Jamun: maravilhosa sobremesa feita de leite em pó com água de rosas e servidos com sorvete ou chantili.
7- MUST GO: Holi Festival, que acontece em dias específicos de março. Em 2018, será no dia 2 de março e, em 2019, 21 de março. A celebração acontece pela manhã.
8- Sempre tenha notas trocadas de rupia (moeda local): é comum pagar pelos pequenos serviços, de garçom até pessoas no banheiro que dão folha de papel. Tome nota: em média, 500 rupias por dia para os guias está OK.
9- Udaipur é um espetáculo, um charme só, então não deixem de ir. Diariamente, às 19h, há um espetáculo de fantoche (Bagore Ki Haveli), que fala um pouco da história do Rajastão, mas também mistura dança e teatro. Chegue às 18h30, porque lota.
10- Esteja de coração aberto para vivenciar a Índia. Desprenda-se de rótulos e preconceitos e mantenha os cinco sentidos aguçados para absorver o que este país pode nos ensinar.
Mais fotos da Índia
*citações de ‘Índia: um olhar amoroso’, de Jean-Claude Carrière.
16 Comentários
Jeff
Nossa! A viagem foi um arraso! <3
Rafael Leick
Eu fiquei na vontade de conhecer também!!!
marilus
Tbm quero conhecer muito a India vou conhecer
Rafael Leick
Eu também ainda não conheço. Se você for, volta aqui pra contar como foi, ok? 🙂
Rafalea
Nossaaa que tudo!! Vou pra India em agosto! Rola de trocar umas ideias por whats?
Rafael Leick
Oi, Rafaela, tudo bem? Eu ainda não fui pra Índia. Deixe suas dúvidas aqui que peço pros meninos responderem, ok? 🙂
Marcus
Senti falta no relato justamente dessa perspectiva gay que não se vê em outros blogs. Ficou restrito a dois parágrafos, enquanto poderia ser abordado com mais profundidade, como são as vivências, como é viajar sendo lgbt nesse país, quais tipos de sanções você sofre, demonstrações de carinhos entre estrangeiros gays é socialmente aceito, precisaram se conter, uso de apps, perigos, recomendação segura e imperdível?
Gostaria de ver mais essa perspectivas nos relatos.
Rafael Leick
Oi, Marcus. Vou passar o feedback para os meninos.
Obrigado pelo retorno. 😉
bjs
Lali
Basicamente, eles não devem ter se expressado já que é um lugar que é proibido. Eu amaria ir para a Índia e ter essa experiência , mas acredito que o turismo deve ser de forma consciente e não irmos em lugares que não nos aceitam e que a gente possa se expressar tranquilamente .
Rafael Leick
Oi, Lali. Eu concordo que tenha que ser feito de forma consciente, sim. Mas o panorama disso é muito maior, se formos pensar de modo ativista ou político. Sugiro que você dê uma lida nesses dois posts abaixo que tratam dessa discussão. E deixe sua opinião neles, depois de ler, tô curioso pra saber o que você vai pensar:
https://viajabi.com.br/paises-homofobicos-gays-devem-viajar/
https://viajabi.com.br/4-motivos-pra-casais-gays-viajarem-pra-asia/
Obrigado. bjs
Higor
Olár, vocês fizeram reservas em cama de casal? Gostaríamos de saber pq vimos que a homossexualidade é considerada crime na India e se há algum problema ou objeção em solicitar cama de casal para dois homens.
Vocês tem dicas de hoteis pela India que possam compartilhar??
Beijos, bees.
Andre
Ola Bees, não há problema em pedir cama de casal não. Apesar de ser legalmente proibido, os hotéis são muito turísticos e está tudo ok. Só não é bom dar muita pinta na rua. 😉 Com relação aos hotéis temos alguns que são o MUST. Ficamos no Trident Gurgaon em New Delhi, que é internacional e TUDO! O café da manhã tem detalhes super bacanas; vale ficar lá! Em Udaipur ficamos no Amet Haveli e recomendamos muito! Foi construído na época do Maharana Jagat Singh Ji entre 1734 e 1742, com um excelente restaurante anexo. Uma outra dica é contratar uma agência indiana. Esta que contratamos é incrível. Eles adoram as bees e já organizaram viagens para varios amigos gays e lésbicas. A Agência Ecstatic India Tours, contato Pushpendra Sharma (e-mail: info@ecstaticindiatours.com Telefone: +91 141 5111605. Qualquer dúvida fale conosco. André & Antônio
Tony
Olar, tudo bem? Eu tô pensando em ir pra India em Novembro desse ano 2019. Pesquisando na net encontrei uma AGENCIA DE TURISMO GAY na Índia. Se chama Indja Pink, eles tem dois hoteis gays (só aceitam homens!!) e queria saber se alguém ja viajou por ela, pq encontrei poucas avaliações no TripAdvisor, embora sejam boas, porém algumas antigas. Os hoteis são Man & Art Hoouse (Nova Delhi) e Mister & Art Haveli (Jaipur).
Rafael Leick
Oi, Tony, tudo bem? Eu não usei os serviços dessa agência ainda nem os hotéis, então não poderei te ajudar. Seu comentário está público agora aqui, para caso alguém possa te ajudar. De qualquer forma, se você experimentar esses hotéis, quando voltar conte pra gente como foi, ok?
Tony Felix
Olar Raphael, tudo bem??? Voltei pra falar sobre a agência de viagens GAY da Índia! Gente, deu tudo certíssimo!!! Confesso que no pacote prometido por eles tinha muuuuita coisa legal e interessante que até ficamos na dúvida se realmente teríamos tudo aquilo, mas sim, eles prometeram um monte de coisas e cumpriram com tudo (inclusive uma ida em uma sauna gay na Índia com massagem incluída). A agência de viagens se chama “IndjaPink” eles tem duas pensões gays (exclusivas para homens) em Delhi e Jaipur, e, pelo que o dono nos falou, eles tão abrindo agora em Setembro no próximo ano de 2020 uma nova filial em Goa (sempre na Índia, mas no Sul em zona mar). Nesse pacote, tinha, claro, os tours pelas cidades conhecidas como Varanasi (Rio Ganges), Agra (Taj Mahal) e obviamente, Nova Delhi. Tudo muito calculado e perfeito, redondinho. As pensões gay se chamam Mister and Art House (Delhi) e Mister and Art Haveli (Jaipur), ambas muito lindas, limpas, perfeitas. Enfim, pra um país que condenava a homossexualidade até 2018, até que teve um grande progresso. E olhe que essa agência e as pensões existem ja tem 5 anos. Vlwz Bjs
Rafael Leick
Oi querido! MUITO obrigado pelo retorno e pelo feedback dessa agência. Ótimo saber disso. Fico feliz que tenha gostado! 😉
Espero que o post tenha te ajudado também. Se você quiser, use #viajabi nas suas fotos pra eu ver como foi, tá?
Beijos