Guardei no Armário, o livro de um gay, negro, ex-evangélico da periferia de SP
Livros LGBT ainda são escassos hoje em dia, infelizmente. Mas nos últimos tempos tive acesso próximo a alguns, entre eles a história autobiográfica Guardei no Armário, de Samuel Gomes.
O autor, Samuca, como é conhecido entre os mais próximos, é negro, gay, ex-evangélico e nasceu na periferia de São Paulo, ou seja, um combo perfeito para servir de alvo para preconceituosos. E foi assim por toda sua vida.
Na periferia, sofreu preconceito por ser evangélico, numa época em que a religião ainda não era tão disseminada. Hoje a coisa mudou de figura e a religião evangélica é que virou maioria, então quem sofre são os que tem outras crenças, como os espíritas, por exemplo.
Foi, inclusive, dentro da igreja que sofreu um dos episódios mais marcantes de racismo em sua vida. Ao fim do culto, o pastor o chamou na frente de cerca de 500 pessoas e o humilhou por conta do seu corte de cabelo em formato quadrado, no melhor estilo Will Smith. O pastor ainda ofereceu R$ 10 para que ele cortasse o cabelo! 😮
O preconceito por ser gay também esteve presente na vida de Samuca e foi combinado com todos esses outros rótulos, inclusive na própria comunidade LGBT. Ele me contou que dentro da nossa comunidade, os negros, normalmente, não conseguem um relacionamento estável porque são visto quase que somente pelo lado sexual.
Esse, aliás, é o motivo de outro preconceito: negros não podem ser passivos, por conta dos esteriótipos disseminados pela indústria pornô!
O livro Guardei no Armário
A noção de muitos desses preconceitos, Samuca só teve, de fato, quando começou a coletar material para o seu livro, Guardei no Armário, lançado recentemente. Antes disso, por conta da sociedade, ele entendia que isso era normal e ele era o problema.
Em uma de suas viagens, para Istambul, na Turquia, foi a primeira vez que ele conversou com alguém sobre a possibilidade de toda essa história virar um livro. E virou. O livro Guardei no Armário foi publicado de maneira totalmente independente. É o que o mercado editorial chama de self-publishing, ou seja, sem a ajuda de uma editora por trás.
Além de livro, o Guardei no Armário virou também um canal no YouTube, onde o Samuca entrevista diferentes tipos de membros da comunidade LGBT para dar seu depoimento sobre a saída do armário. Eu já contei minha história aqui, mas fui convidado a contar lá também e o vídeo vocês podem conferir no Guardei no Armário.
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Tirei do armário: as viagens
E, pra falar sobre o livro, sua história e sobre as viagens que já fez, eu convidei o Samuca pra um papo bem descontraído onde ele contou essas e outras histórias do kebab turco, bi! Bafão!
Além de Istambul (Turquia), ele também foi para Buenos Aires (Argentina), Montevidéu (Uruguai), Dublin (Irlanda) e Paris (França) e trouxe várias histórias engraçadas sobre elas. Por ser a mais diferente, focamos em Istambul onde, entre outras coisas, ele foi confundido com uma celebridade e durante 7 dias teve gente querendo tirar fotos com ele e tietando. É muito lacre!
Confira a seguir o vídeo com todo esse papo.
E pra comprar o livro?
Como o livro foi produzido de forma independente, as compras podem ser feitas somente pelo site guardeinoarmario.com, diretamente com o Samuca.
Você também encontra o Samuca no Facebook e no YouTube e no Vimeo, pode conferir os vídeos que ele fez das suas viagens a Istambul, Paris e Dublin.
Tem alguma outra dicas sobre Literatura LGBT? Já leu o Guardei no Armário? Deixe nos comentários pra ajudar outros viajantes!
5 Comentários
Samuel de Paula Gomes
Que matéria linda e sensível.
Estou aqui falando com meu namorado, como essa matéria ficou boa. Ter o olhar de outro lgbt para falar das nossas questões faz toda a diferença.
Que seu trabalho continue crescendo, que nós consigamos resistir a toda forma de opressão e que possamos viajar muito, bi!
Rafael Leick
Samuca, brigado. Fico feliz que tenha gostado. Realmente o olhar LGBT faz diferença sobre o tema. Valeu pelos bons votos e que valham pra nós. Beijo, Bi! Muita viagem! Hehehe
murilo Quinto
Sou heterossexuais bem resolvido com minha sexualidade assim como todo lgbt, fico indignado quando vejo pessoas de mentes medíocres q tendem a humilhar e menosprezar o ser humano simplesmente pelo fato de ter o gênero q não o agrade. Sinto tanto por essas pessoas q não aceitam ou concordam Prq deixam de conhecer pessoas incríveis principalmente a comunidade lgbt , pois ali assim são pessoas de coragem e de valores morais honrados…. cidadãos q não S dão oportunidade de conhecer o próximo como ele é simplesmente m provocam repulsa e pena. Afinal de contas todos lgbts pagam seus impostos e cumprem com seus deveres cívicos, então com todo respeito aos ignorantes o direto de toda comunidade gay já era pra ser incorporado na constituição pois os políticos q estão recebendo salário da maquina pública tbm estão recebendo o dinheiro homofobico. Não tem o q discutir!
Rafael Leick
Murilo, falou e disse! Obrigado pela visita e por se posicionar aqui publicamente. Se tivermos mais gente pensando como você e demonstrando suas posições, o mundo vai ser um lugar melhor. Obrigado mesmo, de coração!
E, independentemente dos impostos, as pessoas deveriam ser respeitadas por serem quem são. Mas, já que isso ainda é algo que a sociedade civil e política ainda não entende, essa fala sobre os impostos é super real. Além de não sermos respeitados por sermos quem somos, ainda pagamos por esse desrespeito. Na esperança de que as coisas melhorem…
Obrigado novamente e seja sempre bem-vindo, aqui tem espaço pra todo mundo! =)
murilo Quinto
Só corrigindo quero dizer q os políticos recebem dinheiro homoafetivo e não homofobico como foi expressado, as autoridades deveriam da atenção maior