5 de fevereiro de 2019

Argot queer e Polari: conheça a história dos “pajubás” do inglês

Mais um post da série Pajubá Viajante e esse é o 2º dedicado à língua inglesa mas, dessa vez, um pouco menos prático e com um pouquinho mais de história. Já falei aqui de inglês e alemão, gírias gays em espanhol e gírias gays em francês. Mas hoje, o assunto é argot queer e polari.

Não tem ideia do que sejam? Então desaquenda do bofe e segura a marimba que o babado é certo. 😛

Pajubá Viajante: gírias gays em inglês e a história do argot queer e do polari

Pajubá Viajante: gírias gays em inglês e a história do argot queer e do polari

 

Desafio do pajubá da Babbel

Essa nova leva de vídeos do Pajubá Viajante rolou por conta de um desafio que recebi da Babbel, que é um aplicativo que permite estudar 14 idiomas de forma prática, fácil e intuitiva, com conteúdo preparado por time de mais de 100 especialistas em didática e personalizado pros falantes de português brasileiro. Tem aulas de 15 minutinhos, então dá pra estudar em qualquer hora do seu dia.

Por conta da Babbel, eu voltei a estudar alemão com a vantagem de ser em qualquer lugar, pelo computador, celular, tablet. Tem também uns cursos extras temáticos específicos para cada língua. Em inglês tem, por exemplo o curso “Transporte e viagem”, que tem 12 aulas diferentes com vocabulário de transporte público, carro, bicicleta, avião, barco e até transporte do mundo mágico como tapete voador ou vassouras. Dá pra acreditar?

Entre na Babbel pra conferir esse e outros cursos e depois comenta aqui o que você achou, que quero saber. 🙂

 

O que é pajubá?

Babbel me desafiou a estudar e falar um pouco mais pra vocês sobre linguagens argot queer, que é o nome em inglês para o que conhecemos aqui no Brasil como pajubá. Se você acabou de entrar pro “Vale” e não tem ideia do que é nem o nosso pajubá, vou explicar. 🙂

O pajubá é uma linguagem popular de língua portuguesa mas com inserção de várias palavras e expressões de línguas africanas ocidentais, como umbundo, kimbundo, kikongo, nagô, egbá, ewe, fon e iorubá. Ela era usada em terreiros de candomblé inicialmente.

Depois começou a ser usada pelas travestis como linguagem própria e foi adotada por toda comunidade LGBT+ em um período onde não se tinha liberdade de ser quem se é como meio de enfrentar a repressão policial e despistar a presença de pessoas indesejadas.

Esse período foi, obviamente, a ditadura militar. Com o tempo, ela ganhou novas expressões, mais modernas e atuais, mas muitas das palavras são datadas. Talvez seja bom começar a estudar pajubá novamente, né?

Hoje ainda é usada pela comunidade LGBT+, que é lançadora de tendências do mundo digital e expressões como “uó”, “arrasou” e “lacre” caíram no gosto popular.

 

Argot queer e polari, os primos ingleses do pajubá

O primo gringo do pajubá é o argot queer, linguagem própria da comunidade LGBT+ falante de inglês. Vamos explorar essa linguagem um pouco melhor. As traduções abaixo trazem o significado das palavras no argot queer e não no inglês atual, ok? Mais pra baixo, tem algumas gírias gays em inglês moderno. 🙂

Algumas palavras do argot queer foram retiradas do inglês, mas foi dado um novo significado, diferente daquele que está no dicionário, como por exemplo:

Camp
(afeminado, afetado, pão com ovo)

Camp é difícil traduzir, mas seria uma mistura de “afeminado” ou “afetado” com o nosso popular “bicha pão com ovo”. A palavra vem de uma outra anti-linguagem chamada polari, que nasceu na Inglaterra, onde ser gay só deixou de ser crime em 1967. Ou seja, assim como na nossa ditadura brasileira, os gays britânicos tinham que se comunicar através de códigos para não serem perseguidos.

O cantor Morissey lançou um álbum em 1990 chamado Bona Drag. E essas palavras, estampadas na capa, vêm do polari. Uma significa “boa”:

Bona
(boa)

A outra pode enganar por conta do novo significado:

Drag
(roupas)

Drag, no inglês atual, é um verbo que significa arrastar. Mas na composição do termo drag queen, ele é aplicado no sentido de “roupas” mesmo, que é o significado que tinha no polari, esse “pajubá inglês”. Outra palavra usada no inglês mas que tinha um sentido completamente diferente é:

Trade
(sexo)

Na língua inglesa, ela é usada para denominar “comércio”. No polari, significava “sexo”. E como o sexo entre dois homens era crime, os gays acabavam buscando seu trade em locais com banheiros públicos, e foi aí que nasceu o que conhecemos por “banheirão”. Hoje, no inglês, pra pegação, é usado o termo:

Cruising
(caça, pegação)

Mas, no polari, eles chamavam de:

Cottaging
(fazer banheirão)

Tudo que é proibido é mais gostoso, né? Isso até hoje é assim. A linguagem polari personificava o proibido e criava código para frases simples, como “ver o rosto bonito do garoto”, por exemplo.

Nessa frase são várias palavras do polari juntas, então, antes de decifrar o todo, vamos conhecer as partes. 😛

Vada
(verbo ver, enxergar)

Chicken
(nesse caso não significa frango, mas sim garoto jovem)

Dolly
(bonito)

Eek
(rosto)

A frase ficava:

To vada a chicken’s dolly eek
(ver o rosto bonito do garoto)

Algumas outras palavras divertidas ou curiosas também alimentaram o polari, por exemplo:

Riah
(cabelo, hair ao contrário)

Slap
(maquiagem)

Fantabulosa
(fantástico + fabulosa)

Dish
(fofoca ou atraente)

Handbag
(dinheiro)

O polari caiu em desuso nos anos 70, mas hoje, os millenials LGBT+ têm resgatado um pouco dela.

 

Gírias gays em inglês

Agora, calma, que se você chegou aqui pra aprender a falar inglês e se deparou com uma aula de história linguística, chegou seu momento. Voltemos aos dias atuais pra conhecer algumas expressões usadas pela comunidade LGBT+.

Mas, assim como no pajubá, o argot queer atual, mesmo quando usado pelos homens gays, têm origem no feminino. Aqui pra gente, quem começou tudo foram as travestis. Lá fora, as drag queens. Tanto que popularmente essas expressões são conhecidas popularmente como:

Drag queen slang
(gírias de drag queen)

Quem ajudou a tornar isso febre foi o reality show RuPaul’s Drag Race. Então, você já deve conhecer algumas expressões como:

Sashay away
(se manda, tchauzinho)

e

Shantay, you stay
(você fica, querida)

Apesar de liderar, o programa de TV não é o provedor de todas as gírias gays em inglês do momento. Outra expressão que vêm sendo bastante usada em época de redes sociais é:

Werk
(sambou, lacrou)

Algumas pessoas têm traduzido werk do alemão como “trabalho”, ou ligando ao twerk da Miley Cyrus, mas não tem nada a ver. Werk é usada, principalmente pela comunidade LGBT+, quando vai celebrar o feito de alguém. Por exemplo, postou uma foto lacradora no Instagram? Deu aquela resposta de sambar na cara da sociedade? Nesse caso, você usa werk.

Outra palavra similar que cabe no mesmo contexto no português/pajubá é “arrasar”. E, no inglês, você manda um:

Slay, girl
(arrasa, gata)

Quase sempre no feminino, os termos têm virado febre entre os LGBT+, especialmente homens gays. Quando você vai, por exemplo, sair com um grupo de amigos gays, eles não são seus amigos, são suas:

Bitches
(amigas)

Na verdade, a tradução literal seria “cadelas” ou uma forma pejorativa de chamar as prostitutas, mas é uma forma carinhosa (acreditem) de se tratar azamigue. Ponto importante de esclarecer pra você, hétero, que tá lendo esse texto:

Só viado e sapatão pode chamar viado e sapatão de viado e sapatão. Tendeu? 🙂

Ainda sobre bitches, o singular dessa palavra causa bastante confusão pra quem ainda não manja muito de pronúncia no inglês. A palavra usada para cadela ou puta é:

Bitch
(cadela/puta)

Mas é muito similar à tradução de “praia”. Então, tome bastante cuidado pra não dizer que quer ir pra cadela. A pronúncia pra praia é um pouquinho mais alongada (veja o vídeo pra ouvir a pronúncia) e a escrita é diferente:

Beach
(praia)

Tentando explicar a grosso modo, bitch tem o “i” com som de “e” meio pra baixo. E beach tem o “ea” com um som de “i” bem pra cima, quase no nariz e mais alongado.

Antes da última expressão, vou falar de novo pra você entrar na Babbel. Quero ver vocês todos slaying no inglês. E depois venham me contar o que acharam, ok? A 1ª lição de todos os cursos é grátis! Use esse link aqui.

Bom, pra fechar, essa expressão já é mais popular, é também uma frase emprestada do inglês mas com um significado um pouquinho diferente pra comunidade LGBT+. Na tradução literal, significa “sombra” e é amplamente usado dessa maneira. Mas se você quiser insultar alguém, você joga um:

Shade
(insulto)

E ele normalmente é direto ao ponto. Por exemplo, “eu não digo pra você que você é feio, mas eu não preciso dizer porque você sabe que você é feio”. Isso é um exemplo de jogar shade ou, em inglês:

Throwing shade
(jogando insultos)

E essa foi a nova temporada do Pajubá Viajante, e eu queria agradecer a Babbel pelo desafio, porque pude conhecer várias gírias gays em 3 idiomas diferentes e mais sobre a história do pajubá, do argot queer e do polari. Agora sou uma gay mais estudada. 😛

E pra lembrar: é só seu o que a viagem te traz. Então, viaja, bi!

Byeeeeeeeeeeeeeeeee!
(tchau, mas leia com voz bem anasalada)

 

BABBEL

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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