2 de fevereiro de 2019

Sandy e Junior vão voltar: minha história de homofobia e orgulho

Essa semana, uma notícia parou o Brasil: Sandy e Junior vão voltar. Ou melhor, talvez vão voltar. Talvez… Pra um show. Ou pra uma turnê. Nada se sabe ao certo ainda. Só que tanto Sandy quanto Junior Lima mandaram uma mensagem pública um para o outro dizendo que vão conversar em março. Até lá, só resta esperar.

Sandy e Junior cantam "Eu Acho que Pirei" em invasão de Junior no show da irmã - Foto: César Fonseca

Sandy e Junior cantam “Eu Acho que Pirei” em invasão de Junior no show da irmã – Foto: César Fonseca

Tá, Rafa, legal, mas que raios isso tem a ver com esse site, com viagem e tal? Já explico… Mas explico também que tem ainda mais a ver com a outra temática do blog, aquelas letrinhas, sabe? LGBT+?

Se você caiu de pára-quedas ou estava em Marte essa semana, surgiu entre os fãs um boato com fundo de verdade que a dupla iria se reunir em 2019 para comemorar seus 30 anos de carreira, já que a 1ª apresentação na TV, no extinto Som Brasil, foi em 1989.

Sandy e Junior postam mensagem um pro outro no Instagram Stories - Foto: Reprodução/Instagram

Sandy e Junior postam mensagem um pro outro no Instagram Stories – Foto: Reprodução/Instagram

Alguém no jornal Extra ficou sabendo e publicou uma nota, que virou uma avalanche que nem os irmãos mais conseguiram ignorar. Amigos me contaram que até andando de carro, o carro do lado baixou o vidro gritando A Lenda e falando que ia no show. O frenesi tava feito!

Pra acalmar os ânimos, mas sem entregar o jogo, tanto Sandy quanto Junior postaram em seus Stories do Instagram uma imagem dos bonequinhos que estamparam a capa de seu último CD de estúdio com uma mensagem “Vamos conversar em março?” e marcando um ao outro. Ou seja… Vai rolar, mas teremos que esperar. Enquanto isso, resolvi contar pra vocês uma história que queria contar há muito tempo: como Sandy e Junior foram importantes na minha vida de viajante e no meu entendimento como gay.

 

Sandy e Junior e as viagens

Sandy e Junior em ensaio para revista, em Paris - Foto: Paulo Segura

Sandy e Junior em ensaio para revista, em Paris – Foto: Paulo Segura

Pra te situar na importância dessa ex-futura-dupla nesse blog e na temática, preciso voltar um pouco no tempo. Desde pequeno, meus pais sempre faziam viagens pequenas comigo e com minha irmã, de carro, para o interior. Me lembro com carinho do Hotel Majestic, em Águas de Lindóia (SP), que fomos milhares de vezes e era uma alegria aguardada com ansiedade, e do Hotel Cabreúva, que tem um nome que me intrigava sempre. Até chegar lá, eu começar brincar e esquecer de tudo. É engraçado como alguns lugares marcam pra gente.

Minha 1ª viagem de avião foi em 1995, pra Fortaleza. Depois, Porto Seguro na formatura do colégio, em 2002. E eu só fui sair do Brasil em 2008.

Mas além de pessoas da minha família, que já tinham ido pra Roma, Toronto, Londres, Copenhagen e Paris, por exemplo, eu me inspirei muito nas viagens que eu via meus ídolos, Sandy e Junior, fazendo na época. Quando falo ídolos, e porque eu era fã mesmo, daqueles que tinha coleção de VHS com programas gravados em que eles apareciam, numa época muito antes do YouTube.

Sandy e Junior em ensaio para revista, em Paris - Foto: Paulo Segura

Sandy e Junior em ensaio para revista, em Paris – Foto: Paulo Segura

Em 2001, eles lançaram um dos CDs que eu mais gosto, que era pra ter sido chamado 11, por ser o 11º da carreira, mas ataques terroristas de 11 de setembro naquele ano nos EUA, pouco antes do lançamento, fizeram o nome ser alterado só pra Sandy e Junior. Pra lançar, eles fizeram umas loucuras com coletivas de imprensa em mais de uma cidade brasileira por dia. Acordavam em uma cidade, iam pra coletiva em outra e voavam pra dormir em uma terceira. Isso, na época, me despertou algumas curiosidades sobre aviação, tráfego aéreo, e me deleitava com a longínqua possibilidade de ter um jatinho pra poder usar quase como um carro e viajar horrores.

Em 2002, eles lançaram o CD internacional e começaram divulgação em outros países. Passaram pela Europa, América do Sul e América do Norte. E eu comecei a pirar vendo Sandy e Junior em inglês, espanhol e até francês. Até hoje, basicamente tudo que sei de francês está em L’Amour Cè Remede, a versão francesa de Love Never Fails. Tá, recentemente aprendi umas gírias gays em francês, mas você entendeu o ponto. 😛

Sandy e Lucas no Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha

Sandy e Lucas no Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha

Imagina aquela POC que nunca tinha saído do país tendo contato com esse mundo através de uma realidade que pra ela, até então, era tão local quanto seus cantores preferidos. Numa época de internet precária, eu amei ver Sandy e Junior na Alemanha, Itália, Portugal, Espanha e sendo ovacionados no Festival de Viña del Mar, no Chile, um lugar que pude conhecer 12 anos depois.

No anos seguintes, a Identidade Tour acabou parando lá no Japão, o que pra mim foi ainda mais bizarro e distante, mas ao mesmo tempo encantador e desafiador. De repente, aquele sonho de viajar o mundo, que parecia tão distante, foi ficando mais próximo de mim.

Junior Lima e Monica Benini em Tulum, México

Junior Lima e Monica Benini em Tulum, México

Eu lembro muito de vários momentos dos dois na gringa por me marcar como “quero conhecer um dia”. Teve aquelas fotos clássicas em Paris pra uma revista, as gravações na Califórnia, o estouro de uma música eletrônica “deles” (Crossover ft. Miss S.) lá no Canadá, o caos num pocket show numa livraria em Portugal, uma massagem com códigos estranhos no Japão, uma história de pizza em hotel em Portugal, uma viagem a Utah e Sudeste Asiático virando exposição de fotos e, mais recentemente, as viagens de férias pela Flórida ou Maldivas mostradas no Instagram de ambos. Você lembra de tudo isso? Provavelmente não. Mas me marcou porque o bichinho do mundo já me habitava. 😛

 

Sandy e Junior me ensinaram o que é homofobia

Sandy em Hollywood, na Califórnia, e Junior Lima aprontando no metrô

Sandy em Hollywood, na Califórnia, e Junior Lima aprontando no metrô

A outra temática do blog, LGBT+, teve muita importância de Sandy e Junior na minha vida. Pode soar besteira e bobagem pra você que tá lendo, papo de fã cego. Mas o fato é que eles eram, na verdade, uma das coisas que me faziam enxergar.

Em 1995, ganhei o 1° CD da minha vida: Você é D+!, 5° álbum de Sandy e Junior, um que vinha com uma caixinha amarela transparente e os sucessos estrondosos Vai Ter Que Rebolar e Power Rangers. Eu amava Power Rangers então esse foi praticamente o primeiro “feat. que a gente respeita” que eu tive contato na vida. No ano seguinte fui ver meu 1° show, aquele que a Sandy sempre conta que caiu no palco na música de abertura. E assim fui me apaixonando por aquele mundo. Até aí, tudo normal.

Façamos uma pausa rápida e vamos pra minha escola, que a realidade era um pouco diferente. Colégio particular de gente bem de vida e vivendo todas os 50 tons de bullying que se pode fazer com os outros.

Junior na praia fotografando e com a esposa, Monica Benini e seu filho, Otto

Junior na praia fotografando e com a esposa, Monica Benini e seu filho, Otto

Eu, moleque tímido, de jeito delicado e fala mansa, da Zona Leste de São Paulo, que gostava de estudar e, sempre curioso, de ficar conversando com os professores no fim da aula pra aprender mais. Eu tinha ido parar naquele colégio da Zona Sul, que não tinha a ver comigo (ou com as posses da minha família), porque era lá que minha mãe dava aula, então eu e minha irmã tivemos bolsa de 100% pros nossos estudos. Minha mãe pagou nosso colégio com trabalho, e eu sabia disso, mesmo novinho.

O colégio em si era maravilhoso, com professores muito bons, funcionários simpáticos e carinhosos, uma estrutura bem legal e uma preocupação com a educação humana dos alunos. Mas todo colégio tem um problema: as crianças e adolescentes. 😛 Elas podem ser cruéis sem saber. Algumas reproduzem a mentalidade retrógrada de seus pais, outras simplesmente são assim.

Nesse cenário, eu sofri muito daquele bullying. O filhinho da professora, que não gosta de futebol, gosta mais de conversar com as meninas e tem uma coleção de papel de carta. O “viadinho” que em vez de usar o caderno do Coringão-mano, tinha um com a Sandy na capa. O moleque era fã de Sandy e Junior. Viadinho! Baitola! Bichinha!

Sandy e Lucas Lima representando o beijo da estátua e no Stonehenge, Inglaterra

Sandy e Lucas Lima representando o beijo da estátua e no Stonehenge, Inglaterra

Sandy e Junior me ensinaram o que era homofobia, mesmo que eu não conhecesse esse termo. Antes mesmo de saber que sou gay ou até o que é ser gay. Aqueles meus colegas “descobriram” que eu era gay muito antes de mim. E eu descobri que isso era algo muito errado. Pelo menos na visão deles.

Ora, meu lado libriano e wannabe-fair, com senso de justiça pra mudar o mundo, não conseguia entender porque a admiração por um time de futebol permitia ter uns machos de uniforme na capa do caderno dos meninos e minha admiração pela música e atitude de Sandy e Junior não me permitia ter a Sandy na capa do meu. Era mais hétero idolatrar macho de uniforme que uma mulher cantora. 🤷

Chegou um momento que eu fui ensinado à força que eu deveria ter vergonha de dizer que gostava de Sandy e Junior. Era quase uma droga ou uma sociedade secreta. Se falava quase sussurrando (porque todo mundo, no fundo, curtia Dig Dig Joy e Vamo Pulá). 😛 Mas eu não podia assumir que gostava deles. Eu não podia me assumir.

 

Sandy e Junior me ensinaram o que é ter orgulho de si

Sandy e Junior cantam "Eu Acho que Pirei" em invasão de Junior no show da irmã - Foto: César Fonseca

Sandy e Junior cantam “Eu Acho que Pirei” em invasão de Junior no show da irmã – Foto: César Fonseca

Eu não podia revidar os xingamentos e “brincadeiras” ou causar uma briga no colégio porque… lembra que minha mãe era professora? Na minha cabeça, eu poderia ferrar as coisas pra ela. E, além disso, se eu revidasse na mesma medida do que eu estava sentindo por dentro, poderia perder minha bolsa de estudos no colégio.

E aí, eu não sabia se meus pais teriam dinheiro pra me bancar em outro colégio (e a mentalidade lá era de que colégio público era um castigo e não um colégio) e eu tinha certeza absoluta que apanharia do meu pai se não tivesse ganhado a briga na escola, afinal eu tinha que ser macho e enfrentar as coisas porque ele nunca levou desaforo pra casa. Eu nunca fui de brigar.

Junior Lima em viagem pelas Ilhas Maldivas

Junior Lima em viagem pelas Ilhas Maldivas

Dito isso tudo, me restou aguentar tudo aquilo calado, por muitos anos. Em uma época mais tensa, eu não aguentei e quis sair do colégio. Depois de uma viagem de “formatura” antes do Ensino Médio fiquei próximo de um menino que era CDF mas se dava bem com a “turma do fundão” porque também curtia futebol. Minha mãe me convenceu a dar aquela chance por pelo menos mais um ano.

E deu certo, por mais 2 anos e meio. No meu último ano do colégio, a turma do fundão começou, além de me zoar, zoar esse meu amigo, dizendo que éramos namoradinhos. Até que um dia ele entrou na sala e em vez de sentar no lugar dele, na cadeira atrás da minha, como de costume, ele passou direto por mim sem nem dar bom dia, foi sentar com aquela galera e se juntou a eles na zuera contra mim.

Sandy e Lucas Lima em Paris

Sandy e Lucas Lima em Paris

Ali, aprendi que você realmente está sozinho e pode contar com você mesmo ou com seus semelhantes. Enquanto não te afeta, tá tudo bem eu ser gay (e ele nem sabia se eu era… nem eu mesmo), mas na hora que a vida exige um posicionamento, o mais fácil socialmente é escolher o outro lado. Mais tarde, fui entender o quanto isso justifica a existência de balada gay, bar gay, loja gay, hotel gay, turismo gay… O gueto não deveria ter que existir, mas nele a gente se sente menos vulnerável e mais protegido do que com “amigos” héteros que podem se tornar inimigos.

Meu psicológico foi no lixo nesse dia e a minha sorte foi que, nesse ano, o teatro me salvou. Me apresentou a outras pessoas, com outro tipo de cabeça, outra mentalidade, outra proposta de vida. E mesmo que eu fosse o único gay ali, me senti em casa como pouquíssimas vezes tinha me sentido antes, socialmente falando.

Sandy e Lucas Lima na Disneyland da Califórnia

Sandy e Lucas Lima na Disneyland da Califórnia

Quando eu comecei a notar que meus desejos tendiam mais pra um lado “Junior” do que um lado “Sandy”, me preocupei real oficial. Cara, então eu era mesmo toda aquela aberração que me faziam pensar que eu era? E é aí que Sandy e Junior voltam a outro turning point da minha vida. Eu era fã e tinha vergonha. Eu era gay, mas só secretamente.

Mas nos shows era tão legal ver os dois… Quem é fã sente que eles sempre fizeram tudo com muita vontade e verdade. E olha que a Sandy enfrentou uma virgindade pública e o Junior, uma sexualidade pública. Ambos assuntos de foro tão íntimo que era surreal ver estampado na capa das revistas de fofoca. Isso numa época em que ambos estavam descobrindo sua sexualidade, como qualquer adolescente, incluindo aqueles valentões do colégio. Só os dois sabem o que passaram e eu não queria estar na pele deles. Já me sentia exposto e invadido naquele microcosmos da escola. Imagina nacionalmente, na mídia!

Junior Lima e Monica Benini em lua-de-mel na Indonésia

Junior Lima e Monica Benini em lua-de-mel na Indonésia

Esse pensamento afeta até hoje meu trabalho. Se você me segue no Instagram, no YouTube ou aqui no blog, sabe que eu adoro me comunicar publicamente, mas que da minha vida particular exponho muito pouco. Reflexos de quem já se abriu demais e a vida petrificou um pouco. Se eu me expusesse, seguramente teria mais alcance e números. Mas já não seria mais eu. Me expor nesse texto, inclusive, não está sendo fácil, mas acho que momentos importantes como “Sandy e Junior vão voltar” merecem uma reflexão. 🙂

Então, eu, cada vez me sentia mais próximo do que eles faziam e falavam. Pra minha família e amigos, eu era só um fã “obcecado”. Mal sabiam eles que, mesmo que nem eu entendesse isso na época, estava também lutando pela minha sobrevivência, quase numa estratégia de guerrilha. Porque eu ficava atentíssimo para ver como os dois reagiam a cada uma dessas coisas pra poder aplicar na tortura que era ir pra escola ou ter que esconder minha sexualidade dos meus pais.

Sandy e Lucas Lima passeiam de gôndola em Veneza, na Itália

Sandy e Lucas Lima passeiam de gôndola em Veneza, na Itália

Por dentro, provavelmente eles tinham sentimentos muito parecidos com os meus, mas por fora, estavam sempre firmes, enfrentando tudo com um sorriso no rosto e nunca deixando a peteca cair ou o show parar.

Aí Sandy e Junior me ensinaram o que é ter orgulho. Ter orgulho de quem se é. E eu agradeço eternamente aos dois por isso. Tanto que pra mim foi quase que mais libertador eu poder falar “eu sou fã de Sandy e Junior” do que “eu sou gay”. Porque, praquele menino que eu era anos atrás e tinha “aprendido” isso dos outros, essas duas frases significavam a mesma coisa. Pô, afinal o “cantorzinho sombra da irmã” rebolava na TV.

Junior Lima brinca na praia

Junior Lima brinca na praia

Pois agora vai ter Junior rebolando sim e sambando pros comentários homofóbicos ou recebendo enxurradas de “ele é a sombra da irmã” quando, na real, ele sempre foi a cabeça por trás da música de Sandy e Junior. Amo a Sandy e ela canta divinamente, sem dúvida. Mas o Junior é um puta músico, toca tudo quanto é instrumento, entende muito da parte musical e fazia aquelas músicas legais do CD ganharem uma roupagem de estouro nos shows. Lembra de Não dá pra não pensar na abertura da turnê do Maracanã? Ele arrasa!

E era triste ver esse moleque tão talentoso, inteligente e tão resiliente sendo alvo de críticas duras que tentavam, o tempo todo, colocar ele pra baixo. Mas era reconfortante ver a forma que ele, publicamente, dava de ombros e ia lá e arrasava na qualidade musical. Então, eu entendo o mal humor que ele às vezes ficava quando um bando de fã chato chegava pra amolar (sim, Sandy e Junior têm muito fã chato e sem noção entre os legais e compreensivos).

Junior Lima e Monica Benini em Roma

Junior Lima e Monica Benini em Roma

Chegou um ponto em que era tão óbvio que ele era muito bom que, mesmo quem não gostava, não tinha o que falar dele. Aí o discurso virou “ele toca bem, mas não canta”. Assim eu entendi que as pessoas sempre vão achar um defeito no que você tá fazendo. Sempre! É uma regra sem exceção. Porque somos pessoas diferentes umas das outras. E tá tudo bem, desde que se seja educado e respeitoso.

E o Junior, assim como os LGBT+ fazem sempre, tinha que se esforçar muito mais pra provar seu valor do que as outras pessoas, no caso a Sandy, que nunca negou seu “privilégio”, mas sempre esteve lá pelo Junior.

Sandy com o pai, Xororó, e o marido, Lucas Lima, nos parques da Universal em Orlando

Sandy com o pai, Xororó, e o marido, Lucas Lima, nos parques da Universal em Orlando

Não é culpa dela esse esforço a mais dele. É da sociedade. Assim como não é culpa sua, hétero, que eu tenha que me esforçar muito mais pra ter meu trabalho reconhecido e validado (até por gente próxima), por ser gay. Não é culpa minha, branco, que os negros tenham que se esforçar muito mais pra que sejam minimamente respeitados.

Mas se todos fôssemos um pouco mais “Sandy” e estivéssemos um pouquinho a mais ali pelos outros, o mundo já seria um lugar melhor.

 

Sandy e Junior vão voltar… e o coração aquece

Sandy lavando louça em um motorhome e Junior Lima em Roma

Sandy lavando louça em um motorhome e Junior Lima em Roma

Entendem agora porquê eu disse que eu não era cego por Sandy e Junior, mas sim que eles me faziam enxergar? Me faziam não pensar em não fazer mais parte desse mundo. Me davam conforto e acalento em momentos nos quais eu não sabia em quem podia confiar, com quem podia contar, nos momentos em que eu me achava uma aberração que não merecia viver.

Eu nunca deixei de admirar os dois e hoje, acompanho de uma outra maneira, mais adulta, mas ainda meio cúmplice. Gosto muito do trabalho solo da Sandy, do cuidado que ela tem com tudo que faz, das canções belíssimas, populares e ainda alternativas e bem feitas. Gosto muito do que o Junior faz com o trabalho dele com o Manimal e como ele equilibra o público e o privado de maneira natural. Adoro ver a Sandy se permitindo mais e se cobrando cada vez menos. Adoro ver o Junior como pai e se permitindo ser diferente a cada dia. E amo os dois em caminhos separados hoje. Difícil de ver eles se “encaixarem” profissionalmente de novo.

Junior Lima com o filho Otto em resort do Nordeste do Brasil

Junior Lima com o filho Otto em resort do Nordeste do Brasil

Mas ler essa notícia que Sandy e Junior vão voltar, mesmo que possa ser temporariamente (quem sabe?), pra comemorar os 30 anos de carreira, tira um fã dos eixos. Um fã que teve neles seu porto seguro por muito tempo.

Já comecei a desmarcar as viagens pra ir nesse show. 😛 Mentira, fiquem tranquilos que tem muita viagem pra rolar esse ano! 🤣 Mas vou, sim, fazer de tudo pra ir nesse show pra selar hoje, o orgulho que ambos me ensinaram a ter de mim mesmo.

Gratidão, Sandy. Gratidão, Junior.

Continuem tocando o foda-se pras críticas negativas e tocando o coração dos que acompanham vocês.

🧡

 

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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24 Comentários

  • Junnior Kopke
    2019-02-02 07:46

    Que texto lindo Rafael, como criança gay fã de Sandy e Junior que fui e também era zoado na escola sem entender, não podia me identificar mais. Adorei como eles afetaram no seu desejo de viajar, pensando aqui agora nas coisas que despertaram esse desejo em mim também. Estou louco por mais informações desse show, quero me preparar, e gritar muito quando esse dia chegar.

    • Rafael Leick
      2019-02-02 15:54

      A gente acaba se identificando nessas questões, né? Valeu pelo comentário. 😉

  • Robson
    2019-02-02 08:58

    Rafa, te entendo e compartilho do mesmo sentimento em relação a eles. Passamos por muitas coisas parecidas, principalmente na época da escola. Dizer que era fã de Sandy e Júnior sempre gerava comentários e olhares que por muito tempo eu nem entendia… depois percebi e me fez ter vergonha de falar. Lembro até hoje de uma vez em que um amigo do meu pai perguntou que tipo de música eu gostava… e, para não falar Sandy e Júnior, falei… “gosto de pop”. Hahhaa… achei que soaria melhor, mas hoje lembrando, acho que fui pelo pior caminho . Felizmente tudo isso sempre me fez crescer em vários sentidos. O meu escape sempre foi tentar ser o melhor em tudo que fazia… independente do que fosse. Talvez inspirado pelo perfeccionismo da Sandy, eu sempre me dedicava para fazer tudo da melhor forma possível.. uma cobrança que, nem sempre fácil, me fez quem sou hoje. Tenho muito a agradecer a eles… quem sabe um dia ainda consiga fazer isso pessoalmente… Ansioso pelos próximos capítulos dessa história.

    • Rafael Leick
      2019-02-02 15:56

      Eu tenho esse sentimento há muito tempo de que muitos fãs LGBT deles passaram por isso é até que esse é o motivo de sempre terem tido tantos fãs LGBT. Mas que nunca ninguém disse nada sobre. Faz tempo que queria colocar essa história pra fora. Acho que o momento se apresentou.

  • Taufi Filho
    2019-02-02 19:56

    Posso chorar?
    Traduziu minha adolescência de fã

    • Rafael Leick
      2019-02-03 13:10

      Pode sim. Chorar não é “coisa de menina” nem “coisa de gayzinho”. Chorar à vontade. 🙂

  • Juju
    2019-02-03 00:07

    Sensacional Rafa. Show de texto. Bom ter pessoas que possam nos ajudar a passar por momentos dificeis em nossas vidas. Sandy e Junior nao fizeram parte de minha. Eu me identidicava com outros cantores e suas musicas me ajudaram a superar momentos dificies em minha vida tambem. Acredito que muitas vezes buscar comforto em pessoas famosas que tentam fazer o bem e Sao exploradas pela midia nos ensinam e nos apoiam muito mais que amigos e familiares proximos. Sucesso sempre e Torço para ti e Robson poderem encontrar com a duplas pessoalmente.

    • Rafael Leick
      2019-02-04 19:25

      Juju, brigadão 🙂
      Que delícia ler isso. Esse conforto foi bastante importante pra mim mesmo.
      Valeu pelo comentário e pela torcida! 😉 Beijos, saudade.

  • Marco Nascimento
    2019-02-03 00:34

    Eu também tive um caderno da Sandy e fui muito zuado por isso, mas o amor por ela (pela dupla) sempre foi maior que qualquer comentário. Até o dia que o amor por mim ficou maior ainda e os comentários já nem faziam algum efeito em mim.
    Parabéns pelo texto e por te sido tão transparente.

    • Rafael Leick
      2019-02-03 13:11

      Poxa, Marco, que bom ler isso. Saber que conseguimos restaurar nosso amor próprio e que a dupla te ajudou nesse processo. 🙂 brigado pelo comentário.

  • Renato França
    2019-02-04 11:23

    Por ser de interior, tudo isso foi mais intenso, porém, como um bom ariano, liguei o foda-se e TODO O MEU MATERIAL era Sandy e Júnior. Parabéns, Rafa. Apesar deles – os maus -, nós sobrevivemos e iremos curtir muito esse show/turnê #SJ30anos

    • Rafael Leick
      2019-02-04 19:18

      Ah que máximo! Valeu, Renato! 😉 Sobrevivemos e agora vivemos. 🙂 bjs

  • Gabriela Lima Pereira Medeiros
    2019-02-05 10:23

    Lindo texto, Rafa! Tenho até hoje o dvd que vc gravou escondido do Identidade 😀

    • Rafael Leick
      2019-02-05 16:14

      Brigado, Gabi! 🙂
      Mas que DVD é esse que não gravei nenhum não rs

  • Carla Boechat
    2019-02-07 09:17

    Rafa, amei saber mais da sua história e até da história da Sandy e do Junior Hehe você está fazendo um trabalho ótimo! ♥️♥️♥️

    • Rafael Leick
      2019-02-07 17:40

      Oi, Carlinha! Que saudade! 😉
      Fico feliz de saber que leu e que gostou. Muito obrigado pelo elogio. Vindo de você isso significa muito pra mim.
      Beijos!

  • Tathi
    2019-02-08 19:41

    Olá, tudo bem?
    Eu não conheco(ia) seu blog. Caí aqui por acaso, por causa de Sandy e Júnior. Queria dizer que me emocionei muito com seu relato, pois me identifiquei por inteiro. Apesar de não ter sofrido bullying por conta da sexualidade diretamente, eu sofri bullying por outros motivos e, concordo 100% quando vc diz que as crianças podem ser cruéis (e são).
    Hoje me vejo no papel de sua mãe: professora em um colégio nobre da zona sul e à espera da minha primeira filha. Sabe qual é a coisa que mais desejo como mãe? Que eu tenha muita sabedoria para ajudar a minha caso um dia ela se entenda homossexual. Eu não sei se um dia ela será ou não, mas eu sei que ela precisa ter muito claro que, caso seja homossexual, ela pode e deve confiar em mim, pois eu estarei aqui sempre para ela, para apoiá-la e enfrentar o mundo juntas.
    Tenho certeza que vc é o orgulho dos seus pais, da sua família e de quem te ama.
    Parabéns pelo homem e ser humano que estou vendo que é.
    Muita saúde e sucesso!

    • Rafael Leick
      2019-02-10 12:34

      Oi, Tathi. Que delícia de comentário. Obrigado por ele. Fico feliz de ler isso tudo. Só de você ter esse pensamento, sua filha já tem sorte de ter uma mãe como você. 🙂 Dê sempre todo suporte necessário e abertura pra ela falar sobre, caso um dia ela entender que nasceu assim. Muito, muito, muito obrigado! 😉

  • Mateus Carvalho
    2019-02-23 12:12

    Que texto lindo! Super me identifiquei com todo ele. Parabéns! E que venha os shows comemorativos de Sandy e Junior

    • Rafael Leick
      2019-02-25 19:28

      Valeu, Mateus! 😉 Bom saber que esse é o sentimento de muita gente. 🙂

  • Filipe
    2019-03-29 02:17

    É a primeira vez que entro nesse site, mas tive de comentar porque esse depoimento foi sensacional.
    Gostaria muito de ter lhe conhecido nessa época de colégio. Sou um ano mais novo (me formei em 2003) mas me identifiquei completamente.
    Me chama a atenção a parte que fala que seus colegas perceberam que você é gay antes de você próprio. Isso parece ser um padrão da época. Eu nem sequer sabia o que significava a palavra gay aos meus 8, 9 anos, mas era constantemente chamado disso pelos adoráveis colegas, além de ser agredido. Cheguei a perguntar para minha mãe o que significava e a mesma ficou muito brava ao saber que estavam me chamando assim. E é curioso porque os pais daquela época, numa situação dessas, ficavam bravo com os filhos. Meu deu bronca, disse que tinha de esconder do meu pai que “estava com fama de bicha”. Não a condeno por isso pois eram meados dos anos 90, muito se repetia de padrões sem questionar. Entendo o lado dela DA ÉPOCA, mesmo reconhecendo o erro. O triste é que a gente cresce crente que há algo de errado conosco, que nos diferencia dos demais. Queria muito conseguir ser como os outros garotos, que gostavam de futebol, que sabiam brigar, mas não levava o mínimo jeito.
    Sandy e Junior se manifestaram como ídolos na minha vida na época do lançamento do “Quatro Estações”. Eu já gostava antes, tinha alguns CDs, mas no fim de 1999 estava com 13 anos, eles lançaram esse CD com temática mais teen, gostei muito, passei prestar atenção, acompanhar e seguir.
    Troquei do colégio no ano 2000, fui para um colégio pequeno onde todos se conheciam, e lá tive uma postura que hoje enxergo bem como você falou: uma postura resistente. Era zombado por gostar de Sandy e Junior e admitir. Hoje em dia quando lembro disso, é curioso pois ao mesmo tempo que dá uma angústia, dá também uma satisfação por conta que estava resistindo ainda que nem soubesse o que é isso. Me identifiquei demais quando você disse que para seus parentes você era simplesmente um fã doido, mas ninguém para e se pergunta que há mais nisso do que só gostar das músicas. Havia mesmo! Era uma postura que queríamos ter. Um jeito de se impor ao mundo, de acreditar em algo. Cantavam sobre coisas que sentia.
    Em 2001 tive meu primeiro amor, um amigo que fiz na escola naquele ano. Eu já havia notado, assim como você, que me sentia (bem) mais atraído pelo Junior do que pela Sandy. Era uma questão complexa que eu ignorava, achava que ia passar, que era só ignorar que passaria ou que seria um segredo com o qual eu poderia viver pra sempre escondendo. Mas não tinha vivenciado ainda a experiência de me apaixonar por um outro garoto afetivamente. Sandy e Junior cantavam sobre o que eu sentia. Sobre o que imaginava. Aconteceu algo parecido com o que aconteceu com você: esse amigo percebeu que estava lidando com um gay (ainda que eu nunca tivesse sequer dito ou feito qualquer coisa, jogado ideia, tocado nele, nada nada) e se afastou para sempre.
    No ano seguinte troquei de colégio novamente e daí até o final da minha vida escolar eu escondi que gostava da dupla. E minha sexualidade também.
    Tua reflexão foi muito legal pois acho que nunca havia parado pra pensar no quanto para a Sandy e o Junior deve ter sido pesado a adolescência que tiveram. Nós vimos como crianças e adolescentes podem ser cruéis, e com certeza eles viram também. Quando o Junior esteve no Porchat disse que teve adolescência tardia, não pôde vivê-la na época que era pra ser adolescente, afinal, tinha exposição nacional, uma imagem a zelar. Identifiquei-me demais com isso pois também não vivi a adolescência dos meus 13 aos 18. Nesse tempo eu estava me escondendo, me censurando. Via o pessoal “normal” da escola irem para festas, baladas, vivendo coisa de adolescente, enquanto eu não vivia. Não conseguia fazer parte dos grupos, não conseguia chamar atenção das meninas, os garotos não me queriam na turma deles.
    Acabei, assim como o Junior, vivendo a adolescência mais tarde. Fiz muita, muita merda dos 19 anos pra frente, coisas que meus colegas de colégio viveram na adolescência plena. Com 19 já havia descoberto o Bocage, a Augusta, locais onde haviam outros garotos também querendo garotos, onde poderia ser melhor aceito. Quando era pra ser adolescente estava trancado no meu quarto ouvindo Sandy e Junior, assistindo VHS deles, era uma espécie de fuga ou resistência ou universo particular.
    Ano passado (2018), mais de década após o fim da dupla e quase 2 décadas após esses eventos todos, tive de passar a pegar diariamente um ônibus no qual sempre subia uma leva de adolescentes de um colégio. Fiquei muito surpreso com o que vi: garotos adolescentes “bibas” mesmo, sem medo de ser feliz, convivendo junto dos garotos dos esportes. Conversando alto sobre peguetes e todos misturados, mesclados, sem discriminar. Achei isso fantástico, todos os dias sorria internamente ao ver isso, agradecido pelos tempos terem mudado, por esses jovens gays de agora poderem se expressar e SE MISTURAR. Pelos adolescentes heteros se misturarem com os gays, coisa que no meu tempo era impossível de imaginar.
    Outro fator do presente que foi legal é que ano passado reencontrei uma pessoa dos meus tempos de colégio, uma pessoa que inclusive fazia bullying comigo. Hoje, com mais de 30 anos como eu, é uma outra pessoa. Nos tornamos amigos de sair juntos e conversar bastante. Num primeiro momento de reencontro não tive essa abertura, é incrível como os mecanismos de defesa voltaram. Tinha na cabeça ainda a mesma pessoa homofóbica com quem tive de conviver na adolescência. Mas o tempo passou. As ideias hoje são outras. Fiquei muito satisfeito de notar essa evolução. Gostaria de poder voltar a eu mesmo da adolescência e dizer que essas coisas aconteceriam. E para você adolescente também.
    Infelizmente há políticos no poder e youtubers conservadores que odeiam esse tipo de progresso. Se enojam mesmo. Gostariam que os velhos tempos voltassem, onde os gays ficassem trancados, amedrontados, assustados. Não vão conseguir. Porque é impossível parar o progresso. Vai ser difícil mas nós continuaremos.
    Caro Rafael, obrigado pelo espaço e pelo seu depoimento do qual me lembrarei por bastante tempo. Todas as felicidades para você!

    • Rafael Leick
      2019-03-29 04:00

      Oi, Filipe, tudo bom? Muito, muito, muito obrigado pelo seu comentário. Me emocionei lendo. É curioso ver como tantas experiências pessoais foram similares em vidas diferentes. Estranho pensar como nossa sociedade vivia tanto dentro de um padrão que situações como essa são parte da minha vida, da sua e de tantas outras pessoas. Obrigado por compartilhar sua história com todos aqui. Tomei a liberdade de ler seu relato no IGTV do Viaja Bi!, no Instagram, pra compartilhar essa história que me tocou. Espero que não se importe. Um beijo enorme pra você e espero que “Nossa História” sirva para revivermos a nossa história pessoal de forma mais positiva. Nos vemos no show! 😉

  • Isabelle Reis
    2020-01-07 16:30

    Li seu texto na época em que foi lançado, não me recordo ao certo como o encontrei. E reli agora novamente.
    É tocante e inspirador. A forma como vc se enxergou nas questões que também pareciam inerentes à ele.
    Aposto que te inspirou ainda mais a forma como Junior brilhou no palco da turnê, apesar de todas as críticas negativas que ele sofreu ao logo dos anos.
    Espero que você também consiga inspirar pessoas com a sua história e que encontre novos motivos para sempre ir em frente e buscar sua felicidade.
    Saiba que ganhou uma nova “seguidora”.

    • Rafael Leick
      2020-01-07 21:19

      Oi Isabelle. Que delícia ler seu comentário. Gratidão. Certamente o Junior me inspirou brilhando no palco mas não “apesar” e sim “por causa” das críticas. Me arrepiei. 🙂
      Fico muito feliz de saber que ganhei uma seguidora e espero um dia fazer jus a isso tudo que disse de mim. Espero te inspirar a viajar mais e mais. 😉
      Bjs

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