Naples Pride, um jeito diferente de celebrar o orgulho LGBT+
Quando você pensa em Parada LGBT+ (Pride Parades) ou em festivais do Orgulho (Pride Festivals) pode ser que já venha à sua cabeça imagens de um mundaréu de gente descamisada curtindo música eletrônica e bebendo muito em grandes cidades. Isso pode ser verdade em alguns destinos, mas e se eu te disse que há um jeito diferente de celebrar? A Naples Pride foi novidade pra mim e eu adorei.
Onde fica Naples?
Começando do começo, você pode não saber o que é a Naples Pride e nem onde fica Naples. Não, não é da italiana Nápoles que eu estou falando, mas sim da pequena cidade de pouco mais de 20 mil habitantes na costa oeste do estado da Flórida, nos EUA. É a sede do condado de Collier e 25% dos seus 42,5 km² estão cobertos por água.
As temperaturas médias por lá variam de 11ºC no inverno a 34ºC no verão. Eu peguei bastante calor e, como é úmido, pode ficar bastante abafado.🥵 Prepara o leque pra se abanar além de soltar uns VRAAAAH por aí!
Está a cerca de 2h de carro do aeroporto de Miami (de onde eu saí), 1h40 de Fort Lauderdale, quase 4h de Orlando e é uma das portas de entrada do Parque Nacional dos Everglades. A região turística, que engloba Naples, Marco Island e os Everglades, é chamada de Paradise Coast.
É pitica, mas é uma das cidades mais ricas dos Estados Unidos. Pra você ter uma ideia, foi a 6ª em renda per capita no país em 2012 e tem a 2ª maior proporção de milionários do país. Tá, meu bem? Mas faz sentido, já que é uma cidade com uma população, em geral, mais velha (42% tem 65 anos ou mais). Mas isso não espanta os mais novos, como eu descobri na Naples Pride.
Não espere uma super badalação o tempo todo. É uma cidade para ir e relaxar. Mas também não espere um lugar morto. Locais como o grill bar LGBT+ Bambusa tem uma pista de dança bastante agitada e o centro boêmio Mercato tem diversas opções de restaurantes e bares, como o Cávo, que tem uma Tea Party babadeira, que remonta o que eram a versão LGBT+ dos antigos bares speakeasy, ou seja, bares secretos num tempo onde a bebida alcoólica era proibida nos EUA.
Minha dica: vá durante a Naples Pride que o tempo vai estar bom, dá pra relaxar, fazer passeio de barco e ver golfinhos (coisa mais linda do mundo) nos Everglades, descansar na praia como a do Naples Beach Hotel, onde fiquei, mas curtir a animação nessas áreas boêmias, além de ter uma experiência de Pride bastante diferente e que, me arrisco dizer, você vai adorar. 😉
Como é a Naples Pride, o Festival do Orgulho LGBT+ de Naples
Naples não tem uma parada, tipo marcha mesmo, como conhecemos por aqui ou como rolam em diversas cidades pelo mundo. Mas em 1º de junho de 2019, um sábado de bastante calor, eles celebraram a 3ª edição do Naples Pride Fest, que é um festival do Orgulho LGBT+, nos moldes em que é comemorado em diversas cidades americanas e europeias.
EXPLICANDO A NAPLES PRIDE
O babado aconteceu no Cambier Park, um parque central da cidade, de 11h até 17h. Quando cheguei, logo cedo e antes de abrir, junto com a organização, achei que ia ser super flopado, porque nas primeiras horas não tinha muita gente, não. Nem quando o prefeito de Naples, Bill Barnett, discursou para abrir oficialmente o evento.
A organização prometia uma festa maior que nos anos anteriores, já que o número de tendas de comerciantes tinha aumentado para 90, além do aumento dos patrocinadores também, sendo um deles a vodka Absolut. E não é que cumpriram o que prometeram? Na parte da tarde, a Naples Pride encheu e eu A-MEI!
A média de público da Naples Pride é de 5 mil pessoas por ano. Parece pouco se comparar com São Paulo, que tem 3 milhões, mas não cometa o erro de comparar. São eventos diferentes com propostas bem diferentes e um não elimina a importância do outro. E lembre-se: é uma cidade de 20 mil habitantes, então proporcionalmente, o equivalente a um quarto da população está presente nessa data apoiando a comunidade. 😉
EVENTO COM OBJETIVO
A Naples Pride é super family-friendly, não no sentido restritivo mas inclusivo, e combina performers, músicos, muitas drag queens, comida e bebida e atividades para crianças, além das tendas de comerciantes, como já mencionei.
A ideia, com esse centro, é unir e empoderar a comunidade LGBT+ do condado e dar apoio de emergência aos que estejam em crise. O objetivo a longo prazo é de estabelecer o Naples Pride Center, um centro LGBT+ para oferecer um espaço seguro e acolhedor para educação, parcerias, serviços e eventos.
Pra isso, são feitos alguns eventos de angariação de fundos durante o ano e durante a própria Naples Pride, já que eles pedem uma doação simbólica de US$ 5 para entrar. Também entram para esse fundo as contribuições de patrocinadores, negócios locais e membros da comunidade. A Naples Pride é um sucesso e acontece todo ano por esforço do envolvimento e apoio de toda comunidade local.
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ATRAÇÕES DA 3ª EDIÇÃO DA NAPLES PRIDE
Se você se animou e vai se programar para o próximo ano, não ache que é uma festa sem nomes conhecidos. A atração principal da Naples Pride esse ano foi ninguém mais, ninguém menos que Eureka O’Hara, a autoproclamada Elephant Queen, das temporadas 9 e 10 de RuPaul’s Drag Race, que inclusive repostou um dos meus Instagram Stories.
TP Lords, de Miami, repetiu a participação do ano passado na Naples Pride e outra drag queen de destaque foi a Miss Fantasia Royale Gaga. Teve também uma drag babadeira bem alta, que não sei o nome, com um número em que troca de roupa umas 5 vezes durante sua apresentação. Fiquei impressionado mesmo vendo dos bastidores, ali de cima do palco. 😮
O DJ Kooshie comandou o som e a festa teve como mestre de cerimônias o animadíssimo MC Liquid. Sério, muito empolgado! 😛 Além dessas atrações, várias outras drags e músicos locais também participaram voluntariamente do evento.
A Naples Pride desse ano teve o tema “Nós somos Amor” (We Are Love) e, como não podia deixar de ser, tinha uma pequena exposição sobre os 50 anos de Stonewall, as rebeliões que deram origem ao movimento LGBT+ organizado que foram comemorados em Nova York no fim de junho com a World Pride.
O QUE ACHEI DA NAPLES PRIDE
Em 1 palavra: tocante. Em 3: tocante, sensacional e incrível. Eu, como paulistano, estou acostumado com nossa festa de rua de milhões de pessoas, mas ela acaba, muitas vezes, mascarando o real sentido de tudo isso existir.
Não, não estou criticando a Parada LGBT+ de São Paulo ou outras similares. Estou criticando nós mesmos, por nos deixarmos perder nossa essência. Parece papo cabeça, mas estar na Naples Pride faz a gente lembrar da essência de existir uma Pride. É uma cidade pequena, uma comunidade pequena, que faz as coisas sem grandes luxos, mas com muita verdade. O sentido de comunidade nunca foi tão forte pra mim, em nenhuma festa do Orgulho LGBT+ que já estive até hoje.
Talvez porque o esteriótipo do homem gay branco cis não é a maioria por lá. Claro, nós existimos e participamos da festa, mas a maioria estava com mais roupa que em outras manifestações LGBT+. Mas a galera é muito misturada. Tem muitas lésbica, muitas pessoas trans, muitos bissexuais declarados, muitas mães, muitos pais, muitas crianças, muitos velhinhos, muitos cachorros. Sério, foi lindo de ver todo mundo junto e misturado. 🙂
A Naples Pride não tem o apelo erotizado que muita gente associa aos eventos LGBT+ e eu amei isso. Não que eu seja puritano (longe de mim), mas acho legal existirem manifestações assim, porque as formas de celebrar o orgulho de cada um são diversas. E é necessário que existam espaços para os que se expressam orgulhosos de si de outras maneiras.
Tinha um grupo maravilhoso do meu lado pelo qual fiquei encantado. Era um grupo de mães lésbicas, solteiras ou em casal, com suas crianças, todas mega fofas curtindo como em qualquer outra festa infantil. Um menininho, com a camiseta escrito Fabulous atrás, estava super empolgado dançando, foi pro meio da galera em frente ao palco e se jogou horrores, virando a atração pra todo mundo que estava por ali.
Quando vi, estavam todos dançando junto com ele, imitando os passos dele e a mãe, toda orgulhosa, fotografando tudo.
Outro caso que me chamou a atenção foi de uma criança, que não sei se é trans ou se estava somente experimentando suas expressões de gênero em suas roupas variadas, vestindo uma roupa de fada. E importa a identidade de gênero delx? É uma criança! 😉 E, cara, isso tudo foi muito legal.
A Naples Pride me ensinou um outro jeito de celebrar o orgulho em comunidade. Eu amei e quero mais!
FOTOS 📷
O Viaja Bi! viajou a Naples a convite do órgão de turismo de Paradise Coast. Todas as opiniões expressas aqui são independentes e refletem a real experiência como turista.
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