Vamos começar pelo óbvio? Ninguém aguenta mais ficar isolado, certo? Depende! “Mas como assim, Rafa?”, você me pergunta. E eu te respondo que depende de onde você está quarentenando. Tive uma experiência de turismo de isolamento (já ouviu falar?) em uma pousada fofíssima em Monteiro Lobato, interior de São Paulo.

Desde o início da pandemia de Covid-19, estou isolado em casa com minha família, sem sair e (pasmem!) respeitando as orientações todas. Depois de 6 meses trancado, por conta do meu aniversário (25/9), resolvi me dar de presente um outro tipo de isolamento, mais perto da natureza e ainda mais longe de qualquer outra pessoa. Aluguei um carro, reservei um chalé numa pousada e lá fui eu, passar um período durante a semana trabalhando “do meio do mato”.

E essa foi a melhor experiência que eu podia ter tido. Meu corpo já estava pedindo ar puro, pé na grama e espaço não limitado. Vocês sentem isso também?

Essa é a terceira vez que me hospedo em pousadas da região nos últimos anos. Primeiro foi na pousada gay Quatro Estações, em Santo Antônio do Pinhal, e depois da pousada A Rosa e o Rei, em São Francisco Xavier.

Como recebi diversas perguntas no Instagram do Viaja Bi! sobre a pousada em Monteiro Lobato onde fiquei hospedado, vim contar tudo sobre essa experiência, como estão adaptados aos novos protocolos sanitários e se valeu a pena. 🙂

Pousada em Monteiro Lobato para turismo de isolamento

LOCALIZAÇÃO 📍

A pousada fica a cerca de 6km do centro de Monteiro Lobato, o que dá menos de 10min de carro. Para chegar até a pousada, recomendo ir de carro. Se não tiver, alugue o seu, como eu fiz. A cidade faz parte da microrregião de Campos do Jordão, no Vale do Paraíba, pertinho de outras cidades como Santo Antônio do Pinhal, São José dos Campos e não longe de São Francisco Xavier.

A partir de São Paulo, o trajeto de carro é de mais ou menos 2h30 e você tem alguns pedágios no caminho, todos com valor baixo. Acho que são 4, totalizando uns R$ 16, se não me engano (valores de out/20). Separando R$ 40 ida e volta, dá! Aproveite o trajeto para ir ouvindo alguns dos podcasts que indiquei. No meu, Casa na Árvore, vai ter inclusive um episódio sobre essa viagem.

Por ser mais afastada, a pousada era perfeita para o que eu queria: contato com a natureza e um turismo de isolamento social real! Chegando pela estrada, você já vê os chalés no topo do morro, então, imagine a vista (já falo dela). Saindo do asfalto, você sobe uma estradinha de terra e já é o primeiro portão do lado esquerdo.

INFRAESTRUTURA E ÁREA COMUM 🏨

Ao entrar, você estará no “nível principal”, vamos chamar assim, onde fica a recepção, que fica dentro de uma lojinha de conveniência própria. Recomendo comprar um doce de leite antes de ir embora, não é barato (R$ 25) mas é uma delícia. Do lado de fora dessa lojinha tem uma área aberta, mas coberta, com mesa de ping-pong e uns lugares para sentar e descansar. Ainda nesse nível, fica a casa dos donos da pousada (e dos 4 cachorros) e uma hortinha.

Dali, perto do portão, você pode subir um pequeno caminho de pedras até o nível mais alto, onde fica a piscina (que eu nem tinha me ligado que tinha quando reservei, sendo sincero) com espreguiçadeiras e “cachoeira” artificial, ao lado de um pergolado com mesas e cadeiras. Atrás desse pergolado, tem um espaço para fogueira de chão e a área de lazer com slack-line e parquinho com balança e um trepa-trepa escada horizontal.

Dali, a cerca já divide com a fazenda vizinha, mas me pareceu ter bastante privacidade mesmo assim. Teve só um porém que, às vezes, dava pra sentir os cheirinhos dos “saídos da vaca” ali na região da piscina, mas não tem o que fazer, né? É vizinho! 😛

A partir do “nível principal”, tem um caminho que desce para as acomodações, com um galinheiro do lado esquerdo. O primeiro nível é o dos chalés e, descendo mais um pouco, ficam as suítes.

QUARTOS/CHALÉS 😴

A pousada Capim Limão é bem intimista, então são somente 6 acomodações, sendo 3 chalés e 3 suítes. A diferença entre elas é que o chalé é um pouco maior, tem uma varanda aberta, a vaga na lateral do chalé e um espaço entre os chalés, o que é perfeito para quem está buscando turismo de isolamento. As suítes são bem similares, mas é uma “casa” só, como se fossem 3 chalés grudadinhos um no outro, com uma varanda única, dividida por paredes de madeira. As vagas para os carros fica atrás dessa “casa”. Mas é tão fofo quanto. Se os chalés estivessem cheios, ficaria na suíte numa boa.

Eu optei pelo chalé e, como fui durante a semana, eu era o único hóspede da pousada, o que me garantiu ainda mais liberdade e privacidade. Dentre os chalés, fiquei hospedado no do meio. Ele tem uma varanda aberta, mas coberta, onde fica uma mesinha com 2 cadeiras. Foi de lá que trabalhei a maior parte do tempo. Recentemente, foi instalado um toldo em cada chalé então, se chover, você pode baixá-lo para proteção.

Nessa varanda também dá para colocar a rede, que fica guardada dentro do chalé e oferece uma experiência mega relaxante. Eu peguei dias de muito calor, então, a partir de umas 14h, o sol já batia nos pés da mesa. Nesse momento, transportei a mesa para dentro do quarto e continuei trabalhando de lá até o sol se pôr, aí voltava lá pra fora, já mais fresquinho.

Vale lembrar que essa semana do fim de setembro, começo de outubro, foi uma das mais quentes ever. Por isso, fiz essas mudanças. De manhã e à noite, fica mais fresquinho, por ser campo, e pode até ficar friozinho. Pra mim, o melhor dos dois mundos: calor de dia, friozinho à noite.

A janela do chalé tem tela para impedir mosquitos de entrar, colada com velcro, o que te permite tirar, se quiser. A cortina é blackout para quem curte dormir no escurinho. Ao lado da cabeceira da cama, tem dois apoios na parede, um deles com luz de cabeceira e um saquinho com os amenities. No outro, um dispositivo de ligar na tomada para afastar mosquitos.

Na lateral da cama, um banco de madeira, que serve para apoio para nossas tranqueiras e para sentar dentro do quarto também. Lá ficam as toalhas de rosto e banho quando você chega. O quarto também é equipado com ventilador de teto regulável, frigobar equipado que gela bastante e uma TV com plano da SKY.

Seguindo o estilo rústico, o armário é aberto, são diversas prateleiras embutidas em cima de um baú, super funcional e útil para passar alguns dias. Lá tem mais cobertor, se precisar, além da rede para estender lá fora.

O banheiro tem secador, potinho para apoiar escova de dente, sabonete e tapete de borracha pendurado dentro do box de vidro, para quem quiser usar. A pia é de metal, bem bonitinha, tem uma plantinha em cima do apoio do papel higiênico (fofura nos detalhes) e o chuveiro é bem forte e esquenta bem.

CAFÉ DA MANHÃ E COMIDA ☕

O café da manhã, já incluso na diária, é servido no quarto. Ou melhor, na varanda. Você agenda o horário que quer para o dia seguinte, as meninas distribuem tudo na mesa e, depois que você termina, só colocar tudo na caixa plástica que elas deixam ali e elas retiram.

E é bem servido, viu… Não sei como é para duas pessoas mas, pra mim sozinho, foi bom demaaais! Todos os dias tive frutas, pães, frios, especial do dia, doces (incluindo geleia), bebidas, manteiga, requeijão e nescau.

Todos os dias, você recebe por WhatsApp um formulário simples do Google onde diz como será seu café no dia seguinte. O horário que você quer, se quer algo a mais ou a menos, se gostou muito ou não gostou de algo, se tem algum pedido especial, se tem algo que não precisa mandar… enfim, ali você regula o quanto virá no dia seguinte.

E eu comi bem, viu! Estava tudo muito gostoso e fresco. Cada dia um suco diferente, um chá diferente (ou pode ser café), um docinho diferente. Os pães vem um francês e um integral que elas preparam lá mesmo. Se você quiser, pode comprar para trazer para casa. Se não me engano sai R$ 10 e você tem que pedir no dia anterior.

Eles não tem por lá restaurante, mas nesse período tem talheres e louça no quarto para caso queira pedir delivery ou tenha levado algo de casa. Eu acabei levando algumas coisas. O que era de geladeira, o frigobar deu super conta, deixou bem gelado. Eles também sugerem restaurantes que estão aceitando comer no local.

ATENDIMENTO E TECNOLOGIA 💁

Gente, pousada tem um quê a mais no atendimento, se comparado a hotéis, né? Você se apega às pessoas. E não teve como ser diferente. Assim que fiz a reserva, o contato por WhatsApp já começou com dicas de como chegar e para a estadia, além de uma lista de restaurantes que atende delivery na região. Mas nada invasivo, viu?

Quando cheguei, fui recebido pelos 4 cachorros antes até dos humanos: Banjo e Einstein, os mais carinhosos; Strogonoff, o mais agitado e demanding, e Obama, o mais tímido e quietinho. Depois dessa recepção perfeita, conheci o casal dono da pousada, Camille e João. Logo depois, também conheci as filhas deles, a Larissa e a Brenda. Os quatro me receberam super bem, me senti super acolhido. No quarto, tinha uma plaquinha na parede com meu nome, me dando boas vindas. 🙂

As conversas foram ótimas e a despedida não foi fria como normalmente é. Fez um quentinho no coração.❤️ Sobre os doguíneos, eles ficam livres na propriedade. No dia que cheguei, me ajeitei e sentei na grama em frente ao chalé para ver a vista bem onde começa a descida para o nível das suítes. Deu 3min, o Einstein veio e sentou do meu lado pedindo carinho antes de se jogar no chão com a cabeça no meu colo. Logo em seguida, o Strogonoff veio pedir atenção também, do outro lado. Era um olho na vista e uma mão em cada cachorro. Que momento lindo!

Como a pousada não tem telefonia interna, o “ramal” é o WhatsApp. Um mais geral é a Camille que responde. O outro, para questões de limpeza e alimentação, fica com a Larissa.

Vale ressaltar que, mesmo sendo bastante isolada, a pousada Capim Limão é bem conectada. Antes da viagem, fui informado que a conexão “é rural, não é que nem a de fibra da cidade” mas, pelo menos no chalé, onde eu fiquei, tive poucos problemas. Em alguns momentos, ela dava uma oscilada, mas logo voltava. Eu não fiquei desconectado… a não ser quanto escolhi estar. 😉 Para celulares, há uma torre da Claro/Nextel visível da pousada, então o telefone também funcionou bem.

POUSADA GAY-FRIENDLY 🌈

Em um dia que passei o horário de almoço tomando sol na beira da piscina (porque eu mereço), a Camille e a Larissa estavam nessa área também, me contaram que estão se formando turismólogas.

Elas estão conversando com vizinhos para criar, em breve, roteiros saindo da pousada seguindo diferentes rotas de trilha pela região, passando por atrativos das propriedades vizinhas também. A ideia é cobrar uma taxa pelo guia, para garantir que ninguém se perca e todo mundo cuide da natureza, e que será dividida entre o guia e os moradores, incentivando a comunidade local. Eu dei a maior força, é o tipo de turismo que gosto, você vê para onde vai seu dinheiro.

E nesse papo com elas, surgiu naturalmente assuntos relacionados à comunidade LGBTQIA+ e já deu para perceber que os 4 eram super amigáveis e receptivos, inclusive o João, que tava fazendo manutenção ali perto e juntou para o papo em alguns momentos. Me senti mais à vontade ainda. Mas foi só no dia de ir embora que eu vi que, na janela da recepção, tinha um adesivo da bandeira do arco-íris em sinal de apoio, respeito e acolhimento. Se eu já tinha amado, amei mais ainda!

PROTOCOLOS COVID-19 😷

Por conta da pandemia, a pousada Capim Limão adaptou todo seu funcionamento afim de respeitar todos os novos protocolos sanitários, orientados pela OMS e também pelo órgão de turismo do município de Monteiro Lobato. As orientações principais gerais são enviadas para você antes mesmo da viagem.

Já na pousada, o uso de máscara é obrigatório em locais de circulação de pessoas. Na piscina, por exemplo, estávamos sem, mas tínhamos uma distância segura entre nós.

Antes de entrar na recepção, você tem a temperatura medida, passa por um tapete sanitizante e tem álcool gel para higienizar as mãos. As chaves do chalé são higienizadas previamente, embaladas em saquinhos plásticos individuais e deixadas em cima da mesa, de onde você pega direto para ninguém mais ter contato após a higienização. Para passar o cartão, há também álcool gel e até o dinheiro em papel é higienizado (prepare-se para deixar ele secar antes de colocar na carteira).

Os quartos são higienizados com ozônio e a limpeza só é feita se solicitado e com o quarto vazio por, pelo menos, duas horas. Eu não solicitei nos dias que fiquei lá e cuidei de tirar o lixo. Também tem, no quarto, orientações gerais sobre a Covid-19, orientações do município e um potinho pequeno de álcool gel.

Para alimentação, como comentei, eles estão deixando no quarto pratos, copos e talheres para caso queira pedir delivery ou tenha levado algo pra comer, além de enviarem uma lista de restaurantes por WhatsApp que também aceitam presencial. O café da manhã vem com cada item embalado individualmente com filme plástico. As meninas preparam a mesa sem contato conosco e, quando acabamos, deixamos tudo na caixa e elas passam e levam, para minimizar contato.

Todo atendimento é feito por WhatsApp o que, além de prático, é mais seguro por diminui as oportunidades de contato e contágio. Eu achei tudo bastante seguro, bem cuidado e deu para notar bastante atenção dessa equipe/família aos detalhes. Se você for, respeite todas as regras. Afinal, é a casa deles também. 😉

FOTOS 📷

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Pousada em Monteiro Lobato: Capim Limão

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Check-in: 14h
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