Dicas bafônicas de Havana, em Cuba
No primeiro dia de Havana, em Cuba, ouvimos na rádio de um destes “bafônicos” carros antigos o seguinte trecho: “Hasta que se seque el malecón (…) Ai ai ai ai (…) Hasta que se seque el malecón. Voy a seguir contando, produciendo, viendo la vida a color. Voy a seguir siendo Jacob el inmortal, hasta que se seque el malecón”. Começar um post sobre Havana, necessariamente implica em falar sobre o Malecón: “o maior bar do mundo”, segundo os próprios cubanos.
Trata-se da orla da capital cubana – com extensão de oito quilômetros, que se tornou o cartão-postal da cidade. No trajeto, é possível encontrar grupos de amigos de várias idades, cubanos fazendo esportes, casais, senhoritas e muitos boys-magia. Os cubanos ainda dizem que “não há ninguém que nunca tenha começado ou terminado um grande amor no Malecón”. O próprio cantor Jacob Forever, em sua música, fala sobre o término de um relacionamento feito no Malecón, algo como uma dor de cotovelo e um desabafo “no passa nada, yo seguiré; yo nunca me perdí; ahora fué que me encontré”.
Agora imaginem: um cantor cubano com o nome Jacob Forever, isso não é uma ambiguidade? Um cubano com nome artístico em inglês, nominado ao Billboard Chart em 2016, aclamado pela Sony Music como um “top celebrity”: uma visão bastante capitalista, não? Esta mesma ambiguidade pode se ver atualmente em Havana: uma cidade já tomada por turistas americanos, europeus e sul-americanos, mas ainda com traços bem fortes da Pós-Revolução.
O Museu da Revolução, aliás, é interessantíssimo e vale a visita. Ainda que de maneira bastante simplificada, o museu retrata a história, tendo Fidel Castro e Ernesto Che Guevara como os atores principais. O museu não podia deixar de retratar a relação controversa com os Estados Unidos, como pode ser vista na foto abaixo:
Ao conversar com alguns cubanos, a percepção que ficamos da ótica deles foi: “o regime foi necessário; talvez não totalmente da maneira como deveria, mas foi o grande responsável para Cuba seguir com índices de educação e saúde de países de primeiro mundo”.
À medida que conhecíamos a cidade caracterizada por uma pobreza extrema e ao mesmo tempo com praças que pareciam estar na Europa, não parávamos de relacionar esta ambiguidade com outras, também destacadas no museu da Revolução:
- Cuba possui uma expectativa de vida de 79 anos – o país com um dos melhores índices dentre todos os países do continente americano;
- Cuba conseguiu atingir ainda um bom índice de Desenvolvimento Humano (IDH);
- E claro, uma altíssima relação de médicos por habitante: a exportação destes profissionais, por sinal é um dos grandes contribuintes (~US$ 5bi/ano) para o PIB cubano.
Apesar disso e do boom turístico dos últimos anos, o país ainda é considerado fechado. E a internet? Em pouquíssimos pontos da cidade! Leite em caixinha? Raro, muito raro, a maioria em pó mesmo. Carros? Uma frota excessivamente antiga, a grande maioria da década de 50 – pré-revolução.
A viagem foi interessantíssima!
Fomos em 4 amigos e desbravamos a cidade: alugamos um apartamento pelo Airbnb no Centro de Havana bem na frente do Capitólio: bom, bonito e barato e sem dúvida somado à experiência de se viver por poucos dias em um apartamento cubano.
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Comemos muito bem também!
Algumas experiências não tão agradáveis, mais algumas que foram um luxo, como é o caso do restaurante La Guarida – restaurante que abriu suas portas em 1996 em um palacete glamuroso do século XX no meio de um bairro sujo e bagunçado.
Foi no restaurante, inclusive que se filmou o filme “Fresa y Chocolate”, uma co-produção cubano-mexicano-espanhola que, na Havana de 1979, conta a história de David, um estudante universitário comunista, que conhece Diego, um artista gay descontente com a atitude do regime de Fidel Castro para com a comunidade LGBT e com a censura cultural.
No filme, David tenta a todo o custo evitar qualquer convivência com Diego, porém, diversas circunstâncias levam a que se estabeleça entre os dois uma sólida amizade, que nem os diferentes conceitos de vida conseguem perturbar.
Vale a pena ver o filme antes de visitar o restaurante!
Outra recomendação de restaurante é o Havana 61 em Havana Vieja: especializado em comida internacional e cubana.
Havana Vieja, aliás é uma diversão a parte: uma mescla de vitrais, arquitetura interessante e roupas penduradas em varais.
E a vida gay? A história dos direitos LGBT (ou da falta deles?) na Cuba de Fidel Castro, começa logo após a revolução. Por volta de 1960, bastava frequentar bares e boates gays para ser catalogado e colocado sob suspeita. Boates se tornaram um ponto de encontro de opositores do regime e o governo teve a infelicidade de associar a orientação sexual com a visão política. Ao menor sinal de que o indivíduo apresentasse comportamento “contrarrevolucionário”, incluindo ser homossexual, o governo iniciava uma perseguição, podendo inclusive ser preso ao lado de espiões, estupradores, opositores e assassinos.
Neste cenário, existia inclusive uma tentativa do governo cubano de “reeducar os criminosos”, forçando os homossexuais a se “converterem” em heterossexuais. Mesmo com o fim da perseguição, em 1979, homossexuais continuavam sendo classificados como uma subclasse da sociedade cubana. Atualmente, a situação dos homossexuais no país continua longe do ideal, mas há locais para uma curtição gay, como é o caso do Cabaret Las Vegas e das paqueras ao longo do Malecón: vimos várias bis ao longo do muro. Aliás, os homens cubanos são um caso à parte: simpáticos e belos!
🐒Leia mais no Viagem Primata: Havana, Cuba e o imaginário coletivo
12 dicas sobre Cuba
1 – Melhor levar Euro a Dólar, os restaurantes aceitam e a moeda é mais valorizada.
2 – Airbnb é uma boa opção e muuuuuuuito mais barato e interessante que hotel.
3 – Vale a visita à residência de Ernst Hemingway, escritor americano que morou anos em Cuba. Dica: veja antes o filme gravado em sua casa: “Papa Hemingway: Una História Verdadeira”.
4 – Leia antes de viajar, a edição especial da revista Super Interessante sobre Fidel Castro.
5 – Fuja do “pega turista” show de salsa; além de caro, é fria!
6 – Não se programe para ter acesso ao WiFi: você não terá!
7 – Tire o visto para Cuba no Consulado, no Pacaembu em São Paulo. Há a opção de tirar no aeroporto da conexão, mas não vale o estresse.
8 – Negocie os táxis: os preços variam muito: lei da oferta e demanda.
9 – Tome um drink Cuba Libre! Tome uma cerveja local! Tome uma Coca-Cola local!
10 – Se for de táxi para Varadero, certifique-se da qualidade do carro antes. A negociação pode parecer excitante e “ganhadora”, mas lembre-se de que há algumas variáveis: preço, qualidade do carro e beleza do motorista (rs).
11 – Contrate um carro antigo para dar umas voltas pela cidade: a experiência é incrível!
12 – Se você gosta de praia, troque Varadero por Mykonos ou Fernando de Noronha.
🐒Leia mais no Viagem Primata: Trinidad, Cuba
11 Comentários
Alexandre marchesini
Adorei … o post .. Amo Cuba .. só não entendi pq trocar as praias … praias cubanas são maravilhosasssss e quem gosta de praia irá amar
Besos
Rafael Leick
Oi, Alexandre. Valeu pela dica. 😉
Acho que o Antonio só acha que, na comparação, as de Cuba devem perder pra Mykonos ou Fernando de Noronha. 🙂
besos!
Alexandre marchesini
Sim!!!! Praias Brasileiras e Gregas são belissimas .. encantadoras … eu creio que estão lado a lado com Cayo Largo .. Cayo Coco .. Cayo santa Maria e Cayo Guilhermo .. se a comparação foi com Varadeiro ok .. mas essas uau turquesometro .. grita rs .. estive 17 dias em Cuba pesquisando Lgbt
Grande bjo
Rafael Leick
“Turquesômetro” foi ótimo! hahahaha Jura? Ficou pesquisando? Fiquei curioso com os resultados dessa pesquisa. Quer compartilhar?
bjs
Alexandre marchesini
Claro!!!
Rafael Leick
Então pode me mandar email que tô curioso.
Fabian Luis Bittencour
Excelente post. Dicas muito preciosas para quem pretende conhecer Cuba. Sobre as praias cubanas… eu sugiro as não menos paradisíacas praias do norte e ilhas de Ubatuba/SP antes de embarcarem para Mikonos ou Noronha.
Rafael Leick
Valeu pela dica, Fabian. Acho que quem vai pra Cuba, talvez não esteja pensando em Noronha ou Mikonos, mas é bom fazer um esquenta em Ubatuba. 😉
Pousadas Praia do Rosa
Que legal
Jairo
Opa, tudo bem? Poderia indicar o Airbnb que vocês citaram no post, próximo ao capitólio? Irei sozinho, sugerem alugar um Studio Airbnb ou ficar em uma casa de m9radores? Quero me misturar com os habitantes e interagir durante a estada em Havana. Obrigado
Rafael Leick
Oi, Jairo. Tudo bem? Esta matéria foi escrita por colunistas, na época. Não sei te indicar qual é o Airbnb que eles ficaram. De qualquer modo, depois de tanto tempo, creio que é melhor fazer uma busca atualizada.
Abs