10 de fevereiro de 2018

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile

O Chile é um destino formidável, muito diverso, com opções pra todo mundo. Quem gosta de agito, pode se esbaldar em Santiago, quem aprecia um bom vinho, vale explorar a região do Vale do Colchágua. Pra quem curte praia, uma passada em Viña del Mar, mas se a pegada é explorar paisagens surreais, o Deserto do Atacama é parada obrigatória. Se a pegada é conhecer a neve ou esquiar, o Valle Nevado deve constar no roteiro. Mas Cajón del Maipo é um destino diferente de tudo isso, único, isolado e encantador.

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile - Foto Eduardo Gregori

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile – Foto Eduardo Gregori

Pra contar um pouco sobre esse destino (ainda um tanto selvagem), convidei o jornalista Eduardo Gregori, do blog Eu Por Aí e que, no fim do ano, explorou esse pedacinho de terras chilenas. Confere aí!

 

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile, por Eduardo Gregori

Olá, LGBTViajantes.

No final de 2017 decidi fazer algo diferente. Não, não copiei Luisa Marilac e me joguei numa piscina durante o verão europeu em Roqueta de Mar. Fui para o Chile de novo, porém, dessa vez, para o Cajón del Maipo, um destino ainda pouco conhecido dos brasileiros, bem aos pés da Cordilheira dos Andes e no meio do nada.

O Cajón fica a pouco mais de 80km de Santiago e se você gosta de uma ferveção, deixe para fritar na capital chilena, pois o destino é para apreciar de perto a natureza e se jogar em longas caminhadas, trilhas de mountain bike e banhos de água e barro termais.

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile - Foto Eduardo Gregori

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile – Foto Eduardo Gregori

Esqueça a conexão móvel com a internet. O único lugar para dar aquele close nas redes sociais é a rede wi-fi do lodge instalado na montanha. E se você gosta de caçar nos apps de, esqueça. O boy magia ou a gata garota mais próximas estarão a pelo menos 40km de distância.

Se a internet não funciona, não adianta se montar como Felicia, uma das drags do filme Priscilla – Rainha do Deserto, e procurar uma boate ou um barzinho beira de estrada. Não vai adiantar, o Cajón é para quem procura se desconectar inteiramente da cidade e facilidades tecnológicas.

Apesar de estar bem pertinho de Santiago, chegar até a região é babado. Se escolher se hospedar no único lodge aos pés do Cerro Morado, aí o trajeto fica mais confortável. O El Morado oferece transfer desde o aeroporto de Santiago. Outra opção é alugar um carro e se jogar pelas estradas. Mas tenha em mente que o caminho não é todos asfaltado, e na montanha, um modelo 4×4 faz toda a diferença. É preciso de potência para vencer aclives e escapar de atolamentos.

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile - Foto Eduardo Gregori

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile – Foto Eduardo Gregori

Não dirige? Então faça a caruda e prepare o polegar para pedir carona, ou “dedos”, com se diz por lá. Como não existe transporte público até o Cajón del Maipo, usar deste expediente é bem comum. Para quem vai na cara e na coragem, o jeito é pegar um ônibus de Santiago até San José de Maipo, cidadezinha na região metropolitana a pouco mais da metade do caminho e, de lá seguir de carona. Não se preocupe, pois não é uma tarefa difícil, principalmente porque no Cajón ficam campings e termas frequentados por moradores de Santiago, e também por abrigar uma das maiores reservas de água que abastece Santiago. Então, sempre há um carro ou caminhão indo pra lá, e muita gente simpática disposta a ajudar. Faça a simpática que você consegue.

O Cajón del Maipo fica a quase 4 mil metros de altitude, mas não é preciso ser a Biba Maravilha para vencer a montanha. Quem não gosta de se exercitar, pode simplesmente contemplar a natureza, acompanhado de uma boa comida e de bons vinhos chilenos, é claro. Mas essa opção limitará um pouco conhecer de perto o lugar. Visitar o Cajón significa deixar o corpinho em dia subindo morros, cavalgando por vales, fazendo mountain bike por morenas (amontoado de pedras e sedimentos arrastados morro abaixo por glaciares no processo de degelo) e se enfiando em piscinas de águas e barro termais.

Deixe a preguiça de lado, pois vale muito a pena. Imagine-se caminhando por horas em uma trilha na beira do abismo e, no meio do caminho se deparar com uma fonte de água potável cristalina que brota geladinha dos Andes? E depois de estragar a pedicure nas pedras e na terra batida, encontrar um riacho para se refrescar? Tirei as botas e mergulhei meus pés na água que desce da cordilheira. Agora entendo o alívio das meninas que vivem em cima de saltos altos e quando tiram, quase têm um orgasmo.

Cachorríneo descansando em Cajón del Maipo, no Chile - Foto Eduardo Gregori

Cachorríneo descansando em Cajón del Maipo, no Chile – Foto Eduardo Gregori

Relax e carão

Apesar da maratona física que o Cajón del Maipo exige, é possível também relaxar e, de quebra, dar um trato no carão. A termas de água e barro aquecidos pelo Vulcão San José são ricos em minerais como o gesso e o calcário. Então, é só se entrar na piscina natural, curtir e depois fazer a maluca rolando no barro. A pele agradece.

 

Tieta dos Andes

Lembra da cena da novela Tieta em que a “cabrita” levantava a canga e deixava ao sabor do vento na beira da praia? Confesso que me deu vontade de fazer o mesmo, só que na beira de um lago a mais de 3 mil metros de altitude. A represa El Yeso é um lugar lindo para se ver, apesar da falta total de infraestrutura. Não esqueça de levar água para se hidratar e, se der vontade de ir ao banheiro, nada de fazer a tímida. O jeito é aliviar observando a majestosa natureza em volta*. Um luxo!

Aliás, o que vale a vista a represa é justamente a beleza natural, principalmente quando o sol reflete seus raios sobre o espelho d’água em tons verde-esmeralda. Lembra que falei da cena da Tieta? Pois é, lá venta muito e, por isso, não deixe de levar um agasalho, e a temperatura cai muito no fim da tarde, mesmo no verão.

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile - Foto Eduardo Gregori

Cajón del Maipo, uma escapada natural no Chile – Foto Eduardo Gregori

 

Gastando o salto

O Cajón del Maipo é lugar para caminhar pencas. Sabe o dia que você anda que nem louca pelo shopping procurando aquela produção bafônica? É mais ou menos a mesma coisa. Substitua o corredor do shopping com piso plano e escadas rolantes por barrancos, morros, quebradas e vales. E o caminho? Todo trabalhado em pedras e terra que empoeram até alma, mas também de grama natural e menos desgastante.

A trilha andina leva, no mínimo 6h de caminhada. Apesar do esforço é, de longe, o melhor passeio, pois é possível avistar montanhas como o Cerro Cortaderas, Mesón e Cerro Morado, todos com neves eternas. O ápice é a geleira do Cerro Morado, com um lago gelado e uma visão bafônica da região. Ao longo da caminhada é possível ver de perto cavalos selvagens, gado, coelhos e o condor, a maior ave de rapina do mundo. Há muito mais para fazer no Cajón del Maipo, como o trekking na base do Cerro Rurillas, que passa perto de uma antiga mina de calcário e ainda uma trilha de mountain bike pelo Valle da Engorda.

Três dias são mais que suficientes para conhecer este lugar onde a natureza é absoluta. Evite o Cajón del Maipo no inverno, que é muito rigoroso na montanha. A falta de estrutura deixa tudo ainda mais difícil. Aproveite a estadia no país andino para se jogar em Santiago, Além dos muitos roteiros que a capital oferece, ainda é possível esticar a viagem a Viña del Mar e Valparaíso. Não esqueça dos tours pelas vinícolas na região metropolitana, entre elas a mais conhecida, a Concha y Toro. E mesmo se o turista não gosta de vinhos, os tours são interessantes, pois oferecem degustações de queijos e boas histórias sobre a vinicultura chilena. E de quebra dá para almoçar em algumas delas. Se jogue na gastronomia chilena. Prove o Lomo a lo pobre, o prato típico do Chile.

 

Onde ficar

Uma opção é ficar em pousadas em San José de Maipo. O problema é que a pequena cidade fica a uns 40km de distância. Se quiser ficar no meio da montanha, a única hospedagem é o Lodge El Morado, aberto há pouco menos de um ano. O lodge, de estilo montanhês, tem gastronomia latina e bons vinhos. O hóspede pode escolher entre quartos e cabanas. Enquanto os quartos ficam no mesmo prédio do lodge, as cabanas ficam em um anexo, com maior privacidade, e contam com uma minicozinha e até churrasqueira. O El Morado está finalizando seu spa e, em breve, oferecerá uma série de tratamentos de bem-estar e relaxamento.

Lodge El Morado, em Cajón del Maipo, Chile - Foto Eduardo Gregori

Lodge El Morado, em Cajón del Maipo, Chile – Foto Eduardo Gregori

 

SOBRE O AUTOR CONVIDADO
Eduardo Gregori - Eu Por AíEduardo Gregori
Viajante profissional e também por puro prazer, gosta de escrever sobre os lugares que visita e, em suas andanças, prefere escapar do senso comum e dos pontos turísticos manjados. Por 18 anos escreveu e editou reportagens de turismo para o jornal Correio Popular de Campinas. Desde 2000 escreve em blogs, sendo o mais recente o Eu Por Aí. Acompanhe no Facebook e Instagram.

 

*Nota do editor: Só não esqueça de não deixar papel sujo na natureza, ok? Recolha seu lixo!

 

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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