18 de março de 2016

O dia mais difícil da Trilha Inca (2/4) | Mochilão Peru #26

Hoje trago mais um relato do meu Mochilão no Peru, contando como foi o segundo dia, o dia mais difícil da Trilha Inca até Machu Picchu, o mais difícil dos 4. Como não pude postar de lá, escrevi tudo no meu caderninho e agora estou publicando o relato, espero que gostem.

O dia mais difícil da Trilha Inca: numa das paradas, deu pra ver lhamas de pertinho na natureza

O dia mais difícil da Trilha Inca: numa das paradas, deu pra ver lhamas de pertinho na natureza

 

MOCHILÃO NO PERU – DIA 26 – 10/3 – QUINTA

O dia mais difícil da Trilha Inca (dia 2 de 4)

Hoje realmente foi o dia mais difícil do mochilão. Às 5h15 da matina, eu e o Lin (Taiwan), acordamos com um dos porters (carregadores) “batendo na porta” da nossa barraca, oferecendo chá de coca, conforme prometido no dia anterior. Isso deu aquela aquecida inicial e força pra levantar, com garoa lá fora.

Arrumamos tudo e fomos tomar café-da-manhã. Leite em pó, achocolatado em pó, água quente pra dar a liga, omelete, pão, manteiga, geleia, café descafeinado em pó (o que deixou o pessoal viciado em café meio decepcionado). Fui comprar uma água de 1,5L que me custou S./ 8. 😮

O dia mais difícil da Trilha Inca: mapa mostra que no 2º dia passaríamos pela maior altitude

O dia mais difícil da Trilha Inca: mapa mostra que no 2º dia passaríamos pela maior altitude

Já sem garoa, saímos pra caminhada lá pelas 6h30. Como prometido ontem, esse foi o dia mais punk de todos. Subimos cerca de 1.200m em altitude até o ponto mais alto da Trilha Inca: Dead Woman’s Pass (Passagem da Mulher Morta).

Não sei porque esse nome, mas me identifiquei um pouco com a parte do “morto”. 😛

Brincadeira. Foi difícil a subida, mas paramos algumas vezes, incluindo o ponto de controle, dois espaços de descanso oficiais, onde vimos uma lhama bem de pertinho e pude encostar nela.

O dia mais difícil da Trilha Inca: a última parada onde é possível comprar bebidas e snacks

O dia mais difícil da Trilha Inca: a última parada onde é possível comprar bebidas e snacks

Vale ressaltar que numa das paradas “oficiais”, a última com mulheres vendendo água, Gatorade e snacks, uma barrinha de chocolate Snickers subiu mais que o dólar e fechou o dia com cotação a S./ 10!!! 😮 Fica difícil ser chocólatra nessa situação, passei!

Desse segundo ponto, eu e o Kaleb (Austrália), saímos em primeiro lugar. A gente foi revezando entre 1º e 2º por uma boa parte, descansando de vez em quando. A gente estava com um ritmo de caminhada/descanso parecido, então foi bom subirmos esse pedaço juntos. Vai dando ânimo de continuar, mas sem pressão.

O dia mais difícil da Trilha Inca: se foi pra mim, imagina pros carregadores, olha a mochila deles

O dia mais difícil da Trilha Inca: se foi pra mim, imagina pros carregadores, olha a mochila deles

Durante o dia, passamos por uma parte de floresta tropical fechada, com rios e cachoeiras pequenas e por vales imensos com vistas de tirarem o fôlego.

A partir de um determinado ponto, começou a chover de novo, então coloquei meu poncho lindo (ô…) e continuamos. O Joel (Inglaterra) e o Michael (Alemanha) passaram a gente e encontramos com eles no topo (Dead Woman’s Pass). Se não fosse pelo frio, vento e chuva, acho que teria aproveitado por mais tempo a vista lá dos 4.215m de altitude.

Fiz força pra tirar algumas fotos e logo comecei a descer pelo outro lado, dando sequência à jornada, atrás dos meninos e da Cristina (EUA). Saí na frente do Brent e da Olivia (Austrália), do Lin (Taiwan) e da Celine (China), ou seja, estava exatamente no meio do grupo, mas fiz minha descida sozinho. A primeira parte estava bem na frente e saí bem antes do restante também.

O dia mais difícil da Trilha Inca: chegando no Dead Woman's Pass, o ponto mais alto da trilha

O dia mais difícil da Trilha Inca: chegando no Dead Woman’s Pass, o ponto mais alto da trilha

Foram 2h mais ou menos sozinho e tava tudo lindo. Até que na última meia hora a chuva começou a apertar mais e mais. Até esse momento, minha meia e meus pés estavam sequinhos, mesmo com a chuva. A bota da Snake que tenho usado nas últimas viagens (incluindo as duas últimas ao Deserto do Atacama) é maravilhosa.

Peguei emprestada do meu pai, que a usa pra motocross, e ela não deixou entrar água mesmo estando molhada. Mas minha calça ficou encharcada quando a chuva apertou e começou a entrar água pela canela, meia, calcanhar e aí já era. Fiquei ensopado e caminhando no ploft-ploft.

O acampamento não chegava nunca! E eu comecei a ficar bem mal-humorado. Gosto de chuva pra dormir, não pra caminhar em altitude. 😛 Mas ao mesmo tempo, me dei conta que é uma experiência única! Eu nunca tinha acampado e esse é o maior trekking que eu já fiz até hoje. Talvez não o mais difícil pois considero o Vulcão Lascar, o Colca Canyon e o Montanhas Coloridas (Rainbow Mountains) mais exaustivos por conta da altitude, mas o mais longo. 4 dias e 3 noites não é mole não, mas tô adorando.

O dia mais difícil da Trilha Inca: depois de passar pela Dead Woman's Pass, a chuva começou a apertar

O dia mais difícil da Trilha Inca: depois de passar pela Dead Woman’s Pass, a chuva começou a apertar

Descendo, eu escorreguei umas três vezes, mas não caí por conta do bastão de caminhada. Mas pra poder segurar o bastõ, uma das mangas da minha malha ficou ensopada e a outra meio molhada, dentro do poncho. Em algumas partes da descida, cheia de pedras, parecia que eu estava dentro da corredeira de um rio. A água corria forte entre as pedras, mas eu já tava totalmente molhado mesmo, que diferença faria? Só tomei cuidado pra não cair.

Cheguei a uma bifurcação e os porters que estavam ali me indicaram qual caminho deveria seguir. Fui o segundo a chegar ao acampamento. A Cristina passou os meninos e eles, ao chegar por ali, passaram pela nossa barraca e chegaram bem depois de mim, que já estava me aquecendo com chá. Tomei 5 canecas, só pra ter a água quentinha aquecendo minha mão e sensualizando, porque passei a caneca nos joelhos, entre as pernas, nos braços. Super sensual, vocês tinham que ver!

Quando todo mundo já estava tentando se secar, chegou a comida e almoçamos juntos. Isso foi lá pelas 14h, eu cheguei pouco depois das 13h. De entrada, batata com um molho cremoso muito bom, depois uma sopa de macarrão também deliciosa e arroz, carne com batata e cenoura, salada de tomate, pepino e cebola e macarrão sem molho. Tava tudo muito bom. E a fome ajudou a deixar ainda mais. 😛

O dia mais difícil da Trilha Inca: a vista sempre compensava o esforço

O dia mais difícil da Trilha Inca: a vista sempre compensava o esforço

Tomamos ainda um chá de coca antes de ir pras nossas barracas. A essa altura, a chuva já tinha diminuído para uma garoa leve. Arrumamos nossos sacos de dormir e deitamos. Capotamos, na verdade. Isso era umas 15h30. Às 17h, acordei com meu pé congelando dentro da barraca (e dentro do saco de dormir). Como minha bota, meias e calça estavam ensopados, tive que dormir só de cueca e camiseta e um suéter, dentro do saco de dormir. Depois coloquei os dois pares de meia secos que eu tinha pra ver se esquentava o pé, mas não adiantou muito.

Acabei ficando acordado, escrevi um pouco e às 18h30, 19h, fomos jantar. Tomamos mais um chá e comemos uma sopa de morayia (batata desidratada) de entrada. De prato principal, macarrão, purê de batata e salpicão de frango. Ainda rolou um bolo de maçã (talvez) com cobertura de geleia de morango. E, pra fechar, mate de muña. Com tanto chá naquele dia, só mesmo com omeprazol pra eu dormir com o estômago tranquilo.

O dia mais difícil da Trilha Inca: pra todo canto que você olha, a natureza te presenteia

O dia mais difícil da Trilha Inca: pra todo canto que você olha, a natureza te presenteia

Pra amanhã, mudança de planos. Como o lugar do terceiro acampamento não vamos poder usar porque estava cheio, segundo o guia, tínhamos duas opções pra escolher:

  • A) Acordar às 7h, caminhar durante umas 6h (com paradas pro almoço, claro) e dormir num acampamento que fica antes que o normal e no dia dia seguinte acordar às 2h, caminhar no escuro até Machu Picchu, chegando lá às 9h30, já de dia, então se tivesse tudo limpo, não veríamos o nascer do sol.
  • B) Acordar às 4h, pra sair às 5h, caminhar de dia umas 12h, 13h até Águas Calientes, sendo que no caminho passamos por fora de Machu Picchu, mas dava pra ver a cidade ao entardecer. Na cidade, dormiríamos no 2º andar de um restaurante, com possibilidade (quem sabe) de banho quente e quem quisesse reservar hostel ou hotel em Águas Calientes, pagando à parte, também poderia. No dia seguinte, subiríamos até Machu Picchu pra fazer o tour e voltaríamos ao vilarejo pra pegar o trem.

Por unanimidade, escolhemos a opção B e isso me fez ainda mais feliz, porque como eu tenho um ingresso Machu Picchu + Waynapicchu pro dia 12 (depois de amanhã), que eu já tinha comprado antes de fechar a Trilha Inca e o ingresso da trilha também inclui a entrada em Machu Picchu, quanto passarmos pela citadela amanhã, o guia falou que eu e a Cristina vamos poder entrar amanhã com o ingresso da Trilha Inca enquanto o pessoal continua descendo para o vilarejo e no dia seguinte de novo, com todo mundo, usando o outro ingresso! \o/ Esse é o ânimo que eu precisava pra amanhã!

O dia mais difícil da Trilha Inca: no totem da Dead Woman's Pass, o ponto mais alto da trilha

O dia mais difícil da Trilha Inca: no totem da Dead Woman’s Pass, o ponto mais alto da trilha

Já escovei os dentes e fui fazer o número 2 antes de dormir. A privada foi uma experiência única! No chão, dois espaços pra colocar os pés, você fica de cócoras e manda ver ali mesmo. E se segura na parede de pedras pra não cair de bunda na maçaroca! :p Digno, né? E você pagou pra estar ali. 🙂

De volta à barraca, o Lin escreveu meu nome em mandarim pra mim enquanto eu escrevia esse relato no meu caderno e eu tentei copiar. Meio que um fiasco. :p Mas tá valendo. Já sou letrado em mandarim! Só que não.

Agora, bora dormir que já são quase 21h e temos que acordar às 4h. Vou pro meu saco de dormir com sapos coaxando lá fora e chuva caindo na barraca.

Até mais, primatas!

PS: Fiz o passeio com desconto pela agência Viajes Cusco.

 

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Sobre Rafael Leick

Rafael Leick

Criador dos projetos Viaja Bi!, Viagem Primata e ExploraSampa, host do podcast Casa na Árvore e colunista do UOL. Foi Diretor de Turismo da Câmara LGBT do Brasil. Escreve sobre viagem e turismo desde 2009. Comunicólogo, publicitário, criador de conteúdo e palestrante internacional, morou em Londres e São Paulo e já conheceu 30 países. É pai do Lupin, um golden dog. Todos os posts do Rafael.

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9 Comentários

  • ANNA PAULA MARTINELLI
    2016-03-23 16:28

    É impressão minha ou você tá mais magro?

    Xoxo

  • Alluan Lucas
    2016-03-25 22:34

    Fala. Rafael!

    Mês que vem tô começando meu mochilão, e pelo roteiro, passaremos antes em Machu Pichu e depois e Arequipa.
    Queria saber se vai ser muito decepcionante fazer o trekking no Canion del Colca, depois de ter ido a Machu Pichu, ou se vale a pena mesmo?

    Abraços!

    • Rafael Leick
      2016-03-26 00:37

      Oi, Alluan. Brigado pelo comentário.
      Cara, uma das últimas coisas que você pode chamar o trekking no Cânion del Colca é de decepcionante. São vibrações totalmente diferentes. Se eu não tivesse feito a Trilha Inca, eu diria que o Cânion mexeu mais comigo que Machu Picchu. Então vale muito a pena sim. Eu recomendo o trekking de 2 dias. 1 dia é muito pouco e 3 dias é extensão do que se pode fazer em 2 dias. É puxado mas pra mim é o ideal.
      Te espero aqui na volta do mochilão pra me contar da sua experiência. E se precisar de mais helps antes da viagem, mande ae ok?
      Bom mochilão!

      • Alluan Lucas
        2016-03-26 13:27

        Que bom, Rafael!!
        Vamos fazer o de 2 dias mesmo.
        Pode deixar que voltarei com mais dúvidas. 😉

        Obrigadão!!

  • Ana Dulce
    2016-03-27 09:41

    Oi Rafael,

    tudo bom?

    Pergunta, essa trilha que você escolheu foi a inca clássica? Não a jungle, e nem a salkantay, né?

    E na tinha não foi exigida a reserva prévia? Aquela que marca pelo site do governo.

    Uma pergunta mais…sobre waynapicchu, vc foi em outro dia?

    Obrigada desde já!

    • Rafael Leick
      2016-03-27 14:29

      Oi, Ana. Tudo bem e com você?
      Eu fiz a Trilha Inca clássica mesmo. Essa realmente precisa de uma reserva mais antecipada. A procura é alta e os espaços limitados. Não tinham mais espaços quando cheguei em Cusco mas acho que houveram desistências porque abriu essa vaga. Pelo site do governo o que você compra é a entrada de Machu Picchu e Waynapicchu. Eu já tinha comprado quando fechei a Trilha Inca. Mas a Trilha Inca já inclui a entrada em Machu Picchu. Então acabei pagando duas vezes a entrada. Mas como houve uma mudança na rota da Trilha Inca por lotação de acampamento, acabamos passando por Machu Picchu 2 vezes. O pessoal passou direto mas como eu tinha essa entrada a mais, entrei 2x. Na segunda usei o que eu já tinha comprado, com Waynapicchu porque tem dia e horário marcados.
      Espero ter ajudado.
      Bjs

  • […] nos dedões dos pés como é descer. Ainda mais se forem degraus bem íngremes. Ou ainda como ontem, na […]

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