City tour em Cusco, a base do Império Inca | Mochilão Peru #22
Hoje o Mochilão no Peru teve mudança de hotel e city tour em Cusco.
MOCHILÃO NO PERU – DIA 22 – 6/3 – DOMINGO
City tour em Cusco, a base do Império Inca
Acordei hoje por volta das 7h30, 8h porque o check-out do Sonesta Posada del Inca Hotel era às 9h. Desci pra não perder de novo o café-da-manhã e aproveitei pra tirar algumas fotos do hotel.
O café era bem servido, com 3 tipos de frutas, 2 de iogurtes, 3 de sucos, 4 de pães, 3 de geleias, manteiga, café, leite quente, sachês de chá, tomate, queijo branco e mais coisas gostosas que não vou lembrar.
Arrumei meu mochilão e desci pra fazer o check-out e caminhei uns 10 ou 15min até o novo hotel. Não mudei por nenhum problema, não. É que a Viajes Pacífico, que está me apoiando na minha estadia na cidade, me deu diárias em dois hotéis diferentes pra que eu pudesse conhecer. E depois ainda terei alguns dias que estou por minha conta. Aí vou pra hostel, porque né? Minha vida de príncipe acaba daqui a pouco. 😛
O segundo hotel é o Hotel Los Portales, que fica um tiquinho mais longe da Plaza de Armas, mas é 10min andando. Beeeem de boa! E eu amei esse hotel, quero morar aqui. 😛 Ele tem uma estrela a menos que o outro, é 3 estrelas, mas o serviço é de primeira, ainda melhor.
Como meu check-in era um pouco mais tarde, me deixaram esperando um pouco no saguão lindíssimo tomando um mate de muña, um chá típico do Peru pra altas atitudes que é bem bom e um funcionário veio me dar as boas vindas, com um mapa da cidade e me explicou as melhores coisas pra se fazer por aqui, onde é legal comer e tudo mais.
Claro que ele foi pelo padrão do hotel, não pelo meu, mas ainda assim, não eram preços exorbitantes. Ele falou por exemplo, de um lugar chamado Pachapapa, que tem pratos gostosos e típicos por cerca de S./ 30, S./ 35. É caro pro meu padrão, mas ainda é OK, tem outros bem mais caros.
Antes das 11h, hora do check-in, já pude entrar e fiquei babando no quarto. Lindão. E o banheiro ainda mais. O armário quando você abre, acende uma luz dentro dele pra facilitar a vida. A cama é gostosa, tem várias opções de iluminação, mesclando os 3 abajures, mais a iluminação geral, que é mais baixa. Só achei duas coisas ruins: não tem tomada do lado da cabeceira da cama e o WiFi não pega direito no quarto. 🙁
Morguei um pouco, respondi uns e-mails, fui até a Plaza de Armas procurar algum lugar pra comer rapidão antes do city tour em Cusco que a Viajes Pacífico me ofereceu. Quando você passa na frente dos restaurantes, alguém já te aborda com o menu. Passei em um que parecia legal e com preço razoável, S./ 25. Como eu tava com pressa, não queria arriscar um mais barato que demorasse mais, como o que fui com o Vince, a Jill e a Sophie outro dia (menu por S./ 15). E como o cara me garantiu que não demoraria, entrei.
Fiz meu pedido, de uma mesa que ficava num balcão com vista pra Plaza de Armas, lindona. Mas 10min se passaram e nem a entrada veio, só a limonada. Perguntei pro garçom e ele falou que demoraria mais uns 15min. Pedi pra cancelar e fui pro McDonald’s mesmo. Me julguem, mas não tinha tempo pra esperar.
No Mc sentei do lado de dois brasileiros que, se não me falha a memória, chamavam Rodrigo e Talita, que também tinham acabado de se conhecer. Papeamos um pouco sobre os planos de viagem e saí correndo pro tour, que já tava atrasado.
Cheguei na agência, saímos com a van e no caminho pegamos duas brasileiras, três colombianos e uma argentina. Nosso roteiro começou pelo Mercado San Pedro, o mercado municipal que vende para os hotéis e restaurantes de Cusco. Isso, segundo o guia Hernan, faz com que o mercado tenha um padrão de higiene maior que os demais do país, já que o estômago dos estrangeiros funcionam diferente dos andinos, já que muitos cresceram comendo a batata ainda com terra.
Mas ele recomendou que não comêssemos por lá, porque as comidas não são preparadas da mesma forma que nos restaurantes e hotéis, que só compram os ingredientes lá. Pena que não visitei com mais tempo ainda, porque queria me perder um pouco nele, experimentar uma coisa ou outra e observar com mais tempo.
Vimos o milho preto, com que se prepara a bebida tradicional peruana chicha morada e também pedaços de boi que nós não comemos, mas eles comem. Eles tem, por exemplo, caldo de cabeça, comendo língua, orelha, nariz, olhos e tudo mais. Só os dentes escapam. É meio nojento, mas interessante de ver. Mas fique calmo, que nos restaurantes eles não servem essas partes não.
Mal deu tempo de tirar foto da praça em frente ao mercado e das duas igrejas ali perto e já partimos pro segundo destino, o Mirante San Cristóbal. No caminho, passamos pela praça Kusipata, que fica pertinho do Sonesta Posada del Inca Hotel e que o nome tem um significado de festa em quechua. O Hernan falou que em Cusco, todo dia é dia de festa. E ele falou isso logo depois de passarmos por uma banda tocando animadamente numa outra praça.
Chegando no Mirante, ele contou um pouco da história dos Incas, da colonização espanhola, do quechua e do mapa da cidade. Respondendo minha pergunta, ele falou que Cusco vem do quechua Qosqo (o que garante a escrita com S e não como Cuzco), que significa centro de governo. Ou seja, a cidade era o ponto político mais importante do Império Inca.
No mapa, ele mostrou os limites da cidade na época dos Incas e eles formavam um puma. E, de acordo com a trilogia Inca, o céu e o divino eram representados pelo condor, o submundo dos mortos representado pela serpente e o mundo terreno pelo puma. E as ruas e limites realmente formavam o desenho. Impressionante! O Hernan também mostrou ali um dos poucos muros incas que os espanhóis não destruíram e, ao longe, a cidade moderna, que tem prédios que não podem ser construídos no centro velho.
Ele também comentou sobre a bandeira da cidade, que tem as cores do arco-íris e é confundida por muita gente com a bandeira do movimento LGBT+. A bandeira de Cusco, ou bandeira oficial de Tahuantinsuyo, é um pouco diferente. Ela tem 7 cores, em vez das 6 da bandeira gay, e de acordo com o guia, só ela começa em cima com o vermelho. Mas acho que ele não conhece muito sobre o movimento LGBT+. Como o blog A Mochila e o Mundo mostrou nesse post, a diferença é um tom de azul faltando na versão LGBT+ da bandeira, que parece ter sido criada, por coincidência, na mesma época da cusquenha.
Perguntei se a população era muito católica e se se incomodavam com a confusão. O Hernan falou que sim, mas que ainda mantinham muitas tradições andinas em sua cultura. Mas ao responder sobre o incômodo, ele mesmo pareceu bastante incomodado. Disse que a população se incomoda um pouco, mas “fazer o que? não tem nada que se possa fazer pra mudar isso”, mas no seu tom me pareceu que o incômodo ia além da simples semelhança que pode causar confusão. Pode ter sido impressão minha e espero que tenha sido, mas aí fui eu que fiquei um pouco incomodado.
De lá, fomos para o Templo Qorikancha. Qori, em quechua, significa ouro e Kancha, espaço fechado. Por isso, é também conhecido como Templo Dourado. Quando foi construído pelos incas, que já tinham o domínio sobre o manejo de metais, o templo era todo recoberto em ouro e tinha em sua principal área, uma homenagem ao Sol.
Os metais, aliás, não tinham valor material pra eles, e sim, místico. O ouro trazia a cor do Sol. A prata a cor da Lua. Então ambos eram tidos como símbolo de proteção. É interessante ver também que na cultura quechua (ou Inca) havia sempre essa dualidade do feminino (Lua) e do masculino (Sol) caminhando sempre juntos.
Ao chegar no templo, descobri que eu teria que pagar um boleto de entrada, que não é o mesmo que eu sabia que teria que pagar pro Vale Sagrado dos Incas amanhã e que vale pra outros passeios. Foi meio desagradável não saber que teria que pagar, mas esse custava S./ 10 e me pareceu justo pra ver algumas paredes incas de perto. Mas como o Hernan me adiantou que teria que também pagar a entrada da Catedral de Cusco por S./ 25, esse eu avisei que não iria fazer. Não costumo nem entrar muito em igrejas quando viajo, ainda mais pagando, sem saber antecipadamente e um valor alto. Desculpa, Espanha, mas prefiro ver as coisas incas que vocês não destruíram por aqui.
Apesar da passagem relâmpago pelo Templo, deu pra conhecer e entender um pouco sobre a arquitetura Inca e a invasão espanhola. Essa é a parte boa de estar com um guia, porque ele pode te passar a história que está além daquele monte de pedra bonita.
As pedras angulares e paredes inclinadas da arquitetura Inca eram antissísmicas, ou seja, à prova de terremotos. E isso ficou claro nesse templo, que a colônia espanhola tentou construir por cima. Em 1950, rolou um terremoto e tudo desabou. Tudo que os colonizadores religiosos construíram, porque as paredes incas continuavam lá, intactas. E é por isso que os andinos gostam dos terremotos. Ele muda as coisas.
Os espanhóis também levaram todo o ouro do templo, deixando somente as pedras. Fofos, né? “/
Mas enfim, já que estamos falando em templo, bora pra mais uma palavra em quechua? Huaca significa templo sagrado. Isso te lembra alguma coisa que vi lá em Lima? Lembra do templo Huaca Pucllana, que visitei no começo desse meu mochilão no Peru? Volta lá pra reler. 🙂
Mas voltando ao Templo Qorikancha, ele era não só um espaço sagrado, mas também de estudo de astrologia e outros conhecimentos. Os formatos e posições de algumas janelas e relevos, permitiam a observação do céu e o reconhecimento dos solstícios, equinócios e até a construção de um relógio solar. Maluco, né?
De lá, fomos pro San Blas, o bairro dos artistas. Lá pudemos ver que os incas já tinham conhecimento de canalização de água das montanhas e que, mais pra frente na História, essa canalização levou à construção de uma fonte de água pura da montanha ali no bairro, perto inclusive do restaurante que me indicaram mais cedo, o Pachapapa.
Na Igreja San Blas podemos ver também uma cruz do lado de fora. Isso porque só os nobres podiam entrar no templo. O povo ficava do lado de fora mesmo.
É também nesse bairro que fica a Pedra dos 12 Ângulos, que tem realmente 12 ângulos, representando os meses do ano, mas sem estar em círculo ou perfeita. Ela fica numa viela cheia de artistas de rua e lojas de souvenir.
Dali descemos a pé até a Plaza de Armas de novo, onde fica a Catedral de Cusco. No caminho, algumas agências vendem retiros de Ayahuasca, a planta medicinal usada pelos xamãs para conhecimento e contato aberto com a natureza. Mas ontem o Raul, guia do trekking das Montanhas Coloridas (Rainbow Mountains), comentou que esses xamãs não são reais. Os xamãs são escolhidos naturalmente. Muitos sobrevivendo a um raio, como aconteceu com o avô dele. Eu tava antes pensando em fazer uma roda de Ayahuasca por aqui, mas achei melhor não. Muito pega-turista pra minha opinião.
Chegando na Catedral, o Hernan explicou que a Plaza de Armas era um lugar sagrado de celebração dos incas. Na verdade, o Inca é um só, é o líder, filho do Sol. Abaixo dele, na pirâmide social ficam os nobres (doutores, xamãs, astrólogos) e depois vem o povão mesmo.
Ao agradecer, o Inca olhava pra cima, pro seu pai, o Sol, e era olhado de baixo pela população. Depois disso, eles iam pra praça Kusipata, ali do lado, pra celebrar e festejar. Mas as festas acabavam junto com os raios de Sol e não como é hoje em dia, com os raios renascendo no céu.
Dali me despedi deles porque entrariam na Catedral e eu não queria pagar S./ 25 pra ver uma igreja. Mas antes disso e depois da explicação de como mais uma vez os religiosos demoliram tudo que era inca, construindo seus vários templos sobre as ruínas, incluindo o principal ponto de culto inca, perguntei ao Hernan como se dizia “filhos da puta” em quechua. Ele riu, mas disse que não tem tradução. Sorte dos espanhóis religiosos daquela época. 😉
Sentei um pouco na Plaza de Armas, fiquei observando o movimento e aguentei um pouco de papo de dois brasileiros estúpidos tendo conversas bizarras ao meu lado. Quando já não aguentava mais, levantei, fui ao mercado comprar umas coisas e vim pro hotel, parando no caminho pra ver artesanato, comer uma empanada e ver os preços da massagem que talvez eu faça amanhã. S./ 30 por 1h me parece bacana.
Já de volta ao Hotel Los Portales, escrevo esse post comendo uva e tomando uma Cusqueña, a cerveja local, bem saborosa. Perguntei sobre bons lugares pra massagem na recepção e eles me ofereceram até uma mulher pra subir no meu quarto pra fazer, de um dos lugares que ele ligou, por S./ 90. Preferi deixar pra amanhã. 🙂
Daqui a pouco talvez dê um pulo na Plaza de Armas de novo, pra comer e/ou beber algo, e volto pra dormir porque amanhã tem Vale Sagrado dos Incas o dia todo, então segura coração Primata que vem mais Inca por aí!
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[Post originalmente publicado em 06/03/2016 no Viagem Primata e migrado por seu autor para o Viaja Bi! em 25/11/2018]
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